A manhã de domingo já passava, e Fátima caminhava de um lado para o outro em sua sala, tentando manter a calma antes do recital. O celular estava em sua mão, e seus dedos hesitavam enquanto ela digitava e apagava várias mensagens para Diana, até que finalmente decidiu enviar uma simples:
*"Espero muito te ver lá mais tarde..."*
Do outro lado, Diana olhava a mensagem com o coração apertado, mas optou por não responder. A mágoa ainda era recente, cada palavra da última discussão ecoava em sua mente. Diana tentou focar em qualquer outra coisa, mas não conseguiu evitar o turbilhão de pensamentos. Hugo chegou do trabalho e a encontrou sentada no sofá, distraída.
— Vai ao recital da Fátima? — ele perguntou, quebrando o silêncio.
Diana o olhou, hesitante, como se buscasse uma resposta dentro de si.
— Eu... não sei — respondeu vagamente.
— Mas vocês estavam tão próximas. O que houve? — ele insistiu, curioso.
Ela suspirou, um tanto evasiva.
— Só desencontros, Hugo. Nada demais.
Ele a observou em silêncio, desconfiado, mas preferiu não insistir. No fim, Diana decidiu ir. Escolheu com cuidado um vestido azul-bebê que realçava seu olhar, e desceu as escadas com o cabelo impecavelmente arrumado. Ao vê-la, Hugo sentiu-se atraído e segurou a mão dela, girando-a suavemente.
— Você está linda — disse, tentando beijá-la.
Ela recuou sutilmente.
— Melhor não... posso borrar o batom — justificou, evitando o contato.
Ele riu, comentando:
— Desse jeito, você vai roubar a atenção mais do que a própria Fátima.
Diana sorriu de canto, mas o olhar se perdeu ao responder, quase em um murmúrio:
— Impossível... Fátima é linda demais.
Hugo notou o tom dela e a encarou com uma curiosidade renovada, a suspeita crescendo.
No recital, Fátima observava a porta da entrada, ansiando por um sinal de Diana. Quando foi chamada ao palco, respirou fundo, sentindo o peso da decepção ao perceber que Diana talvez não viria. Sentou-se ao piano, preparando-se para começar, mas não conseguiu resistir a um último olhar para a porta... E lá estava Diana, ao lado de Hugo, entrando no auditório. Fátima sorriu levemente, aliviada.
Com as mãos trêmulas, começou a tocar, mas o nervosismo a dominou, e ela acabou errando uma nota. Alguns cochichos surgiram na plateia, e Fátima viu o sorrisinho irônico de Robson, que sussurrou algo baixo, como se dissesse: "Eu sabia que ela não era capaz." Desesperada, ela lançou um olhar angustiado para Diana e, ao professor, murmurou:
— Desculpa... não consigo.
Levantou-se rapidamente e correu para o camarim, deixando a plateia confusa. Diana sentiu o peito apertar e, sem pensar duas vezes, virou-se para Hugo.
— Vou atrás dela — disse, decidida.
— Fazer o quê? Isso não é problema seu — Hugo segurou o braço dela, frustrado.
— Me solta, Hugo! — Diana respondeu, impaciente, e seguiu em direção ao camarim.
Lá, encontrou Fátima sentada, os ombros curvados, o olhar perdido e as mãos trêmulas. Diana fechou a porta devagar e aproximou-se, falando em um tom suave.
— Fátima... — disse, tocando de leve o ombro dela. — Você tocou lindamente. Cada nota... parecia falar por você.
Fátima levantou os olhos, ainda visivelmente abalada.
— Não sei se consigo continuar, Diana. Me sinto uma fraude. E... talvez você nem devesse ter vindo — sussurrou, desviando o olhar, a voz embargada pela insegurança.
Diana se aproximou, segurando as mãos dela com carinho.
— Ei... eu vim porque queria te ver. E porque sei o quanto isso é importante pra você. — Diana a olhou nos olhos, e havia algo a mais em seu tom, um afeto profundo que Fátima não conseguia ignorar. — Quando você começou a tocar... Fátima, parecia que estava falando comigo, com seu coração. Eu senti cada emoção.
Fátima engoliu em seco, emocionada, buscando forças no olhar de Diana.
— Você estava realmente ouvindo? — sussurrou, quase sem acreditar.
Diana assentiu, os olhos brilhando.
— Cada nota, Fátima. Eu senti a sua dor, suas inseguranças, tudo. E não quero que pense que está sozinha. Eu estou aqui. Estou com você.
Houve um silêncio, onde apenas os olhares falaram, e Diana a puxou para um abraço aconchegante. Fátima fechou os olhos, deixando-se envolver naquele momento. Sentia-se compreendida, acolhida, e isso lhe deu forças.
— Obrigada, Diana... — murmurou, sua voz tremendo.
Diana se afastou ligeiramente, segurando o rosto dela com carinho.
— Agora, volte para lá. Mostre a todos o quanto é talentosa. Mostre a eles a mulher incrível que eu vejo.
Inspirada, Fátima respirou fundo e se recompôs. Ela voltou ao palco, e, dessa vez, sua música foi intensa e envolvente, cada nota expressando seus conflitos, a recente briga com Diana, o desgaste de seu casamento com Robson. Diana, na plateia, ficou profundamente emocionada, os olhos marejados enquanto ouvia. Ela sentia cada emoção como se fosse dela, e Hugo, ao lado, notou o olhar intenso e quase apaixonado de sua esposa para Fátima.
Quando Fátima terminou, o auditório explodiu em aplausos. Diana estava radiante, mas Robson permaneceu sentado, os braços cruzados e o semblante fechado. Hugo aplaudiu de pé, embora seu olhar não fosse de completa satisfação. Ao final, Diana e Hugo se aproximaram de Fátima.
— Foi incrível, Fátima! — Diana disse, emocionada, tentando conter o brilho nos olhos.
— Você superou a expectativa — Hugo concordou, embora seu tom soasse levemente incômodo.
Robson, no entanto, não conteve as críticas.
— Esperava que fosse melhor. E aquela primeira parte? Um desastre — disse ele, com frieza.
Fátima se encolheu, mas Diana apertou de leve sua mão, em um gesto de apoio silencioso.
— Eu vou pegar minhas coisas no camarim — Fátima disse, forçando um sorriso e saindo.
Diana, inquieta, não resistiu e foi atrás dela mais uma vez. No camarim, Fátima estava sozinha, olhando o reflexo no espelho, e quando viu Diana, não conseguiu conter as lágrimas que já estavam por vir.
— Eu achei que ia falhar, que... — Fátima começou, mas foi interrompida quando Diana se aproximou, segurando seu rosto com as duas mãos.
— Você não falhou, Fátima. Você foi incrível. Não deixe ninguém, nem o Robson, te fazer acreditar no contrário. Você é maravilhosa.
As palavras e o olhar carinhoso de Diana eram como um bálsamo, e Fátima não pôde resistir. Num impulso, elas se aproximaram e compartilharam um beijo profundo, cheio de emoção e saudade. Tudo o que sentiram estava ali, sem palavras, sem reservas. Elas se afastaram lentamente, ainda com os rostos próximos, respirando o mesmo ar.
— Eu nunca quis brigar com você, Diana. Nunca... — sussurrou Fátima, com os olhos marejados.
— Eu também não. Acho que sempre foi o medo de te perder — Diana respondeu, emocionada.
Antes que pudessem reagir, ouviram um leve som de passos. Hugo estava parado na porta, seus olhos refletindo a dor e o choque do que acabara de ver.
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Minha DOCE vizinha
FanfictionEm um momento onde a luta pela liberdade é constante, Diana e Fátima, vizinhas e casadas, se tornam aliadas em suas batalhas pessoais. Enquanto Diana vive sob o domínio de um marido possessivo, ciumento e luta para criar sua filha em um ambiente seg...