008.

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( 008. golpe )

' MARJORIE HILL'S POV '


EU ME CONSIDERAVA UMA PESSOA MUITO CURIOSA.

Desde pequena, tudo que via, era motivo de pergunta. Jackson costumava me dizer o quão irritante era ter que explicar até as coisas mais banais para a mini Marjorie questionadora. Eu achava engraçado, na verdade, porque eu continuo questionando e ele continua me respondendo.

- O que é isso aqui? - perguntei, abrindo o caderno posicionado no meio da mesa de escritório.

Michonne havia acabado de abrir o armário onde estavam nossas armas e eu não demorei nem um segundo para pendurar meu arco nas costas - senti muita falta daquela sensação. Segurei o punhal de Dora, para que Jack levasse seu machado e a arma de Melissa. Aproveitando enquanto os dois mais velhos se ajeitavam, comecei a vasculhar o lugar.

- Penny - li em voz baixa, passando os dedos pelo último nome de uma grande lista aleatória. Aquele era o único nome grifado, o que fazia chamá-lo mais a atenção.

Meu irmão parou ao meu lado, tentando ver o que tanto prendia meus olhos. Também curioso, o Hill pegou o caderno nas próprias mãos, folheando em seguida. Michonne observava de longe, as íris fixas em uma porta de madeira escura, qual nem havíamos reparado estar ali antes.

- Ouvi alguma coisa vindo daquela porta - informa, apreensiva. Aproximando-se da mesma, a mulher estica a mão para que eu emprestasse o punhal de Pandora, percebendo que ela estava trancada.

Com o objeto já em mãos, Michonne tenta arrombar a porta com o maior cuidado possível. Enquanto isso, voltei a analisar o ambiente, parando em uma fotografia: governador, uma mulher sorridente ao seu lado e uma criança no meio dos dois adultos.

Não tive tempo para tanto raciocínio, já que um som de passos e chaves girando ecoaram pela sala. Nos entreolhamos antes de se espalhar pelo lugar, tentando manter-nos fora da visão de quem quer que estivesse entrando.

- Não posso esperar, está tudo pronto - a voz do governador reverberou, me fazendo prender a respiração.

- Eu adoro uma festa, é sério - foi a vez de Milton rebater. - Mas estamos usando muitos recursos, não acho que seja necessário... - pela a primeira vez, ele soou sensato.

Quem é que gasta o "pouco" que tem em uma festa dentro da porra do apocalipse? Não fazia sentindo. Aliás, eu não fazia a menor ideia do que tanto estavam comemorando. Não era como se tivéssemos muito o que celebrar, naquela altura.

- Relaxa, Milton - Merle debochou. Quis revirar os olhos ao ouvir sua voz nojenta, mas fiquei com medo de que eles não voltassem mais ao normal, pela frequência que andava fazendo isso. - Se divirta!

Um puxão no meu braço me desloca. Viro assustada, vendo meu irmão gesticulando para que fôssemos em direção à janela. Uma parede cobria nossa possível saída, o que a tornava mais "segura". Assentindo, andei até o parapeito, me arrastando ao lado de fora da janela.

O vento frio balançou meus cabelos soltos, ao mesmo tempo que as vozes alheias foram cessadas. Ajeitei meu arco nas costas, só então me permitindo levantar o olhar para ver onde estávamos agora.

Ao nosso redor, muitas plantas e árvores tapavam a vista de fato. Uma escada bem no meio nos mostrava a única direção que podíamos seguir. Descendo os degraus de maneira cautelosa, seguimos em direção ao incerto.

Do lado de baixo, era como se fosse um pátio, aberto e muito grande. Cheio de grades com coisas aparentemente inflamáveis dentro, com placas do tipo: perigo! não fume, penduradas.

Outro rajada de ar foi o suficiente para me dar ânsia de vômito. Colocando uma das mãos sobre o rosto, me virei dando de cara com uma parede cheia de sangue velho e pedaços de carne penduradas. Dei um passo para trás, trombando com as costas de Jackson, que por sua vez, encarava outro lugar em específico.

Antes de seguir seu olhar, o barulho dos grunhidos já se fizeram presente. Arregalei meus olhos, vendo um grupo de errantes presos dentro de uma das grades esquisitas.

- Que porra...?

Michonne sorriu de lado.

Jackson, em um único movimento de seu machado, quebrou a fechadura da grade. Afastando-se com rapidez, meu irmão continuou com seus olhos castanhos fixos no errantes cambaleantes.

- Se prepara aí, maninha.

Suspirei, retirando meu arco e posicionando uma das flechas já em minhas mãos. No final, dei de ombros, sem tentar entender muito. A medida que cada um dos mortos-vivos de aproximava, Michonne deslizava sua katana por suas cabeças - como se fosse manteiga.

Jackson parecia se divertir ao arrancar seus braços, depois acertar bem no meio de suas cabeças. Algo me dizia que ele também sentiu falta de seu fiel escudeiro: machado.

Não tive muita alternativa, se não fazer o mesmo. Não dava nem tempo de chegarem próximos demais à mim, porque antes que isso pudesse acontecer, já estavam caídos, com uma flecha na testa.

Foi tudo rápido, por estarmos em três.

- Nem me pergunta - Jackson diz por fim, encarando a blusa suja de sangue podre, com uma careta no rosto. Ri baixinho, notando que ele sabia exatamente que eu lançaria mais uma de minhas perguntas em sua direção.

Outro som foi ouvido. Nos viramos em sincronia, vendo dois capangas encarando a cena com os olhos assustados. Soltaram de imediato os baldes cheios de partes de corpo morto que seguravam, andando fixamente em nossa direção.

(+)

FLASHBACK ON

- Me soltem! - eu gritava. Meus olhos estavam fixados na cena de Melissa Durand chorando desesperada sobre o corpo do irmão no chão.

Paul tossia, parecendo agoniado.

- Se tocar nela, eu mato você! - a voz de Jack me tirou do transe bizarro em que me meti. Levantei a cabeça, bem a tempo de vê-lo levar um soco no rosto, ao mesmo tempo que era segurado por outro homem alto.

Ouvi uma risada rouca. Um dos outros homens que me agarrava pelos pulsos, achava engraçado o desespero de meu irmão me vendo tão vulnerável. Eu senti vontade de gritar, de chorar e sinceramente? Eu senti vontade de morrer. Me sentia dentro de um pesadelo do qual eu não acordava nunca. Do qual eu nunca iria acordar.

Ver meu irmão sangrando, enquanto a trilha sonora era feita pelos sons agonizantes de Paul e o choro alto de Melissa foi a minha tortura.

Nenhum golpe doeria tanto quanto aquele.

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₀₁ 𝐂𝐇𝐀𝐎𝐒. ! ༉ 𝘁𝗵𝗲 𝘄𝗮𝗹𝗸𝗶𝗻𝗴 𝗱𝗲𝗮𝗱 Onde histórias criam vida. Descubra agora