Três

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Era uma manhã tranquila no hospital. Dulce estava concentrada em seus estudos, revisando casos antigos e preparando-se para o próximo plantão. A tensão entre ela e Anahí havia diminuído um pouco, mas ainda estava presente, flutuando no ar como uma ameaça constante de explodir a qualquer momento. As provocações de Anahí ainda ecoavam na mente de Dulce, mas ela não podia se dar ao luxo de pensar muito nisso. Não enquanto estava no hospital.

No entanto, o dia estava prestes a tomar um rumo inesperado.

Anahí caminhava pelos corredores com a mesma postura de sempre: impecável, séria, inabalável. Ela havia aprendido a esconder suas emoções muito bem. Mas por dentro, algo a estava perturbando. Desde aquela noite com Dulce, a médica não conseguia se concentrar completamente em seu trabalho. Ela não parava de pensar na jovem residente, na ousadia dela e, especialmente, no prazer que Dulce lhe proporcionara — algo que mexeu profundamente com Anahí, além de seu controle.

E como se não bastasse essa confusão interna, o destino lhe reservava outra surpresa. Ao chegar à sala de reuniões, Anahí parou abruptamente na entrada ao ver uma figura que ela não esperava encontrar ali. Seu coração deu um salto no peito.

Alfonso.

Ele estava ali, parado com o mesmo sorriso confiante de sempre, parecendo à vontade em sua roupa casual e moderna. Seu retorno de uma viagem longa e desgastante havia pegado Anahí de surpresa. Ela não tinha previsto que ele voltaria tão cedo, e o fato de vê-lo ali, no meio do hospital, trouxe um turbilhão de emoções conflitantes.

— Anahí! — Alfonso exclamou, caminhando em sua direção com os braços abertos.

Anahí forçou um sorriso, mesmo que seu estômago estivesse revirado de nervosismo. Quando ele a abraçou, ela sentiu o desconforto se instalar, mas não demonstrou nada.

— Você voltou mais cedo — ela disse, tentando manter a voz leve.

— Consegui adiantar as coisas no trabalho, então pensei em fazer uma surpresa. Senti sua falta — Alfonso respondeu, sorrindo para ela com uma ternura que, até pouco tempo atrás, ela teria respondido de bom grado.

Anahí queria sentir algo mais por ele. Ela realmente queria. Mas os últimos dias — e Dulce — haviam mudado tudo dentro dela. Mesmo assim, ela não podia deixar que nada disso transparecesse, não enquanto Alfonso estava ali, tão perto, tão presente.

— É uma boa surpresa — ela disse, mas as palavras soaram vazias até para seus próprios ouvidos.

Eles trocaram mais algumas palavras banais sobre a viagem dele e as atualizações do hospital, mas o desconforto de Anahí só crescia. Ela se sentia desconectada de tudo que antes era familiar. Cada toque de Alfonso, cada olhar, fazia com que a médica se sentisse culpada e confusa.

Enquanto conversavam, Dulce passou pela porta, sem perceber o que estava acontecendo de imediato. Quando seus olhos se fixaram na figura de Alfonso ao lado de Anahí, algo a incomodou. Ele a olhou rapidamente e voltou sua atenção para Anahí, sem parecer notar a tensão no ambiente. Dulce sentiu seu corpo enrijecer. Mesmo sem saber quem ele era, Dulce captou algo na expressão de Anahí que a deixou intrigada.

Mais tarde, no corredor, Dulce decidiu perguntar.

— Quem é ele? — perguntou Dulce quando conseguiu abordar Anahí sozinha. Não havia hostilidade em sua voz, mas a curiosidade era evidente.

Anahí, que tentava se recompor após o reencontro com Alfonso, hesitou. Por um momento, parecia que ela estava prestes a ignorar a pergunta, mas Dulce a conhecia o suficiente para saber que algo a estava incomodando.

— Alfonso é... meu marido — Anahí respondeu, com uma frieza que não combinava com a tensão em seus olhos.

Dulce ficou parada, processando a informação. Ela não sabia como reagir. O fato de Anahí ser casada não deveria ter sido uma surpresa, mas a realidade da situação a atingiu como um soco no estômago.

— Ah. Então você é casa, Dra. — foi tudo o que Dulce conseguiu responder, com um sorriso debochado no rosto.

Anahí continuou a andar pelo corredor, tentando afastar a crescente sensação de descontrole dentro de si. Alfonso estava de volta, e isso complicava tudo. Não era apenas o casamento desgastado que eles mantinham há anos, mas o fato de que agora, com Dulce em sua vida, Anahí estava dividida de uma maneira que nunca imaginou estar. Ela amava a vida que construíra, sua carreira, a imagem de perfeição que passava ao mundo. Mas Dulce... Dulce era uma chama que ameaçava consumir tudo aquilo.

E o pior de tudo é que Anahí não sabia se estava disposta a apagar essa chama.

Os pensamentos de Anahí foram interrompidos por uma mensagem de Alfonso. Ele queria almoçar com ela mais tarde, "para colocarem a conversa em dia". Anahí olhou para o telefone, sentindo o peso da obrigação. A última coisa que queria era enfrentar uma conversa com seu marido enquanto seu coração e sua mente estavam em outro lugar. Mas o papel que desempenhava exigia que ela continuasse com o casamento. Afinal, ele era um dos principais chefes dentro do hospital. Ela sabia como esconder seus sentimentos melhor do que ninguém.

Suspirando, Anahí guardou o celular no bolso e continuou a caminhar. O hospital era o único lugar onde ela sentia que tinha o controle de sua vida. Ou, pelo menos, costumava ser. Agora, com Dulce por perto e Alfonso de volta, tudo parecia desmoronar.

Naquele momento, Anahí soube que as coisas estavam prestes a ficar muito mais complicadas do que já eram. E enquanto ela caminhava para o próximo turno, o peso da confusão a seguia como uma sombra.


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