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A luz suave da tarde filtrando-se através das janelas do estúdio de Marina,iluminando as pinceladas vibrantes que adornavam a tela. Enrolada em um roupão macio, ainda sentia a água quente do banho escorrendo pela pele, como se estivesse purificando não apenas seu corpo, mas também sua alma, buscando libertar-se das correntes invisíveis que a aprisionavam. A Monalisa, eternamente enigmática, observava-a, como se entendesse suas lutas internas.

Enquanto se perdia em sua arte, a porta do estúdio se abriu com um estrondo. Hector entrou, seu olhar como uma tempestade prestes a desabar. Ele não se importava com a pintura ou com a luz suave; o que importava era que Marina estava ali, despreocupada com sua ausência, alheia ao tumulto que sua fuga havia causado.

“Marina,” ele chamou, sua voz soando como um trovão. “Precisamos conversar.”

Ela não olhou para ele, apenas continuou a adicionar toques à sua obra, um ato de rebeldia silenciosa. O cheiro de tinta e solvente preenchia o ar, e por um momento, parecia que a arte poderia ser seu refúgio, seu escape.

“Você acha que pode simplesmente me ignorar?” Hector avançou, seu corpo tenso, emanando uma energia dominante. Ele se aproximou da mesa, os olhos fixos na tela, mas ainda mais na mulher à sua frente. “Independente de tudo o que aconteceu, você ainda é minha, e eu ainda sou seu dom.”

Marina virou-se lentamente, seus olhos desafiadores encontrando os dele. “Você acha que me prender com palavras e regras vai mudar como me sinto?” Sua voz era suave, mas carregava uma força inesperada.

“Não se trata de prender, mas de entender os limites entre nós,” Hector respondeu, seu tom mais baixo, mas a intensidade não diminuía. “Você não pode simplesmente sair escondido e achar que não haverá consequências. Acredite, isso é o que me preocupa.” Ele deu um passo à frente, a presença dele dominando o espaço entre eles.

“Eu não sou uma propriedade, Hector,” ela disse, a coragem crescendo dentro dela. “Você pode ser o dom, mas isso não significa que eu deva aceitar sua posse. Amar alguém não é controlá-lo, é libertá-lo.”

Hector respirou fundo, a frustração visível em seu rosto. Ele se aproximou ainda mais, a tensão entre eles quase palpável. “E você acha que isso é amor? Ir embora sem avisar? Deixar um rastro de caos? Eu estava preocupado com você.”

“Preocupado ou sendo controlador?” Marina retrucou, o coração acelerando. A chama da resistência queimava dentro dela, desafiando a dinâmica que sempre estivera presente entre eles. “Eu preciso de espaço, de liberdade.”

Ele a observou, a confusão e a raiva em seu olhar. “Você pode ter liberdade, mas sempre será minha. Não importa o que aconteça. Eu cuido de você, e isso não mudará.”

Marina riu, um som agudo que ecoou pelo estúdio. “Cuidar não é o mesmo que controlar, Hector. Eu sou uma artista, não uma prisioneira. Se você realmente me ama, precisa deixar que eu escolha meu caminho.”

O silêncio entre eles era denso, uma batalha silenciosa entre desejo e liberdade. Hector se aproximou, os dedos tocando o queixo dela, forçando-a a encará-lo. “E se eu disser que isso é uma ordem?”

Ela sentiu o toque quente, mas, ao invés de se curvar, respondeu com um olhar determinado. “E se eu disser que você não pode me dar ordens? A escolha é minha, e eu não vou deixar de ser quem sou por causa do que você deseja.”

As paredes do estúdio pareciam se fechar, a tensão entre eles um fio prestes a se romper. Hector, em um ato de desespero, declarou: “Eu amo você, Marina.” A vulnerabilidade de sua voz era palpável, mas ela não cedeu.

“Você pode até dizer que me ama, mas não sabe o que isso significa. Se eu quiser, eu vou embora,eu fujo!,” ela respondeu, seu coração batendo rápido, decidida a não se deixar levar pelo momento. E, com isso, virou-se de volta para sua pintura, uma barreira entre eles, reafirmando que sua liberdade era mais preciosa que qualquer amor que ele pudesse oferecer.

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