O peso do silêncio

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Os dias que seguiram o desencontro foram inquietos para ambas. Fátima tentava se concentrar nas atividades diárias, mas era impossível ignorar a sensação de vazio que a acompanhava. A cada manhã, despertava com um aperto no peito, como se algo precioso tivesse escorregado por entre seus dedos. Ela sentia falta de Diana, do toque, do olhar que a fazia sentir-se amada.

Numa dessas manhãs, impulsionada por saudade e arrependimento, pegou o celular e digitou uma mensagem para Diana: *"Podemos conversar? Não sei se é tarde demais, mas não consigo parar de pensar em nós."* As palavras pareciam certas naquele instante, mas o medo tomou conta. Hesitante, apagou a mensagem e largou o celular. "E se eu só complicar mais as coisas?" pensou, com o coração apertado.

Enquanto isso, Diana tentava ocupar a mente, imersa no trabalho e nos compromissos com a casa, mas nada parecia capaz de distraí-la. A dor transparecia em cada gesto e nos olhares perdidos que lançava pela janela. Durante o jantar daquela noite, Bruna a observava, notando que a mãe estava ainda mais distante que o habitual.

Depois do jantar, enquanto Diana se mantinha pensativa na sala, Bruna a abordou, preocupada:

— Mãe... — começou Bruna, com uma voz suave.

Diana levantou o olhar, tentando disfarçar a tristeza.

— Oi, meu bem. Precisa de alguma coisa?

Bruna hesitou, mas resolveu ser direta:

— É algo com a Fátima, não é? — perguntou, sem rodeios. — Você está tão distante esses dias... quase ausente.

Diana desviou o olhar, surpresa pela percepção da filha. Não queria envolver Bruna naquilo, mas sabia que não conseguiria esconder.

— É complicado, filha — respondeu, a voz embargada.

Bruna se aproximou, sentando-se ao lado da mãe e segurando sua mão.

— Eu não sei exatamente o que está acontecendo, mas já percebi que você gosta dela. E está tudo bem, mãe. Mas... eu odeio ver você sofrendo desse jeito.

Diana tentou sorrir, sentindo-se vulnerável e ao mesmo tempo confortada.

— Eu e a Fátima... somos como duas metades que tentam se encaixar, mas sempre falta algo. Ela quer estar comigo, mas parece sempre existir uma barreira entre o que queremos e o que podemos ter.

Bruna a olhou com compaixão, apertando levemente sua mão.

— Talvez você precise dizer isso pra ela. Ou entender até onde você está disposta a ir, mãe. Não sei... mas você merece alguém que queira estar com você por inteiro.

As palavras da filha tocaram fundo, e Diana apenas abraçou Bruna. O silêncio que se seguiu era preenchido por uma compreensão mútua e não dita, um apoio silencioso que Bruna oferecia à mãe.

No dia seguinte, Fátima, sem conseguir mais suportar o peso do silêncio, decidiu sair para caminhar e clarear a mente. Caminhando pelas alamedas do condomínio, seus pensamentos voltavam sempre para Diana, a conexão intensa que haviam vivido e o medo de perdê-la para sempre.

Quando passou pelo café do condomínio, avistou Diana sentada próxima à janela, com uma xícara de café entre as mãos, olhando para fora. Seus olhares se cruzaram por um instante, e Fátima sentiu o coração acelerar. Diana manteve o olhar, mas não esboçou nenhum movimento para se levantar.

Respirando fundo, Fátima entrou no café e se aproximou com passos hesitantes.

— Diana... podemos conversar? — sussurrou, quase implorando.

Diana levantou o olhar para ela, os olhos refletindo a mágoa guardada.

— Agora você quer conversar, Fátima? Depois de tudo? — rebateu, em um tom que misturava dor e frustração.

Fátima baixou os olhos, buscando palavras que explicassem seu turbilhão de sentimentos.

— Eu sei que falhei com você.... Mas eu... eu não consigo parar de pensar em nós. Em tudo que poderíamos ter sido e...

Diana soltou um suspiro cansado, cortando-a antes que pudesse terminar.

— Fátima, toda vez é a mesma coisa. Eu sinto que estou dando tudo de mim, mas você nunca consegue se decidir. E eu... não sei quanto tempo mais consigo ficar nessa espera. Eu tenho uma vida, sabe? Não posso ficar presa a algo que talvez nunca aconteça.

Um silêncio pesado caiu entre elas, enquanto Fátima absorvia as palavras de Diana. Ela tentou pegar a mão de Diana sobre a mesa, mas Diana puxou para si, o gesto cheio de firmeza.

— Eu estou perdendo o controle da minha própria vida esperando por algo que talvez nunca venha, Fátima. — Diana continuou, com a voz embargada. — Sabe o que mais dói? Eu estava disposta a enfrentar tudo por nós. Mas parece que você nunca vai estar pronta. E talvez... talvez eu não consiga mais esperar.

Diana se levantou, lançando um último olhar antes de sair. Fátima permaneceu sentada, paralisada pela tristeza e pela culpa que pesavam em seu peito. Ela soube, naquele instante, que estava prestes a perder Diana — e tudo porque não conseguira abrir mão dos medos que a aprisionavam.

Fátima ficou ali, ainda sentada, absorvendo a dor crua do momento. Observava a cadeira vazia onde Diana estivera segundos atrás, como se esperasse que ela voltasse. Sabia que tinha que fazer algo para mudar aquilo, mas a insegurança a paralisava.

Depois de alguns minutos, sentiu o celular vibrar e, com o coração na garganta, verificou a notificação. Era uma mensagem de Robson. O contraste entre o cotidiano que vivia e a intensidade dos sentimentos por Diana a sufocava. Sentiu uma lágrima escorrer, um misto de arrependimento e impotência.

De volta ao condomínio, Fátima subiu lentamente as escadas até seu porão. Cada passo parecia mais pesado que o anterior, enquanto a imagem de Diana e das palavras dela ecoavam em sua mente. Ao entrar, olhou o piano na sala, e os dedos vacilaram sobre as teclas, mas não conseguiu tocar. Sentou-se no chão, abraçada aos próprios joelhos, tentando encontrar forças. Por dentro, era como se algo estivesse sendo destruído, uma parte de si mesma que ela sabia que pertencia a Diana.

Após algum tempo, finalmente se levantou, com os olhos ainda marejados e uma resolução hesitante em sua mente. Pegou o celular novamente, abrindo a tela de conversa com Diana. Pensou em todas as palavras que queria dizer, em tudo que precisava pedir perdão e em todas as promessas que desejava fazer. Mas o medo de uma resposta fria a paralisava.
Então, escreveu uma mensagem simples:

*"Diana, eu sinto muito... por tudo. Talvez seja tarde demais, mas queria que você soubesse que você foi... você é o que existe de mais verdadeiro pra mim."*

Suspirando, Fátima apertou "Enviar" e ficou ali, com o olhar fixo na tela, esperando por uma resposta que, no fundo, temia não vir.




Att: nem tudo é flores, né? 🥺 mas calma que o acerto vem de uma forma lindíssima 💜
Mais tarde solto outro, hein

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