Vinte e Um

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Dulce abriu a porta do apartamento de Paco, ainda com a mente a mil pelas descobertas e a tensão daquela noite. Mas o que ela não esperava era a presença de Anahí, parada no corredor, olhos fixos nela com uma expressão difícil de decifrar.

— Anahí? — Dulce perguntou, surpresa e sem conseguir esconder o tom de alarme na voz. — O que você está fazendo aqui?

Anahí não respondeu de imediato. Ela deu um passo para dentro do apartamento e, em um movimento rápido, fechou a porta atrás de si, trancando-a. O silêncio entre as duas parecia sufocar o ambiente.

— Eu sei tudo o que está acontecendo, Dulce — começou Anahí, seu olhar sombrio, como se carregasse o peso de anos de segredos. — Sei sobre Alfonso. E sim, ele continua fazendo as mesmas coisas horríveis que fazia anos atrás.

O choque tomou conta do rosto de Dulce, que deu um passo para trás, negando com a cabeça.

— Você já sabia? Esse tempo todo? — A voz dela saía rouca, como se a decepção pesasse nas palavras. — Como você pôde... como pôde trabalhar ao lado dele sabendo de tudo isso? Você viu o que ele é capaz de fazer, Anahí!

Anahí respirou fundo, parecendo à beira do desespero. Ela balançou a cabeça lentamente e tentou se aproximar de Dulce, mas a outra recuou.

— Eu sei. E eu nunca deveria ter deixado isso acontecer, mas eu não tinha forças, Dulce. — A voz de Anahí tremia, os olhos marejados. — Alfonso foi meu mentor... ele prometeu a carreira dos meus sonhos, ele me manipulou de todas as formas possíveis, me prendeu a ele. E durante muito tempo, eu simplesmente... aceitei.

Nesse momento, Paco, que tinha ouvido as vozes do quarto, apareceu no corredor, surpreso e visivelmente incomodado ao ver Anahí ali.

— Que porra está acontecendo aqui? — ele questionou, irritado. — Dulce, essa mulher trabalha para o cara que destruiu minha família! O que ela quer aqui?

— Eu vim para ajudar, Paco. Eu quero que tudo isso acabe, tanto quanto vocês. — Anahí encarou Paco, sem recuar. — E desde que conheci Dulce... ela foi a primeira pessoa que me deu força para confrontar tudo isso, para ver que eu poderia colocar um fim nisso.

— Acha que eu vou acreditar nisso? — Paco rebateu, furioso. — Você esteve ao lado de Alfonso por anos, ajudando ele a se livrar de tudo. Quantas vezes você virou o rosto para os absurdos dele?

— Chega! — Dulce gritou, a voz ecoando no ambiente, os olhos marejados de tanta dor e confusão. Ela virou-se para Anahí, as mãos trêmulas. — Eu confiei em você, Anahí. Como eu deveria reagir agora? Depois de tudo o que descobri... depois de saber que você... que você sabia sobre Alfonso?

As lágrimas escorriam pelo rosto de Dulce. Anahí avançou até ela, colocando as mãos delicadamente em seus ombros, os olhos dela agora brilhando de culpa e tristeza.

— Dulce... eu sinto muito. Eu nunca quis te envolver nisso. Eu nunca quis te machucar. — A voz de Anahí estava repleta de arrependimento, uma dor genuína que ela parecia ter escondido por muito tempo. — Desde o momento que você apareceu na minha vida, eu percebi que precisava tomar coragem. E é isso que estou fazendo agora... estou tentando mudar.

Dulce desviou o olhar, sem saber como lidar com tudo aquilo.

— Você devia ter me contado antes, Anahí. Eu me sinto... traída. Como se você também fosse parte de tudo isso.

Anahí assentiu, os lábios trêmulos.

— E eu fui. Mas estou tentando me redimir. Quero fazer isso por você, por mim... e por todas as pessoas que ele machucou. — Ela se virou para Paco, o olhar determinado. — Eu estou disposta a testemunhar contra Alfonso, a contar tudo o que eu sei... mas preciso da ajuda de vocês. Eu não posso fazer isso sozinha.

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