Notas de um conflito

214 21 20
                                    


A sala de ensaio era envolta em um silêncio atento enquanto Fátima tocava, seus dedos dançando com leveza e precisão sobre as teclas do piano. Diana, convidada por Fátima para assistir o ensaio, observava cada movimento com uma intensidade que ia além da mera admiração pela música. Era como se cada nota trouxesse de volta ecos da noite que tinham compartilhado, memórias ainda recentes e vívidas.

Quando Fátima terminou, Diana aplaudiu suavemente, com um sorriso quase orgulhoso.

— Isso foi... lindo, Fátima — disse ela, com um olhar que transmitia mais do que simples admiração.

Fátima corou levemente, mas manteve o sorriso, desviando o olhar. — Obrigada, Diana. Mas às vezes ainda acho que falta alguma coisa.

Diana se aproximou, seus dedos roçando levemente a mão de Fátima. — Se falta algo, talvez seja a mesma coisa que sentimos que falta aqui — disse ela, com um sorriso sutil, carregado de significado.

Fátima a olhou com uma mistura de timidez e curiosidade. — A noite passada... parecia que tudo fazia sentido. Não sei como, mas... me senti completa.

Diana concordou, seu olhar fixo no de Fátima. — Eu também. Foi mais do que qualquer coisa que eu já senti.

As duas ficaram em silêncio por um momento, e Fátima desviou o olhar, tentando disfarçar a intensidade que pairava entre elas. Ela riu suavemente para aliviar a tensão.

— Bom... pelo menos com você aqui hoje eu me sinto menos nervosa com o recital. Quer dizer, se você for me ver tocando, vai entender cada nota.

Diana sorriu, tocando o ombro de Fátima. — Eu não perderia isso por nada.

Ao olhar o relógio, Diana percebeu que já eram 20h. Com um brilho de empolgação nos olhos, sugeriu:

— Que tal sairmos um pouco? Podemos tomar algo, espairecer. Acho que merecemos uma noite leve, só pra relaxar.

Fátima hesitou. —Sair? Diana, não sei... e o Robson?

— Ah, deixa o Robson, Fátima. Hoje é sua noite! — Diana sorriu, encorajadora, com um brilho nos olhos que sugeria uma leve rebeldia. — A gente merece uma noite para descontrair.

Por fim, depois de alguns segundos de incerteza, Fátima assentiu. — Tá bom... Mas só por um tempinho.

O bar era acolhedor e com uma iluminação suave. As duas sentaram-se em uma mesa próxima à janela, com um clima de descontração que parecia perfeito para a noite que estavam prestes a viver. A conversa começou leve, mas sempre entremeada por olhares que traziam de volta as lembranças da noite anterior, como se cada frase fosse um convite para redescobrir o que sentiam.

— Você é um mistério, Fátima — Diana disse, sorrindo. — Eu nunca imaginei que teríamos... uma conexão assim.

Fátima retribuiu o sorriso, mas desviou o olhar, pensativa. — Acho que nem eu imaginava. Quer dizer... sempre gostei da sua companhia, mas... — ela hesitou, procurando as palavras. — Ontem... foi diferente. Não sei explicar.

Diana inclinou-se para mais perto, a voz baixa, quase confidencial. — Não precisa explicar. Algumas coisas a gente sente e pronto.

As duas trocaram um sorriso cúmplice, e a conversa deslizou para memórias de infância, sonhos e paixões adormecidas. No entanto, a tensão sempre estava lá, pulsando sob cada palavra.

— E você? — perguntou Fátima, brincando, mas com uma pontada de seriedade. — Se pudesse fazer qualquer coisa, sem ter ninguém te dizendo o que fazer... o que você faria, Diana?

Diana suspirou, seu olhar voltando a ser sério por um instante. — Acho que... viveria mais por mim. Faz tanto tempo que só me prendo a responsabilidades que nem sei mais o que é sentir liberdade. Às vezes só queria... fugir um pouco de tudo, sabe?

Minha DOCE vizinha Onde histórias criam vida. Descubra agora