#19

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O estúdio de Marina estava envolto em um silêncio confortante, exceto pelo som suave do pincel deslizando na tela. As cores vibrantes tomavam vida sob suas mãos habilidosas, mas a tensão interna não desaparecia. A conversa com Hector ainda a perturbava. Ela não conseguia entender por que fora punida por algo que ambos haviam desejado. A memória da punição a enchia de uma raiva contida.

"Foi tão errado assim?" Marina se perguntou em silêncio, enquanto misturava as tintas. Sua mente vagava, refletindo sobre as regras que Hector havia imposto.

A porta do estúdio se abriu suavemente, trazendo Clair, a governanta, carregando uma bandeja. "Marina, querida, trouxe algo para você comer. Não é bom ficar tanto tempo sem se alimentar."

Marina agradeceu com um sorriso forçado, sua cabeça ainda cheia de pensamentos conflitantes. "Estou bem, Clair. Só quero terminar isso."

"Não  exagere demais, menina. Sua arte é maravilhosa, mas sua saúde é mais importante," Clair advertiu, colocando a bandeja na mesa próxima.

Antes que Marina pudesse responder, a porta se abriu novamente. Desta vez, Julie, a nova secretária de Hector, entrou com um sorriso radiante, seu vestido justo destacando a confiança que exalava. Ela segurava uma pequena prancheta e uma caixa de papelão, parecendo animada.

"Oi, Marina! Desculpe interromper, mas Hector pediu para verificar se você precisava de mais materiais," Julie disse, sua voz doce demais para o gosto de Marina.

Marina ergueu uma sobrancelha, surpresa pela interrupção. "Materiais?"

"Sim! Tintas, telas, pincéis... qualquer coisa que você precise para continuar seu trabalho," Julie respondeu, caminhando até a mesa e pousando a caixa com cuidado. "Eu trouxe algumas amostras para você ver."

Marina sentiu uma leve irritação crescer dentro dela. O estúdio era o seu refúgio, seu espaço criativo. A presença de Julie parecia uma invasão. "Eu tenho tudo o que preciso, mas obrigada."

Julie sorriu, mas seus olhos brilhavam com algo mais. "Certo. Eu só quero ter certeza de que você tem tudo o que precisa. Hector faz questão de cuidar bem de quem ele... valoriza."

A escolha das palavras fez o sangue de Marina subir à cabeça. Ela estreitou os olhos para Julie, percebendo o subtexto na fala dela. "Eu sei muito bem o quanto Hector me valoriza."

Julie pareceu absorver o desafio na voz de Marina, mas manteve a postura descontraída. "Claro, claro. Ele realmente fala muito sobre você. Ah, e se precisar de algo, estarei por perto."

A tensão no ar era palpável. Marina percebeu o tom de Julie, a provocação disfarçada de cortesia. "Eu não preciso de nada," Marina declarou firmemente, sentindo a frustração de ser posta à prova.

"Entendo." Julie fez uma pausa, observando a tela de Marina com interesse. "Sua arte é incrível. Espero poder acompanhar mais de perto suas criações."

Marina encarou Julie por um momento, antes de se virar para sua pintura novamente. "Tenho muito trabalho a fazer. Obrigada por se preocupar."

Com um último sorriso, Julie assentiu e se retirou, deixando a atmosfera no estúdio densa. O espaço parecia menor, e Marina sentia como se cada palavra de Julie fosse uma ameaça velada, uma lembrança de que seu relacionamento com Hector estava sob escrutínio.

Assim que a porta se fechou, Marina soltou um longo suspiro, apertando o pincel com força. As emoções giravam dentro dela — frustração, ciúmes, e aquela sensação constante de que estava sendo desafiada. Por Hector, por Julie, e por ela mesma.

Ela voltou à tela, determinada a canalizar sua raiva em sua arte. Mas as palavras de Julie ainda ecoavam em sua mente. Hector era um homem desejado, poderoso. E as regras? Essas malditas regras...

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