Capítulo 1

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Any segurava o volante com tanta força que seus dedos estavam esbranquiçados. O trânsito fluía lentamente, mas sua mente corria em uma velocidade absurda, revirando cada detalhe do que acabara de descobrir.

O ar parecia faltar, como se o peso da informação comprimisse seu peito, tornando cada respiração uma luta.Ela se esforçava para se concentrar na estrada, mas as imagens e pensamentos a invadiam sem piedade, ainda não acreditava que até seu filho estava envolvido nisso, isso era o que mais doía.

Ela piscava os olhos rapidamente, tentando dispersar o borrão de lágrimas que ameaçava atrapalhar sua visão. Os postes e as luzes dos carros ao redor pareciam se alongar e distorcer, como sombras que a perseguiam. Sentia-se traída, exposta, e, acima de tudo, esmagada pela realidade que agora se impunha.

"Não… não pode ser verdade," sussurrou, mal ouvindo o som da própria voz sobre o ruído do motor. Mas ela sabia, no fundo, que era real. Cada detalhe fazia sentido, e mesmo que tentasse negar, os fatos se entrelaçavam de maneira cruel, jogando sua vida em um completo descontrole.

Desorientada, Any quase não percebeu o carro à sua frente reduzir a velocidade. Pisou no freio com força, sentindo o cinto de segurança cortar seu ombro enquanto o carro desacelerava bruscamente. Sua respiração estava ofegante, e ela teve que piscar várias vezes para afastar o nervosismo que tomava conta de seu corpo. Precisava parar, precisava respirar, precisava pensar. Mas, apesar disso, continuava dirigindo, como se o ato automático de seguir em frente a ajudasse a fugir daquela angústia esmagadora.

A estrada estava escura, e a chuva fina que caía fazia o asfalto brilhar sob as luzes amareladas. Por um instante, ela desviou o olhar da pista, encarando o reflexo trêmulo de si mesma no retrovisor. Seus olhos estavam inchados, as lágrimas riscavam seu rosto, e havia uma expressão de dor que parecia arrancada diretamente de seu coração. O que ela faria agora? Como poderia lidar com aquilo?

Mas então tudo aconteceu muito rápido.

Any percebeu tarde demais que havia se aproximado demais da lateral da pista. Ao tentar corrigir, virou o volante de forma brusca, e o carro derrapou no asfalto molhado, girando como se estivesse fora de controle. Sentiu seu corpo ser jogado para o lado, sua cabeça colidindo contra o vidro da janela. Havia um ruído ensurdecedor de metal contra metal, o impacto da batida fazendo todo seu corpo vibrar com a força do choque.

Em questão de segundos, tudo ao seu redor se tornou um borrão. A dor se espalhou por sua cabeça, seu peito e seus braços, e os sons ao redor foram ficando cada vez mais distantes, como se ela estivesse sendo puxada para um lugar profundo e silencioso. A última coisa que Any conseguiu registrar antes de tudo escurecer foi a visão fragmentada das luzes da rua se desfazendo em um brilho, até finalmente apagar por completo.

O silêncio tomou conta.

[ MESES ANTES ]

Any terminou de preparar o café da manhã, cuidadosamente disposto na mesa da cozinha. Entre torradas, frutas frescas e o suco que ela mesma espremia todas as manhãs, estava tudo ali para garantir que Noah e Jacob começassem o dia da melhor forma. Ela ajeitava os últimos detalhes, verificando se cada coisa estava em seu lugar, esperando que eles descessem a tempo de fazerem uma refeição juntos.

Noah foi o primeiro a chegar, vestindo o terno com o costumeiro ar de quem já tinha o dia inteiramente planejado. Ele pegou uma xícara de café sem sequer olhar para Any, concentrado na tela do celular. Logo depois, Jacob apareceu, de olhos ainda pesados de sono, arrastando os pés até a mesa.

— Bom dia! Fiz o suco de laranja que vocês gostam. E os seus waffles, Jacob! - disse Any, com um sorriso.

Jacob apenas deu de ombros, sentado sem muita disposição. Noah mal ergueu o olhar.

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