003.

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( 003. bem-vindos a woodbury )

' PANDORA PELETIER'S POV '

FLASHBACK ON

DIZEM QUE SOMOS MUITO DO QUE NOSSOS PAIS SÃO. Que herdamos certos aspectos e somos moldados por suas mãos durante boa parte da vida. Quando você cresce em um lugar cheio de amor, você aprende a ser alguém cheio de amor.

Mas, e quando tudo o que você conhece é ruim?

Meu pai era ruim. Comigo. Com a minha irmã. Com a minha mãe, principalmente. Ed Peletier foi um homem ruim, que moldou uma família triste. Não cresci em um lar rodeado de amor, então tudo que aprendi foi a sentir dor.

- Estou com fome - Sophia murmurava ao meu lado. Estávamos sentadas no banco de trás do carro, de mãos dadas.

O carro parado em uma estrada cheia de carros demonstrava o nítido perigo em que estávamos prestes a ter que enfrentar. Mamãe estava sentada no banco da frente, com o corpo virado em direção à porta do automóvel aberto.

Ela conversava com algumas pessoas do lado de fora, que pareciam tão aflitas quanto nós. Meu pai, por sua vez, se isolava. Sentado sobre o capô do carro, ele fumava um cigarro que enfestiava o ambiente com o cheiro forte. O sol já havia se posto, dando lugar a lua no céu, juntamente com alguns helicópteros que não paravam de nos rodear.

- Aqui.

Uma voz desconhecida soou de repente.

Me virei para olhar a minha janela e franzi o cenho ao ver a figura de um garotinho - que parecia ter a mesma idade que eu e Sophia - com uma das mãos esticadas, nos oferecendo um pacote de bolachas recheadas.

Minha irmã não demorou ao soltar nossas mãos e enfiar a dela pela janela aberta, pegando o pacote com pouco charme. O garoto sorriu, gentil. Não pude deixar de olhar para o vidro da frente, já sabendo que meu pai poderia implicar com qualquer mínima coisa.

Suspirei, agradecendo:

- Muito obrigada - devolvi o sorriso.

- Tudo bem - ele deu de ombros. - Tenho mais no meu carro. Meu nome é Carl. Carl Grimes - se apresentou, tirando uma mecha de cabelo dos olhos. - Vocês também estão querendo ir para Atlanta?

Assenti com a cabeça, pegando uma bolacha que Sophia me ofereceu.

- Prazer, Carl - sorri de novo, voltando a olhá-lo. - Meu nome é Pandora Peletier e essa esfomeada devorando o pacote de bolachas é a minha irmã, Sophia.

Sophia acenou, tímida. Entre eu e ela, ela era a mais quietinha. Era a prova de que crescer em um ambiente agressivo, nos tornava de duas, uma: agressivos também ou então, acanhados o suficiente para ter medo do mundo. E, para a dor no meu coração, Soso tinha medo de tudo. Mas não era como se existisse uma alternativa correta ou menos pior.

- Vocês são gêmeas? Tem os mesmos olhos.

- Aham - foi uma surpresa quando Sophia decidiu responder. Ela parecia ter gostado do garoto e isso me fez sorrir ainda mais.

Ao notar, Soso corou.

- Onde arrumou isso? - a voz de Ed chamou a atenção como se estivesse com um microfone nas mãos. - Devolva.

Com seus olhos autoritários, meu pai acenava para o garoto com a cabeça, sem mover os olhos de Sophia. Bufei alto, pegando o pacote das mãos trêmulas da loira.

- Estamos comendo - respondi o óbvio. - Faz horas que não comemos, Carl só foi gentil.

Acho que eu fiquei com a parte da agressividade. Ed Peletier não podia me culpar: meu temperamento não podia ser diferente. Ele me moldou até ali. Com suas grosserias e abuso de autoridade. E, para o seu azar, eu sabia bater de frente - mesmo que isso me custasse alguns hematomas permanentes ao longo dos meus doze anos.

₀₁ 𝐂𝐇𝐀𝐎𝐒. ! ༉ 𝘁𝗵𝗲 𝘄𝗮𝗹𝗸𝗶𝗻𝗴 𝗱𝗲𝗮𝗱 Onde histórias criam vida. Descubra agora