005.

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( 005. crucial )

' JACKSON HILL'S POV '


EXISTEM CERTOS TIPOS DE COISAS QUE SÃO CRUCIAIS na vida das pessoas. De maneiras boas, ou ruins. E, na minha perspectiva, nos últimos tempos é impossível não considerar tudo crucialmente ruim. Tive que mudar muito pra aprender a lidar com tudo e manter a única coisa boa da minha vida, ainda viva: Marjorie.

O primeiro passo pra um novo Jackson ter que surgir dentro de mim, foi quando o carro de mamãe parou de repente na estrada em direção até Atlanta e quando desci pra ver como podia ajudá-los, descobri que não podia. Simples assim.

Matar meus pais foi o ápice.

Foi o estalo de: caralho, essa merda está mesmo acontecendo - crucial. Até demais, eu diria.

O segundo, foi quando me virei e vi que Marjorie tinha assistido a tudo de camarote. Quando vi seus olhos - que antes eram as coisas mais vibrantes que pude ter o prazer de acompanhar crescer - vazios. Perdidos. Foi aí que percebi que aquilo também havia sido crucial pra minha irmãzinha.

Hoje penso em como Margy é a única coisa que me mantem ainda em busca de partes do antigo Jackson Hill. O irmão que ela amava, admirava. E, por mais que tudo em mim hoje gritasse raiva e frustração, eu ainda me esforçava por ela. Pra que eu nunca mais fosse feri-la, como naquele dia, naquela estrada.

Tive que mudar muito. Minha voz amadureceu, meu rosto era sempre fechado, meus olhos atentos e sempre dispostos ao que fosse preciso.

Mas, Marjorie também. Seus olhos nunca mais foram os mesmos.

- Cacete... - Melissa resmungou ao entrarmos no segundo cômodo do dia. Ali, quase fiz das dela, as minha palavras também. Só que, havia orgulho demais dentro de mim e isso com certeza me impedia de deixar a surpresa ser vista no meu rosto neutro.

O tal do governador já parecia convencido demais sem que eu dissesse ou demonstrasse qualquer coisa, então não daria gostinho nenhum à ele. Seus passos firmes pararam no batente da porta, dando espaço para que eu e as meninas entrassem.

Michonne e Andrea seguiam atrás de mim.

- Não é nenhum cinco estrelas, mas tem água quente - o homem de preto informou, a voz suave.

- Água... quente? - Pandora pareceu anestesiada ao questionar, sem olhar diretamente ao homem parado do lado de fora.

- É. Mas a água é racionada, então... banhos curtos - gesticulando por cada canto do quarto, ele continuou. - Tem comida, roupas limpas, água e camas o suficiente pra todos vocês. Imaginei que não fossem querer ficar em quartos separados, então por isso ficou meio apertado, mas enfim. Eu espero que dê.

Quem o ouvisse, que o comprasse. O governador tinha algo nele que deixava as pessoas cegas no que dizia. Ele passava e mostrava certa segurança e, em meio ao fim do mundo, isso é o que qualquer um procurava. A diferença, era que eu não era qualquer um. Nós não éramos qualquer um.

Por mais que tudo soasse muito bom e nossos olhos e corpos implorassem para que tudo desse certo e que aquele fosse finalmente um lugar onde pudesse ser "nosso lugar", algo dentro de nós nos brecava.

Andrea, por sua vez, parecia cavar sua própria cova com seus olhos transmitindo tanta admiração e gratidão. Era no mínimo estranho que ela não tivesse aprendido que não se pode confiar no que vem tão fácil assim, especialmente na condição em que vivíamos.

- Sei que se sentiriam mais seguros com suas armas - o homem me encara, virando-se para Michonne em seguida. Nem havia reparado minha postura defensiva, até ver que a mulher ao meu lado parecia igual à mim: tensa. - Mas estão seguros aqui.

₀₁ 𝐂𝐇𝐀𝐎𝐒. ! ༉ 𝘁𝗵𝗲 𝘄𝗮𝗹𝗸𝗶𝗻𝗴 𝗱𝗲𝗮𝗱 Onde histórias criam vida. Descubra agora