Depois daquela tarde no porão, Fátima passou os dias envolta em uma mistura de euforia e incerteza. A música havia reacendido uma parte dela que estava adormecida há anos, mas algo mais profundo também começava a se mexer. A presença de Diana, que sempre lhe trazia conforto, agora também trazia uma confusão inesperada. Robson, por outro lado, parecia cada vez mais distante, como se vivessem em mundos completamente diferentes.Naquela manhã, Fátima acordou antes de Robson e foi até o porão novamente. O piano parecia chamá-la. Ela hesitou, mas logo cedeu, sentando-se no banco. Ao tocar as primeiras notas, sentiu a mesma liberdade que experimentara com Diana. Cada acorde a transportava para um lugar onde as críticas de Robson não podiam alcançá-la.
Ela estava tão imersa na música que não ouviu os passos na escada. Quando finalmente olhou, viu Diana na porta, sorrindo suavemente.
— Eu sabia que te encontraria aqui. — disse Diana, com a voz baixa, quase como se não quisesse interromper.
— Não consegui ficar longe... — respondeu Fátima, tentando esconder a agitação em sua voz.
Diana se aproximou e, sem hesitar, sentou-se ao lado dela no banco. As pernas das duas se tocaram levemente, e Fátima ficou rígida por um segundo, tentando não demonstrar a onda de emoções que aquele simples toque provocava.
— Você está tocando tão lindamente. — disse Diana, olhando para Fátima com admiração. — Parece que o piano traz uma parte de você à tona que eu nunca vi antes.
— Eu me sinto mais viva quando toco. — confessou Fátima. — Mas ao mesmo tempo, há tantas coisas confusas dentro de mim... Me sinto perdida.
Diana a olhou por um momento, sem saber o que dizer. Ela também estava sentindo algo diferente. A proximidade entre elas, a forma como os olhares se cruzavam, a fazia questionar o que estava realmente acontecendo. Não era apenas a música. Havia algo mais, algo que ela não conseguia entender.
— Eu... — Diana começou, mas as palavras falharam. Ela também não sabia como expressar o que estava sentindo.
Fátima virou-se para ela, seus olhos buscando respostas. A tensão entre as duas era palpável. Elas estavam tão próximas que podiam sentir a respiração uma da outra. O toque leve de Diana no braço de Fátima despertou uma sensação que a deixava ainda mais confusa. Sem perceber, Fátima se inclinou levemente, e Diana, paralisada pela confusão, não se afastou.
De repente, o som da porta do porão se abriu com força, fazendo ambas pularem de susto. Era Robson. Seu olhar passou de Fátima para Diana, e depois para o piano. Ele ficou parado, observando o que estava acontecendo, seus olhos estreitos, cheios de desconfiança.
— O que está acontecendo aqui? — perguntou, a voz dura.
Fátima afastou-se de Diana imediatamente, o rosto queimando de vergonha e medo. — Eu... eu só estava tocando. Diana veio me ver.
Robson cruzou os braços, olhando diretamente para Diana. — E o que você está fazendo aqui, Diana?
Diana tentou parecer calma, embora também estivesse claramente abalada. — Eu só vim apoiar a Fátima. Ela está redescobrindo o que ama, e isso é importante. A música faz bem a ela.
— Faz bem? — Robson riu, mas o som era seco, quase sarcástico. — Tocar piano não vai ajudar Fátima a emagrecer, nem a arrumar a vida. Isso é perda de tempo. Você deveria estar ajudando ela a se concentrar no que realmente importa, Diana.
Fátima sentiu o estômago revirar com as palavras de Robson, a frustração aumentando. Diana, percebendo o quanto aquilo a afetava, decidiu intervir.
— Robson, com todo o respeito, o que importa é o que faz Fátima se sentir bem. Se tocar piano a faz feliz, então isso é o que ela deve fazer. Não se trata apenas de emagrecer ou seguir um padrão. Ela tem o direito de ser ela mesma.
O olhar de Robson se endureceu, como se estivesse tentando manter o controle. — E você acha que sabe o que é melhor para minha esposa, Diana?
— Eu acho que o que importa é o que Fátima quer, não o que nós achamos. — respondeu Diana, firme.
O clima ficou pesado. Fátima olhou de Diana para Robson, sentindo-se presa entre os dois. O que havia acabado de acontecer entre ela e Diana? E por que Robson estava reagindo com tanta hostilidade?
— Eu... — Fátima começou, mas as palavras não saíam. Ela se sentia sufocada, como se estivesse sendo forçada a escolher um lado.
Robson soltou um suspiro irritado e balançou a cabeça. — Faça o que quiser, Fátima. Só não espere que eu fique por perto para assistir a isso. — Ele se virou e saiu do porão, batendo a porta atrás de si.
O silêncio que ficou depois de sua saída era esmagador. Fátima olhou para Diana, ainda confusa, ainda perdida, mas sentindo um agradecimento profundo por ela ter falado em sua defesa. Mesmo assim, a tensão entre elas permanecia, e agora, além da confusão interna, havia o peso das palavras de Robson.
Diana suspirou, olhando para Fátima com preocupação. — Eu... eu não sei por que agi assim. Me desculpe, Fátima. — disse ela, passando a mão pelos cabelos, claramente confusa e sentindo o impacto do momento.
Fátima ficou em silêncio, absorvendo tudo. Diana, percebendo a tensão e o quanto aquela situação era delicada, se levantou, hesitante.
— Talvez eu devesse ir. Você precisa de tempo para pensar, e eu também. — disse Diana, tentando forçar um sorriso.
Fátima assentiu, ainda processando tudo o que havia acontecido. — Sim, talvez seja melhor...
— Eu só... eu só quero que você saiba que estou aqui para o que precisar. — Diana completou, antes de sair do porão rapidamente, deixando Fátima sozinha com seus pensamentos e o eco das notas ainda vibrando no ar.
Fátima ficou parada ali, encarando o piano, o coração acelerado e a mente um turbilhão. Ela sabia que as decisões que tomaria a partir dali mudariam tudo, mas as emoções estavam tão confusas que ela não sabia por onde começar.
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Minha DOCE vizinha
FanfictionEm um momento onde a luta pela liberdade é constante, Diana e Fátima, vizinhas e casadas, se tornam aliadas em suas batalhas pessoais. Enquanto Diana vive sob o domínio de um marido possessivo, ciumento e luta para criar sua filha em um ambiente seg...