Capítulo 8

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A tensão estava no ar quando Any e Jacob começaram a discutir. Ela estava exausta, tentando compreender o comportamento do filho, que havia se tornado cada vez mais distante e rude nos últimos tempos. No entanto, quando ele a insultou de forma desrespeitosa e xingou, algo dentro dela se quebrou. A raiva e a dor misturaram-se em uma tristeza profunda.

— Ah foda-se isso - o garoto soltou com um ar de superioridade - Queria o que um parabéns por todo seu esforço, nem fodendo, não achar melhor volta para as câmeras, lá eles te dão toda a atenção que você quer, quase como uma vadia - Ele se calou assim que notou a expressão de sua mãe

— Jacob, chega! - disse Any, a voz firme e cheia de mágoa. - Você está de castigo. Suba para o seu quarto agora, não vou permitir que me desrespeite assim e nem que desrespeite meu trabalho, trabalho esse que manteve o luxo que você tem até hoje.

Jacob bufou, lançou-lhe um último olhar de desprezo e subiu as escadas, batendo a porta do quarto ao chegar.

Noah, que estava na sala, ouviu toda a discussão e não demorou a se aproximar de Any. Ele cruzou os braços e olhou para ela com uma expressão de reprovação.

— Você pegou pesado com ele, Any - disse Noah, com um tom que parecia mais acusatório do que preocupado. - Jacob está passando por uma fase difícil. Você precisava mesmo deixá-lo de castigo? Você sabe que isso só vai afastá-lo ainda mais de você. Mais uma vez faz tudo errado e depois quer ele próximo de você.

Any sentiu-se ferida pelas palavras de Noah, mas manteve a compostura. Havia algo em seu tom que parecia manipulação, como se ele estivesse tentando fazê-la sentir culpa. Ela respirou fundo, mantendo o controle, mas a dúvida e a culpa começaram a crescer dentro dela. Noah sempre sabia exatamente como fazê-la se questionar.

— Eu só… não posso aceitar que ele me trate desse jeito, Noah. É demais - respondeu Any, a voz mais suave, quase como uma justificativa para si mesma.

Mas Noah apenas deu de ombros e se afastou, deixando-a sozinha. Sem conseguir mais ignorar o peso no peito, Any decidiu subir e tentar falar com Jacob. Ela sentia que precisava se desculpar por alguma razão, talvez aliviar a culpa que Noah havia plantado nela.

Quando se aproximou do quarto de Jacob, ouviu vozes abafadas. Ele estava ao telefone. E então, a voz do filho ecoou fria e amarga pelo corredor, fazendo com que ela parasse abruptamente ao ouvir as palavras dele.

— Eu odeio ela, Sina - murmurava Jacob ao telefone, o tom carregado de ressentimento. - Eu queria que você fosse minha mãe, e não essa mulher. Ela me enche o saco por qualquer coisa, se ela sumisse seria muito melhor, não suporto ela, parece sempre desesperada por atenção

O coração de Any se apertou ao ouvir aquelas palavras cruéis. Sem hesitar, ela abriu a porta, pegando Jacob de surpresa. Ele ficou pálido ao ver a mãe ali, ouvindo tudo.

— O que foi que eu fiz para você, Jacob? - perguntou ela, a voz trêmula de dor. - O que foi que eu fiz de tão ruim?

Jacob não conseguia responder, e Any continuou, as palavras saindo com um misto de tristeza e desabafo que ela não conseguia mais reprimir.

— Tudo o que você tem, Jacob, foi graças a mim. Tudo. Eu sempre me matei de trabalhar para te dar o melhor. Eu sempre estive lá, fazendo de tudo para que você tivesse uma boa vida, coisas que eu nunca tive. E o que recebo em troca é ódio? Desprezo?

Jacob parecia abalado, mas não dizia nada. Any sentiu que finalmente estava colocando para fora tudo o que guardava, e continuou.

— Você nunca me odiou quando acordava e o café da manhã já estava pronto, não é? Nem quando chegava da escola e o almoço estava na mesa. Você adora sua professora de piano, a mesma que eu pago todo mês para te ensinar. Suas roupas estão sempre limpas, passadas, e sou eu quem cuida de tudo. Dinheiro no seu cartão, presentes, tudo… Eu sempre estive ao seu lado, Jacob. Sempre. E tudo o que eu peço é respeito.

Ela parou, a voz falhando. A dor nos olhos de Any era clara. Ela queria tanto entender o que havia de errado, porque o filho parecia vê-la como uma inimiga.

— Eu sempre quis o melhor para você, Jacob. Só que você escolhe me odiar porque eu não aceito ser desrespeitada?

Jacob baixou o olhar, incapaz de sustentar o peso das palavras da mãe. Por um instante, ele parecia a ponto de responder, mas não o fez. A mãe, cansada, deu um último olhar para o filho, cheia de mágoa.

— Pense nisso, Jacob. Pense no que eu já fiz por você. Porque tudo o que eu fiz… foi por amor.

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