Vinte e Sete

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Dulce saiu do hospital com o coração pesado. A luz do sol batia em seu rosto, mas a sensação de liberdade não era suficiente para apagar as lembranças dolorosas do que havia vivido. Ela caminhou lentamente para o estacionamento, seu pensamento girando em torno do que estava por vir. Ao chegar à porta, um delegado a esperava, o olhar sério.

— Dulce, você é a única que pode nos ajudar a entender tudo o que aconteceu — ele disse, sua voz firme. — Precisamos do seu depoimento.

Ela hesitou, lembrando-se de tudo que havia passado, da dor e do medo. Mas sabia que precisava fazer isso, não só por ela, mas por todas as vítimas que sofreram nas mãos de Alfonso.

— Está bem — respondeu Dulce, sua voz tremendo. — Eu vou contar tudo.

No interrogatório, ela se abriu, contando cada detalhe que conseguia lembrar, incluindo seu relacionamento com Anahí. Cada palavra que saía de seus lábios era como um corte em seu coração, mas era necessário. Ela precisava fazer justiça. Ao final, o delegado a agradeceu e a liberou, mas a sensação de alívio era distante.

Depois de sair da delegacia, Dulce decidiu que precisava ver Anahí. As palavras pesavam em sua mente, e o que ela tinha a dizer precisava ser ouvido. Ao chegar ao escritório de Anahí, sentiu um frio na barriga. A porta estava entreaberta, e ao entrar, viu Anahí de costas, olhando pela janela.

— Não posso acreditar que chegamos a esse ponto... — Anahí sussurrou, sua voz grave e carregada de frustração. O reflexo de Dulce Maria atrás dela parecia uma sombra frágil e ao mesmo tempo determinada.

— Anahí, eu... — Dulce começou, mas as palavras pareciam sumir em sua garganta. O coração batia acelerado, as mãos trêmulas. — Tive que fazer isso. 

—  Eu confessei tudo para a polícia — revelou Dulce, cada palavra saindo como se fosse um peso que ela estava se esforçando para carregar. — Eu falei sobre você.

O olhar de Anahí mudou instantaneamente, passando da preocupação para a apreensão.

— Dulce, por favor... — Anahí começou, mas Dulce a interrompeu.

— Eu preciso que você ouça — disse Dulce, seus olhos fixos nos de Anahí. — Mesmo amando você, eu não posso deixar isso passar. Você precisa pagar pelo que fez, por tudo o que sabemos.

Anahí olhou para Dulce, os olhos cheios de lágrimas.

— Nós sabíamos o risco — Dulce murmurou, a voz baixa, quase um sussurro. — Sabíamos que isso poderia acontecer, mas... — Ela tocou o braço de Anahí, tentando transmitir um pouco de calma, de força. — Eu não me arrependo. Não posso admitir esse tipo de coisa Anahí. Você sabia de tudo.  A única forma de eu encontrar o perdão que você me pede é fazendo a coisa certa.

Neste momento, o som de sirenes cortou o ar. Anahí parou, um olhar de pânico cruzando seu rosto.

— O que é isso? — Ela perguntou, sua voz tremendo.

— Eu... eu não sei — Dulce respondeu, confusa e assustada. Eu sou forte o suficiente para lidar com as consequências... Dulce se aproximou e deu um beijo demorado em Anahí. — Seus olhos suavizaram, as mãos de Anahí deslizando para segurar as de Dulce. — Eu não queria que você passasse por isso, que sofresse por minha causa.  — Dulce disse enquanto encostava sua testa na testa de Anahí. 

As portas se abriram e os policiais entraram, a determinação em seus rostos.

— Anahí, você está presa — disse um dos policiais, se aproximando.

Dulce sentiu seu coração se apertar enquanto observava Anahí ser cercada. A realidade do momento a atingiu como uma onda.

— Dulce, me espera, por favor! — Anahí gritou, estendendo a mão como se pudesse agarrá-la. 

Dulce apenas olhou para ela, lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Eu sinto muito — foi tudo o que conseguiu dizer, enquanto Anahí era algemada.

Os policiais levaram Anahí para fora, e Dulce ficou ali, paralisada. A dor da traição e do amor perdido a inundava. O coração dela se despedaçava a cada passo que Anahí dava para longe, as palavras de despedida sem som ecoando em sua mente.

Dulce caiu em um choro convulsivo, o peso da culpa e da perda esmagando-a. Ela sabia que havia feito a coisa certa, mas a dor de perder Anahí doía mais do que qualquer outra coisa que já havia sentido.

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