Noah, Jacob e Sina caminhavam pelo parque em uma manhã ensolarada. Era o tipo de passeio que se tornara cada vez mais frequente para eles, uma “escapada” da rotina que compartilhavam, embora não fosse para todos. Entre risadas e brincadeiras, eles pararam em um banco próximo ao lago, onde algumas crianças corriam, e famílias aproveitavam o dia ensolarado.
Jacob, sem tirar os olhos do pai, aproveitou uma pausa no passeio para fazer a pergunta que vinha guardando há tempos.
— Pai, quando é que você vai se livrar da minha mãe e casar logo com a Sina? - perguntou, com um tom quase desinteressado, como se estivesse falando do tempo.
Ao ouvir a pergunta do filho de Noah, Sina lançou um olhar divertido para Noah, dando um leve sorriso de cumplicidade. Noah, por sua vez, não resistiu e deixou escapar uma risada despreocupada. Ele se inclinou levemente para frente e deu um beijo rápido nos lábios de Sina, como se fosse a coisa mais natural do mundo, ignorando completamente a seriedade da pergunta de Jacob.
— Em breve, Jacob. Em breve - respondeu Noah, com um tom brincalhão.
Sina, ainda sorrindo, se levantou e olhou para ambos.
— Vou buscar pipoca para nós. Volto já.
Assim que Sina se afastou, Noah olhou para Jacob e, em vez do sorriso casual, adotou um ar mais sério. Chamou o filho para que ele se aproximasse.
— Jacob, preciso que você pare de tocar nesse assunto dessa forma - sussurrou, buscando o olhar do garoto.
Jacob franziu o cenho, claramente sem entender por que Noah estava tão sério de repente.
— Por quê, pai? A gente fala disso o tempo todo… e você mesmo sempre diz que gosta mais dela do que da mamãe.
Noah soltou um suspiro, cruzando os braços. Sabia que Jacob ainda era jovem e talvez não entendesse a complexidade daquela situação.
— É diferente, filho - disse ele em um tom baixo, olhando ao redor para se certificar de que ninguém ouvia. - Eu não posso simplesmente me separar da sua mãe. O dinheiro que a gente tem, que mantém nosso estilo de vida, vem dela. Toda a empresa que eu comando é, na verdade, uma herança dela. Vem da família dela, do seu avô. Se eu me divorciar, as coisas podem mudar.
Jacob pareceu refletir por um momento, ainda confuso.
— Então… você tá com a mamãe só por causa do dinheiro? - perguntou, franzindo a testa.
Noah hesitou. Por mais que ele não quisesse responder a isso diretamente, também sabia que não podia subestimar a inteligência do filho.
— A situação é mais complicada do que parece, Jacob. A sua mãe... Ela sempre teve essa posição, e eu ajudo a cuidar das coisas para ela. Ela nos dá a estabilidade que temos, entende?
Jacob assentiu, mas ainda parecia desconfortável com a resposta. Afinal, para ele, essa ideia de “ajudar” parecia mais uma desculpa para manter as aparências enquanto Noah vivia outra vida ao lado de Sina.
Antes que a conversa pudesse ir além, Sina voltou com a pipoca, e Noah forçou um sorriso ao perceber que o assunto estava encerrado, pelo menos por enquanto.
[...]
Any estava na cafeteria com Nour, tentando colocar em palavras o que tinha acontecido mais cedo naquela manhã. A lembrança ainda estava fresca, e ela tentava explicar os sentimentos mistos que surgiam em seu peito ao falar sobre Noah.
— Eu... Eu não evitei. Não quis criar uma discussão - disse Any, com um suspiro cansado, mexendo distraidamente na xícara de café. - Deixei ele... me tocar, mesmo sem ter vontade. Acho que acabei me acostumando com isso, mas não sei se é certo.
Nour a observava atentamente, uma expressão de preocupação em seus olhos. Ela pegou a mão de Any, oferecendo um gesto de apoio antes de responder.
— Any, você não pode continuar permitindo que o Noah faça o que quiser com você só porque estão casados - disse Nour, com seriedade. - Eu sei que você quer evitar conflitos, mas isso não significa abrir mão de si mesma. Ele precisa entender que o casamento é uma parceria, e que você merece ser tratada com respeito e consideração.
Any suspirou, sentindo-se aliviada por ter alguém em quem confiar. Nour sempre fora sua confidente, uma amiga que lhe dava conselhos sem julgamentos. Mas, mesmo assim, uma pontinha de culpa persistia.
— Eu sei... você tem razão. Acho que só... me sinto presa. Como se ele soubesse exatamente onde mexer para me fazer sentir que tudo vai passar e que é só uma fase - murmurou ela. - Mas, no fundo, não consigo acreditar nisso.
Nour deu um pequeno sorriso solidário, mas antes que pudesse responder, Any notou uma figura conhecida entrando pela porta da cafeteria. Seu coração deu um salto ao ver Josh. Ele estava acompanhado de uma garota, jovem e bonita, e Any sentiu um leve desconforto, uma mistura de curiosidade e ciúme que a pegou de surpresa.
Quando Josh a notou, ele deu um sorriso caloroso e se aproximou.
— Any, que surpresa boa te ver aqui - disse ele, lançando um olhar gentil tanto para ela quanto para Nour. - Esta aqui é minha irmã, Taylor. Ela acabou de chegar para passar uns dias na cidade.
Any sorriu, e uma onda de alívio tomou conta dela ao perceber que a jovem era apenas uma irmã, não uma companheira. Mesmo sem entender completamente o motivo, esse detalhe a fez relaxar um pouco. Porém, a alegria deu lugar a um breve sentimento de culpa, ela sabia que não deveria estar se preocupando com esse tipo de coisa, especialmente considerando o que tinha acabado de conversar com Nour.
— É um prazer te conhecer, Taylor - Any disse, oferecendo um sorriso caloroso para a garota. - Bem-vinda à cidade.
Taylor retribuiu o sorriso e, após alguns minutos de conversa casual, desculpou-se, indo buscar algo no balcão. Josh então aproveitou para se concentrar em Any, com um olhar que parecia captar mais do que as palavras deixavam transparecer.
— Está tudo bem? - ele perguntou, percebendo uma leve hesitação em seu olhar.
Any desviou o olhar por um momento antes de assentir.
— Está sim. Só... um pouco cansada, eu acho.
Josh acenou, parecendo entender mais do que ela dizia.
— Bom, se precisar de algo, você sabe que pode contar comigo, dizem que sou um ótimo advogado - disse ele, com uma voz tranquila.
Any sentiu-se estranhamente confortada por suas palavras. Sabia que Josh estava sendo sincero, e naquele instante, percebeu que, talvez, ele fosse a única pessoa que verdadeiramente a compreendia.
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Memórias Ocultas - Concluída
RomanceAny vive uma vida aparentemente perfeita ao lado de seu marido Noah e de seu filho Jacob. Após um acidente que abalou a rotina familiar, Any desperta para uma realidade que a deixa com mais dúvidas do que certezas. Ao reencontrar Josh, um amigo de i...