Chamas do desejo

150 24 22
                                    


No dia seguinte, a tensão ainda pairava sobre as duas casas, cada uma lidando com os resquícios das discussões explosivas da noite anterior. Diana acordou exausta, o rosto marcado pelo cansaço e a mente inundada de incertezas. Ainda era cedo quando desceu até a cozinha, esperando poder tomar um café em silêncio.

No entanto, Hugo já estava lá, de pé ao lado da janela, o olhar distante e a expressão dura. Diana tentou passar despercebida, mas ele logo a chamou.

— Vai mesmo fingir que nada aconteceu? — perguntou, sem se virar.

Ela parou, respirando fundo.

— Hugo... Não adianta continuarmos brigando desse jeito. Eu sei que errei, mas a gente precisa conversar sem gritar, sem jogar acusações.

Ele riu, sem humor.

— Conversar? Agora você quer "conversar"? E ontem, quando eu te pedi uma explicação, você achou que fugir seria mais fácil?

Diana tentou manter a calma.

— Eu não fugi. Apenas... achei que gritar na frente da Bruna não iria ajudar.

Hugo se virou, encarando-a com um olhar firme.

— E você acha que fazer nossa filha esconder tudo isso foi ajudar? Ela já sabia, Diana! Você não tem mais como continuar essa mentira.

— Eu não estava mentindo! — Diana respondeu, sua voz falhando. — Eu só... não queria que as coisas fossem assim.

— As coisas não são como você "queria", Diana. São como você escolheu que fossem.

Antes que ela pudesse responder, o som do telefone vibrando interrompeu a conversa. Hugo atendeu, murmurando algumas palavras e, logo em seguida, se apressou para pegar a pasta de trabalho.

— Tenho que ir — disse, com um tom amargo. — Mas isso não acabou.

Assim que ele saiu, Diana sentiu o peso daquela manhã em seus ombros. Decidiu se sentar e tomar um café, tentando processar tudo o que acontecera. Não demorou muito para que ela ouvisse passos descendo as escadas. Bruna apareceu, com um olhar preocupado.

— Mãe, você tá bem? — perguntou, hesitante.

Diana forçou um sorriso e acenou com a cabeça.

— Estou... Ou pelo menos tentando estar.

Bruna se sentou ao lado dela, pegando uma xícara de café também.

— Eu sei que as coisas estão difíceis — ela começou, escolhendo as palavras. — Mas, mãe, se a senhora precisar de ajuda, pode contar comigo.

Diana segurou a mão da filha, sentindo-se ao mesmo tempo grata e culpada por envolver Bruna nessa situação.

— Obrigada, filha. Você é tudo para mim. E eu prometo... vou resolver isso de uma forma ou de outra.

Bruna assentiu, dando um sorriso pequeno, mas reconfortante.

Enquanto isso, Hugo chegava ao trabalho, o rosto ainda sombrio pelos eventos da manhã. Ao se dirigir para sua sala, encontrou Robson, que esperava do lado de fora, aparentemente ansioso para conversar.

— Hugo! Precisamos conversar — disse Robson, se aproximando.

Hugo forçou um sorriso, tentando manter a compostura.

— Sobre o que exatamente, Robson?

— Ontem, você estava... diferente. E hoje também. Olha, a Fátima me disse que você e Diana estão passando por problemas. Se precisar de conselhos, você sabe que pode contar comigo.

Minha DOCE vizinha Onde histórias criam vida. Descubra agora