Ecos do Confronto

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Os dias após o confronto no porão foram preenchidos com silêncio e reflexões. Fátima não conseguia tirar as palavras de Robson da cabeça, nem esquecer o olhar confuso de Diana antes de sair apressada. Ela se sentia perdida, como se estivesse dividida entre dois mundos: o que conhecia com Robson e o novo, desconhecido, que surgia quando estava com Diana.

Robson mal falava com ela desde aquela manhã. Embora tentasse agir como se nada estivesse acontecendo, o silêncio entre eles era ensurdecedor. Fátima sabia que havia algo quebrado entre os dois, algo que a música – ou qualquer outra coisa – não poderia consertar.

Num impulso, Fátima decidiu dar o próximo passo. Procurou por um professor de piano, alguém que pudesse ajudá-la a retomar sua paixão de forma mais concreta. Uma aula experimental foi marcada para o fim de semana, e ela sentiu uma mistura de excitação e medo.

No dia da aula, Fátima se viu diante de um estúdio de música simples, mas acolhedor. O professor, um homem mais velho e de aparência gentil, a recebeu com um sorriso caloroso.

— Fátima? Bem vinda. Pronta para começar?

Ela assentiu, sentindo o nervosismo crescer em seu estômago. Enquanto ele a guiava através de exercícios simples, Fátima percebeu que a música ainda estava dentro dela, esperando para ser redescoberta. Cada nota parecia despertar algo adormecido, e por uma hora, ela se esqueceu de todas as suas preocupações.

Quando a aula terminou, o professor a elogiou com sinceridade. — Você tem talento, Fátima. Com um pouco de prática, estará tocando como antes, ou até melhor.

Ela saiu do estúdio com o coração leve, como se estivesse começando a reencontrar uma parte de si mesma que pensava ter perdido. Decidiu que precisava compartilhar isso com Robson. Talvez, ao vê-la feliz, ele pudesse entender que aquilo era importante para ela.

Chegando em casa, Fátima encontrou Robson na sala, assistindo televisão. Tomando coragem, ela se aproximou e se sentou ao lado dele.

— Robson, eu tive minha primeira aula de piano hoje. — disse ela, tentando manter o tom leve.

Ele desviou os olhos da tela por um momento, olhando-a com desinteresse. — E daí? Isso vai te ajudar a emagrecer?

As palavras dele atingiram Fátima como uma lâmina fria. Ela respirou fundo, tentando não se deixar abalar. — Não tem a ver com emagrecer, Robson. Tem a ver com o que eu amo fazer. Com algo que me faz feliz.

Robson deu de ombros, voltando os olhos para a TV. — Se fosse algo útil, eu até entenderia. Mas gastar tempo com isso... não vai resolver nossos problemas.

Fátima sentiu o desânimo crescer dentro dela. Ela havia esperado que ele pelo menos mostrasse um pouco de interesse, mas em vez disso, suas palavras a deixaram ainda mais confusa. Ela se levantou, sem saber o que dizer.

Enquanto subia as escadas, ouviu o barulho do celular. Era uma mensagem de Diana:

**Diana:** "Oi, Fátima. Como foi a aula? Estou curiosa para saber como você se sentiu!"

Fátima sorriu, sentindo uma onda de gratidão pela amiga. Respondeu rapidamente, contando os detalhes da aula e mencionando a decepção com a reação de Robson.

**Diana:** "Eu sinto muito que ele não esteja te apoiando. Mas não deixe isso te desanimar. Você está fazendo isso por você, e eu estou aqui para te ajudar a lembrar disso. Não desista."

As palavras de Diana a confortaram de imediato, mas também trouxeram à tona a confusão que ainda pairava no ar entre elas. Aquele quase beijo no porão ainda estava fresco em sua memória. Apesar do momento estranho, a conexão com Diana parecia ser o único ponto de luz em meio à tempestade.

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