No escuro, entrelinhas...

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O cinema sempre teve algo de mágico, e naquele dia, a magia parecia pairar ainda mais no ar.
Durante o caminho, Fátima estava dividida entre a excitação do momento e a crescente tensão que parecia existir entre ela e Diana. Estavam sentadas lado a lado no carro, e a proximidade aumentava a temperatura da situação. Fátima olhava pela janela, tentando se concentrar no movimento da cidade à noite, mas podia sentir o leve toque dos braços entre elas. Era como se cada movimento, por menor que fosse, enviasse uma faísca.

Chegaram ao cinema o grupo, animado, se dirigiu ao balcão para comprar os ingressos. Bruna estava à frente, já escolhendo os sabores de pipoca, enquanto Hugo brincava sobre qual filme seria o "menos chato". Fátima e Diana estavam um pouco mais atrás, quase que em seu próprio mundo.

— Você já assistiu esse filme? — perguntou Diana, tentando puxar assunto enquanto eles caminhavam para a fila.

— Não, na verdade, não tenho ido ao cinema há um tempo. — Fátima respondeu, o tom leve, mas com um toque de nervosismo. Ela ainda sentia o efeito do toque de Diana no carro e, por mais que tentasse se concentrar no momento, seus pensamentos continuavam a vagar para aquele instante.

— Vai gostar, então. — Diana sorriu, um sorriso que era mais do que apenas sobre o filme. Era como se houvesse algo a mais ali, uma espécie de mensagem escondida.

Entraram na sala de cinema, e Bruna logo encontrou os lugares perfeitos no meio da sala, com a tela gigante bem à frente. Fátima sentou-se entre Diana e Bruna, enquanto Hugo sentou ao lado da filha, já reclamando do preço das bebidas. As luzes começaram a diminuir, e o burburinho das pessoas na sala foi aos poucos desaparecendo.

Fátima sentia o coração bater acelerado sempre que seus braços roçavam acidentalmente nos de Diana. Ela queria dizer algo, queria quebrar o silêncio, mas as palavras pareciam presas na garganta. Ao mesmo tempo, Diana também parecia diferente, inquieta, como se estivesse travando uma batalha interna.

— Tá gostando do filme? — Diana sussurrou no ouvido de Fátima, sua voz baixa, quase um segredo.

Fátima virou o rosto levemente, encontrando o olhar de Diana, e por um breve instante, as palavras falharam. Seus olhos se encontraram, e havia uma intensidade que fez Fátima esquecer completamente do que estava passando na tela.

— Sim, está... bom. — Fátima respondeu, sentindo seu rosto corar. Mas não era o filme que estava realmente prendendo sua atenção.

A meia-luz do cinema criou um clima íntimo, como se aquele fosse o lugar perfeito para que algo mais acontecesse entre elas. Fátima sentiu o coração acelerar quando Diana, quase sem querer, deslizou os dedos por seu braço, um gesto delicado, mas carregado de intenção. O toque foi breve, mas suficiente para fazer Fátima prender a respiração.

Durante o restante do filme, a tensão entre elas só aumentou. A cada pequena troca de olhares, cada leve toque, parecia que estavam construindo algo mais profundo, mais íntimo, algo que nem o barulho das cenas de ação do filme poderia abafar. Era como se o mundo lá fora não existisse mais, e tudo se resumisse àqueles momentos compartilhados no escuro.

Quando o filme acabou e as luzes do cinema se acenderam, Fátima soltou um suspiro que nem percebeu que estava segurando. Caminharam em direção ao carro, e as ruas silenciosas da noite contribuíam para o clima quase irreal que Fátima sentia. O breve silêncio durante o trajeto de volta era preenchido pelos pensamentos confusos de ambas.

Ao chegarem ao condomínio, Bruna e Hugo entraram primeiro, rindo de uma piada interna sobre o filme. Fátima e Diana ficaram na porta, hesitantes. Um silêncio carregado pairou entre as duas.

— É... acho melhor eu ir... — murmurou Fátima, a voz carregada de incerteza. Ela deu um passo para trás, pronta para seguir, mas antes que pudesse se mover completamente, sentiu uma mão suave segurando seu braço.

Diana a segurava, com um olhar profundo e um toque que dizia mais do que qualquer palavra. Parecia que ela queria dizer algo, mas as palavras simplesmente não vinham. As duas se encararam, como se o tempo tivesse parado.

A distância entre elas diminuiu. O olhar intenso de Diana parecia perguntar algo que Fátima ainda não estava pronta para responder. A respiração de ambas se misturava, e o ar ao redor parecia eletrificado. Fátima, sem conseguir evitar, inclinou-se ligeiramente.

E então, aconteceu. Os lábios de Diana e Fátima se encontraram em um beijo rápido, mas cheio de significado, cheio de desejo reprimido. Um beijo que, embora breve, carregava uma promessa de algo mais. Elas se afastaram imediatamente, assustadas com o que tinham acabado de fazer.

Antes que pudessem processar, Robson apareceu na entrada, o que fez o coração de Fátima parar por um segundo. Ele olhou para as duas, com as sobrancelhas franzidas.

— O que está rolando aqui? — perguntou Robson, em um tom meio desconfiado, mas ainda com a curiosidade de quem não tinha certeza do que viu.

Fátima congelou. Seu rosto se transformou numa máscara de surpresa e medo. Ela olhou para Diana, que também parecia paralisada. Por um instante, o mundo ao redor delas sumiu, e tudo o que restava era a incerteza do momento. Sem conseguir lidar com o que acabara de acontecer, Fátima deu um passo para trás, sentindo-se perdida.

— Eu... eu preciso ir. — disse ela, a voz trêmula, antes de se virar apressadamente e caminhar para sua casa, sem olhar para trás.

Robson ficou parado, observando Fátima ir embora, confuso com a reação dela. Ele olhou para Diana, esperando alguma explicação, mas Diana permaneceu em silêncio, sentindo o peso do momento cair sobre seus ombros. Ela sabia que aquele beijo mudaria tudo, e agora não tinha mais volta.
Robson observou o desconforto de ambas e, com o cenho franzido, questionou Diana:

— O que tá rolando aqui?

— Não é da sua conta, Robson — disse Diana, seca, antes de virar-se e entrar em casa sem olhar para trás.

Robson, surpreso com a atitude de Diana, foi atrás de Fátima para questionar o que acabará de acontecer. Robson, com o típico tom de superioridade que sempre usava, entrou no quarto e perguntou:

— E você? Por que está agindo assim?

Fátima engoliu em seco, seu silêncio revelando o turbilhão que se passava dentro dela. Os pensamentos sobre Diana, o que sentia e o que acabara de acontecer ainda a consumiam, e a voz de Robson parecia distante, um ruído que ela não conseguia processar completamente.

— Você não vai falar nada? — insistiu Robson, impaciente. — Olha, Fátima, eu já estou cansado dessa sua fase. Você precisa se cuidar, emagrecer, voltar a ser aquela mulher de antes. O que aconteceu com você?

Cada palavra de Robson era uma faca afiada, e Fátima sentiu a pressão no peito aumentar. Ele continuava a criticá-la, a empilhando expectativas e frustrações sobre o que ele achava que ela deveria ser. E então, algo dentro dela quebrou.

— Me deixa em paz! — Fátima gritou, com a voz trêmula, mas cheia de raiva. — Sai daqui, Robson! Sai do quarto agora!

Robson, pego de surpresa pela reação dela, deu um passo para trás, sem saber como reagir. Pela primeira vez, ele parecia sem palavras. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.

— Eu não aguento mais! — continuou Fátima, sua voz agora mais baixa, mas ainda firme. — Você me sufoca, me diminui... Eu só quero que você me deixe em paz.

Sem saber o que fazer, Robson balbuciou algumas palavras, mas logo deixou o quarto, batendo a porta atrás de si. Fátima permaneceu parada por alguns segundos, o som da respiração pesada ecoando pelo cômodo. Sentou-se na cama, as mãos trêmulas, sentindo o peso do que havia acabado de acontecer. Não era apenas sobre o confronto com Robson. Era sobre tudo o que ela vinha guardando dentro de si, especialmente em relação a Diana.

Ela deitou-se, o cansaço emocional tomando conta, e logo adormeceu, envolvida por pensamentos confusos e dolorosos.

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