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Marina estava sentada à mesa da cozinha, com uma xícara de chá quente em mãos, observando as luzes da cidade se acenderem na manhã clara. O horizonte se estendia à sua frente, e a visão a fascinava, embora seu coração estivesse conturbado. Era um espetáculo e um frenesi, e ela se sentia uma intrusa em sua própria vida.

“Você parece distante,” Clair comentou, entrando na cozinha com uma graça tranquila, sua voz demonstrando a experiência de quem sempre esteve atenta às necessidades de Hector e, por consequência, de Marina. "Tem algo em mente?"
Marina respirou fundo, tentando reunir suas emoções em palavras. “É só a vista, Clair,” ela respondeu, tentando esconder a confusão que se aglomerava dentro dela. “Às vezes, tudo isso parece tão... intenso.”

“Intensidade pode ser um bom sinal,” Clair disse, enquanto se acomodava na cadeira ao lado dela, após ter preparado o almoço. “É assim que crescemos.”

A governanta tinha razão. As emoções estavam aflorando, e Marina começou a perceber que cada experiência com Hector — por mais desafiadora que fosse — estava a moldando de maneiras que nunca poderia ter imaginado. O calor do chá subia, e a brisa fresca daquela manhã trazia uma nova perspectiva. Mesmo envolta em um mar de incertezas, havia uma força dentro de si que crescia a cada dia. E, embora temesse o caminho que escolhera, Marina sabia que não voltaria atrás.

“Eu sinto como se estivesse presa a tudo isso,” Marina admitiu, a vulnerabilidade apertando seu coração. “Preciso de algo mais... preciso de interação social.” O desejo de vivenciar mais do mundo exterior a consumia, uma necessidade de se conectar com outras pessoas além de Hector e Clair.

Clair a observou com empatia, a expressão de compreensão iluminando seu rosto. “Às vezes, um pouco de interação com o mundo é exatamente o que precisamos para nos lembrar de quem somos,” disse ela, suas palavras calorosas. “Você é uma artista, Marina. E sua vida não deve se limitar a estas paredes.”

O olhar de Marina se voltou para o horizonte da cidade, as luzes brilhantes parecendo prometer algo novo. Um pequeno sorriso brotou em seus lábios, enquanto uma ideia começava a tomar forma. “Talvez eu devesse procurar um pouco desse espaço fora da cobertura,” pensou. “Fazer algo diferente, me conectar com pessoas que compreendem a arte da forma que eu gostaria de expressar.”

“Isso mesmo,” Clair incentivou, seu tom de apoio aquecendo o coração de Marina. “Você tem esse brilho, e o mundo precisa conhecê-lo. Não deixe que os desafios a impeçam de brilhar.”

Enquanto seu passado desaparecia lentamente em suas
memórias, Marina sentiu a determinação crescer dentro de si. A necessidade de interação social pulsava em seu peito, tão intensa quanto o desejo que experimentava em sua dinâmica com Hector. Com um novo foco, ela percebeu que estava se preparando para confrontar não apenas as inseguranças em sua vida, mas também para buscar novas oportunidades e conexões que a tornariam mais completa.

Marina olhou uma última vez pela janela, sentindo o coração acelerar. A vida na cobertura, por mais luxuosa que fosse, estava começando a se sentir claustrofóbica. Com um impulso de liberdade, ela decidiu que precisava de um tempo para si mesma. “Hoje, vou sair,” pensou, uma determinação queimando em seu interior.

Ela se levantou, ajeitando os cabelos e vestindo um casaco leve. Clair, ocupada organizando a cozinha, não percebeu sua saída. Marina respirou fundo e caminhou em direção à porta, decidida a escapar da rotina aprisionante.

Assim que atravessou a entrada do prédio, um sentimento de alívio a envolveu. O ar fresco e a movimentação das pessoas por trás da fachada da cobertura trouxeram um sopro de normalidade que Marina ansiava. Mas, ao mesmo tempo, a realidade a atingiu. O segurança de Hector estava lá, sempre presente, mantendo uma vigilância atenta.

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