O novo ano começava, e Dulce retornava ao hospital com a determinação de seguir em frente. Mas assim que entrou, Alfonso a chamou, indicando a porta de uma sala privativa. Seu olhar era afiado, enigmático, e Dulce sentiu o coração acelerar.
— Feche a porta, Dulce — ordenou Alfonso, com um sorriso frio.
Dulce fechou a porta, mantendo uma expressão firme, embora o desconforto fosse palpável. Ele a observou por alguns segundos em silêncio, rodando ao redor dela como um predador estudando sua presa.
— Dulce, já faz algum tempo que eu queria conversar com você — ele começou, com um tom ameaçadoramente leve. — Sabe, eu sempre percebi quando alguém quer subir rápido... quando alguém tenta bancar a esperta.
Dulce o encarou, impaciente, sem medo, e respondeu, seca:
— Vá direto ao ponto, Alfonso.
Ele soltou uma risada contida e inclinou-se um pouco mais perto dela, os olhos estreitando-se.
— Eu sei que foi você quem mandou aquela mensagem para Anahí. Sim, aquela... você sabe qual. E, mais ainda, sei que há algo acontecendo entre vocês duas — sua voz saiu fria, e ele parecia se deliciar ao ver o choque breve no rosto de Dulce antes que ela recuperasse a compostura.
Dulce não se deixou abalar, cruzando os braços e mantendo o olhar fixo nele.
— Se você acha que tem alguma coisa pra me acusar, que vá em frente, Alfonso. Não sou eu quem tem que esconder nada.
Alfonso riu, aproximando-se ainda mais até que Dulce pôde sentir a frieza de seu tom quase como um veneno.
— Não se faça de ingênua, Dulce. Se quer continuar por aqui... e não acabar com a carreira de Anahí junto... você vai fazer exatamente o que eu mandar. Caso contrário, eu não hesitarei em acabar com vocês duas.
Um silêncio carregado se seguiu, e então Dulce, com uma raiva fria, deu um tapa em seu rosto, a mão tremendo.
— Nunca vou cair nas suas sujeiras. E eu que te aviso, Alfonso: se não tomar cuidado, quem acaba com sua carreira sou eu.
Ela se afastou, mantendo a postura, mas sentindo as pernas tremerem. Alfonso a observou, furioso, e enquanto ela saía, ele gritou:
— Vagabunda! Vai se arrepender!
No vestiário, longe de olhares, Dulce se encostou num armário, o peito arfando. As palavras de Alfonso ainda ecoavam na sua mente, e ela não conseguiu segurar as lágrimas que escaparam de raiva e frustração. A porta se abriu de repente, e Anahí entrou, o rosto se suavizando ao ver Dulce.
— Dulce? O que houve? — Anahí se aproximou, com o semblante de preocupação.
Dulce a encarou, lutando para manter a compostura.
— Não é nada, Anahí. Só... só preciso de um tempo sozinha.
Anahí deu um passo para trás, magoada e confusa, enquanto Dulce saía, os olhos vermelhos, e a deixava sozinha ali.
Naquela noite, Dulce chegou em seu apartamento com uma sensação de urgência e vingança queimando em seu peito. As palavras de Alfonso ainda ecoavam, cada ameaça dele como um espinho cravado em sua mente.
"Você tem que ter alguma coisa."
Ela murmurava para si mesma, se movendo rapidamente pela sala, pegando seu notebook e o abrindo com dedos ansiosos. "Alguma coisa que possa derrubar você, Alfonso."
Ela digitou o nome completo dele na barra de pesquisa, junto ao hospital, aos cargos, à sociedade. Várias páginas apareceram: entrevistas antigas, comunicados do hospital, algumas notícias sobre fusões e novas clínicas. Mas nada ainda que desse uma pista concreta.
"Preciso mais... mais do que aparências."
Então, Dulce mudou o foco e começou a procurar informações sobre seu passado. Havia pouco sobre sua carreira antes do hospital, mas uma menção em uma reportagem antiga chamou sua atenção. Era sobre um pequeno hospital onde Alfonso atuou no início de sua carreira, fechado abruptamente devido a suspeitas de fraude financeira.
Ela abriu o link, absorvendo cada detalhe. "Isso aqui já é um começo."
"Você tem que ter alguma coisa... alguma fraqueza que te coloque de joelhos."
Os olhos de Dulce continuaram focados na tela, e ela foi anotando mentalmente cada conexão que ele havia construído, as relações com outros hospitais, o aumento inexplicável de patrimônio. Sabia que aquilo não era suficiente, mas tinha certeza de que, cavando mais fundo, poderia achar algo que finalmente expusesse quem Alfonso realmente era.
Aquela determinação em encontrar algo contra ele a manteve acordada a madrugada inteira, mesmo enquanto o sono ameaçava vencer. Ela sabia que estava apenas começando, mas não recuaria.
No final, ainda de olhos abertos e mente alerta, viu o relógio marcar a manhã. Ela respirou fundo, olhou as anotações que havia feito e sorriu para si mesma.
"Você não vai me intimidar, Alfonso. Vou descobrir quem você é."
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No Digas Nada
FanfictionAnahí, uma médica renomada e temida por sua competência e exigência, domina o hospital com sua presença imponente e sua experiência impecável. Quando Dulce Maria, uma residente recém-chegada, é designada para trabalhar diretamente sob sua supervisão...