012.

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( 012. prisão )

' MARJORIE HILL'S POV '


LEVAR UM TIRO DEFINITIVAMENTE ESTAVA ENTRE as piores dores que eu já havia sentido - fisicamente falando. No início, enquanto eu corria por entre a mata, até chegarmos à loja de conveniência, não havia dor. A adrenalina tornava a ferida apenas um incômodo. Mas, assim que me joguei naquele chão e meu sangue enfriou, parecia que eu iria morrer.

Agora, enquanto eu me esforçava para conseguir andar e acompanhar meu grupo para dentro da floresta mais uma vez, eu quase tive certeza de que iria morrer. O sangue não parava de escorrer, me deixando mais pálida do que o normal. A compressa que Dora havia feito quase uma hora atrás, parecia não dar mais conta.

- Como pode um tiro na coxa doer tanto assim? - perguntei, uma careta se formando em meu rosto. Com Pandora de um lado e Jackson do outro, eu podia chegar mais longe. - Tipo, não existem lugares piores para se levar um tiro? Morrer por um tiro na coxa parece meio... vergonhoso.

- Em primeiro lugar: tiro é tiro. Não acho que exista esse lance de "lugares piores", doeria de qualquer forma - Dora respondeu, dividindo seus olhos entre a estrada e eu. - E em segundo lugar: você não vai morrer. Estamos... quase lá.

Franzi o cenho.

- Quase lá onde, exatamente?

- Lá - foi a vez de Michonne responder. Atrás da última árvore que nos levava à uma "estrada", bem ao longe, pudemos vislumbrar nosso destino.

Ou não.

Mas naquele momento, era nossa única esperança.

A minha única esperança.

Um presídio gigante cobria todo um terreno. Gigante mesmo. Cercado e aparentemente, limpo por dentro. Quando vi um homem armado, andando de um lado para o outro dentro do lugar grande, agindo como quem protegia os arredores, pude entender o porque.

- Você consegue levá-la sozinha? - Jack questionou à Dora, que assentiu depressa. - Nós vamos tentar limpar o caminho até acharmos a entrada.

Continuei olhando adiante. Estávamos prestes a sair do matagal, tecnicamente seguro, para aquela "estrada" até uma possível entrada da prisão. O único problema, era que errantes zanzavam por todos os lados, impedindo que nosso trajeto até lá pudesse ser rápido.

Isso e é claro, o buraco na minha coxa.

- Eu levo isso - eu disse, pegando a sexta com as fórmulas de leite das mãos de Michonne. - Fiquem de boa, eu estou legal. Dora precisará só me dar apoio na perna machucada, a outra eu consigo manter o peso - tentei soar convincente.

Melissa me olhou desconfiada, antes de assentir junto aos outros. Os três mais velhos então se prepararam, armados e posicionados. Pandora me encarou, ajeitando meu braço ao redor de seu pescoço. Seus olhos claros me perguntavam se eu estava pronta.

Eu não estava. Doía. Sangrava. E meus olhos podiam jurar que estrelas brilhavam no céu - e levando em consideração o sol escaldante que ainda era o protagonista lá em cima, eu sabia que aquilo não era um bom sinal.

Mas eu assenti. Não podia atrapalha-los. Eu conseguiria.

Mantendo minha autoconfiança, começamos a andar. Jack, Mich e Mel limpavam o caminho, cada um com sua especialidade nas mãos. Cabeças rolaram e tentávamos nos desviar dos corpos caídos. Não demorou muito para estarmos próximos as grades, me dando certo alívio ao jogar a sexta no chão e colocar a mão cansada no arame, buscando por um outro apoio.

Pandora pareceu perceber que só seu corpo não me ajudaria a ficar em pé, puxando Melissa - a mais próxima de nós - pela camisa. A cacheada se virou de imediato, parando em meu outro lado como um relâmpago, pronta para me sustentar.

O homem, antes de guarda, agora seguia correndo em nossa direção. Ao seu encalce, um garoto de chapéu de cowboy corria na mesma velocidade, os dois se aproximando do meu grupo. Armados, eles ainda sim pareciam nos encarar com desconfiança.

- Parece que a cada um morto, mais três surgem - Michonne resmungou.

- Precisamos ajudá-los! - a outra voz era desconhecia para mim. Entretanto, o som de um tiro cortando o ar me levou de volta ao garoto do chapéu, que tinha sua arma mirada em direção ao zumbi caído bem ao lado de Dora, que deu um pulo pequeno devido ao susto.

Estávamos cercados de mortos-vivos. Se não saíssemos dali, provavelmente morreríamos. E quando minhas visitam decidiram escurecer, eu apostei que iria morrer de qualquer forma.

(+)

FLASHBACK ON

- Eu tô com sono - Melissa reclamava. Seus passos agora eram lentos, devido ao cansaço nítido.

Andávamos faziam horas. Já estávamos em Atlanta e a situação lá não parecia nem um pouco melhor. Com as ruas desertas, pudemos sacar que não tinha ninguém para ajudar. Ninguém parecia sequer ter sobrevivido para isso - além de nós.

- Ali - apontei para uma caminhonete azul, parada no meio da rua. Sem pensar muito, quase me arrastei até ela. - Podemos dormir na caçamba da caminhonete - sugeri. A ideia não era boa, mas era a única. Não tínhamos encontrado nada além daquele automóvel até então.

Jackson surpreendentemente não recusou.

- Vocês podem tentar dormir - disse conforme andávamos até a caminhonete azulada. - E eu vou tentar fazer essa coisa ligar - bateu no capô, finalmente próximo o suficiente.

Melissa foi a primeira a correr até a caçamba. Segui minha amiga e nós duas ficamos paradas, pensando em algum jeito de subirmos. A traseira da caminhonete era tampada por um tipo de "lona" preta, o que nos impedia de vê-la com clareza.

Rodamos o automóvel e paramos de frente as rodas de trás, colocando os pés nelas e as usando como degraus improvisados. Uma de cada lado, nós puxamos a "lona" preta em uma sincronia engraçada.

- AAAAH! - um grito fino soou, me fazendo tombar para trás, me desequilibrando da roda e caindo de bunda.

- AAAH! - me ouvi gritar também, ao mesmo tempo que Melissa do outro lado. Julgando pelo barulho, apostava que minha amiga também havia tido um encontro desagradável com o chão.

Ainda sentada no asfalto quente, franzi meu cenho ao ver uma garota loira surgir da caçamba, os olhos tão arregalados quanto os meus. Em seguida, a figura de Melissa se ergueu do chão, tentando se desenrolar da "lona" que havia pendido para o seu lado.

- Quem é você? - minha voz se misturou com a de Jackson, que também parecia ter se teletransportado. Meu irmão mirava sua arma em direção à loira, a postura defensiva.

- Quem são vocês? - rebateu a garota, parecendo não se intimidar com facilidade. - Fui deixada pela a minha família no meio do fim do mundo só porque precisei sair por cinco minutos para longe do meu pai escroto, tive que me enfiar na caçamba de um desconhecido para fugir e você acha mesmo que essa arma aí me assusta? Se for atirar, faça logo.

Jack vacilou.

- Você 'tá sozinha? - Melissa perguntou.

- Completamente.

- Está armada? - foi a vez do Hill, ainda defensivo.

- Claro que não, eu tenho doze anos - respondeu a garota, soando óbvia.

- Qual o seu nome? - questionei por fim.

- Pandora. Pandora Peletier.

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₀₁ 𝐂𝐇𝐀𝐎𝐒. ! ༉ 𝘁𝗵𝗲 𝘄𝗮𝗹𝗸𝗶𝗻𝗴 𝗱𝗲𝗮𝗱 Onde histórias criam vida. Descubra agora