Capítulo 24

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O ambiente da casa estava leve naquela manhã, e Any aproveitou o momento para conversar com Jacob. Eles estavam sentados na mesa de café quando ela se virou para ele com um sorriso suave.

— Jacob, tenho uma novidade para você - começou Any, com uma energia entusiasmada que despertou a curiosidade dele. - Vou participar da feira de moda que está para acontecer na cidade, e fiquei sabendo que algumas peças da coleção serão voltadas para adolescentes. Então… pensei se você gostaria de desfilar nelas.

Jacob ficou boquiaberto, surpreso com o convite inesperado. Ele olhou para Any, os olhos brilhando com uma mistura de empolgação e um toque de insegurança.

— Eu? Desfilar? Sério, mãe?

Any assentiu, com um sorriso animado

— Sim! Eu acho que você vai se sair muito bem. E vai ser uma ótima experiência, quem sabe você até descobre um novo hobby.

Jacob sorriu largamente, a empolgação estampada no rosto.

— Eu aceito, mãe! Vai ser incrível. Mal posso esperar!

Nesse momento, Josh entrou na sala, observando o entusiasmo do garoto. Jacob se levantou animado e correu até ele, compartilhando a novidade.

— Josh! Vou desfilar na feira de moda! A minha mãe me convidou!

Josh olhou para Jacob com um sorriso orgulhoso.

— Isso é fantástico, Jacob. Eu tenho certeza de que você vai arrasar. Vai ser incrível, e você vai ficar ótimo nas roupas novas.

Any, pegando sua bolsa e conferindo se estava com tudo o que precisava, se aproximou dos dois.

— Estão prontos para irmos? - perguntou ela, lançando um olhar carinhoso a Jacob e Josh.

Ambos concordaram, e em poucos minutos eles já estavam no carro de Josh, prontos para ir à consulta com a psicóloga. Any olhava pela janela, absorta nos próprios pensamentos, enquanto Jacob ainda estava animado, falando sobre a ideia do desfile. Josh interagia com ele, dando atenção e demonstrando apoio ao entusiasmo do garoto.

Chegando ao consultório, Any e Jacob foram chamados, enquanto Josh aguardava na sala de espera. A psicóloga os recebeu com um sorriso acolhedor e convidou Any para a primeira conversa individual, deixando Jacob na sala de espera.

Jacob se sentou ao lado de Josh e, para passar o tempo, começaram a conversar sobre quadrinhos, um tema que parecia iluminar ainda mais o humor de Jacob.

— Eu adoro quadrinhos - confessou Jacob, com um brilho nos olhos. - Mas Noah nunca me deixava ter nenhum. Ele dizia que era bobagem.

Josh suspirou, sentindo uma pontada de tristeza e indignação ao ouvir isso. Mas, em vez de mostrar seu descontentamento, ele apenas sorriu para Jacob, guardando mentalmente a ideia de presentear o garoto com uma coleção de quadrinhos mais tarde.

Enquanto isso, dentro da sala de consulta, Any estava sentada diante da psicóloga, sentindo uma mistura de alívio e nervosismo. A psicóloga começou a conversa de forma gentil, incentivando Any a contar um pouco de sua história, o que acabou permitindo que ela se abrisse aos poucos.

— Fiquei grávida aos dezoito anos - começou Any, com uma voz suave e um olhar distante, como se estivesse revisitando memórias adormecidas. - Foi assustador, mas eu sempre quis ser mãe. Apesar do medo, eu amei o Jacob desde o momento em que descobri.

A psicóloga assentiu, encorajando-a a continuar.

— E como era o relacionamento com o pai dele?

Any hesitou por um momento, mas continuou, buscando as palavras certas para descrever o que sentia.

— Naquela época, Noah era gentil. Ele parecia gostar da ideia de formar uma família. Pensei que seria uma boa decisão… que daríamos certo juntos. Mas, com o tempo, ele começou a ser... manipulador.

A psicóloga a observava atentamente, notando a tensão que se formava nos ombros de Any conforme ela falava.

— Ele sempre me persuadia a aceitar tudo o que queria. Era como se, quando eu tentava me impor, ele ficava incomodado, irritado. Eu cedia para evitar conflitos… Ele não me forçava diretamente, mas me fazia sentir culpada, sabe?

A psicóloga assentiu novamente, com uma expressão de compreensão.

— Ele usava a culpa para obter o que queria, certo?

— Exatamente - respondeu Any, com a voz baixa. - No começo, ele era carinhoso e compreensivo. Mas depois, as coisas mudaram. Passei a me sentir forçada, mesmo que ele não dissesse nada abertamente. Era como se eu não tivesse outra opção além de aceitar. Eu fazia para evitar discussões, brigas, e… agora eu vejo o quanto isso estava errado.

A psicóloga se inclinou ligeiramente para frente, o olhar cheio de empatia.

— O que você descreve é muito comum em casos de relacionamentos abusivos. Muitas vezes, as vítimas sentem que precisam ceder para evitar problemas, e isso desgasta não só a relação, mas a própria autoestima. Eu agradeço muito por você ter compartilhado isso, Any. E é importante que o Jacob também compartilhe como se sente, para que possamos ajudar vocês a reestabelecerem uma tranquilidade mútua.

Any concordou, com um suspiro de alívio. Saber que não estava sozinha naquele processo era reconfortante.

— E o que você acha, doutora? - Any perguntou, preocupada. - Eu deveria conversar sobre esses detalhes com o Jacob? Quero dizer, sobre o que vivi com o pai dele?

— Com o tempo, sim. Mas precisamos fazer isso de forma gradual, respeitando o limite emocional de ambos. Por isso, a ideia de trabalharmos com uma terapia contínua é importante. Aos poucos, vocês poderão compreender esses traumas e desenvolver uma comunicação mais saudável. Com o tempo, as sessões podem ser menos frequentes, conforme as coisas se estabilizarem.

Any assentiu, sentindo-se aliviada e mais confiante em relação ao futuro. Após a conversa, a psicóloga se despediu de Any e a acompanhou até a porta, chamando Jacob para entrar na consulta.

Na sala de espera, Josh estava entretido na conversa com Jacob, quando a psicóloga apareceu para buscá-lo. Ele trocou um sorriso confiante com Any antes de entrar, e ela o acompanhou com o olhar, sentindo-se grata pelo apoio de Josh.

Quando a sessão de Jacob terminou, ele saiu com uma expressão mais leve e voltou ao lado de Any, que o acolheu com um abraço. Josh observou os dois e ofereceu um sorriso encorajador.

— Prontos para o almoço? - perguntou Josh, tentando manter o ambiente descontraído.

Jacob assentiu, olhando para Any com um olhar renovado.

— Claro, vamos.

Any e Josh trocaram um olhar significativo antes de saírem do consultório com Jacob. As palavras da psicóloga ainda ecoavam em sua mente, mas agora, ela sentia que, com o apoio de Josh e o caminho da terapia, eles conseguiriam reconstruir a segurança e o amor que tanto desejavam como família.

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