O sol já iluminava a cozinha, e o cheiro de café fresco misturava-se com o aroma suave das frutas recém cortadas. Any e Josh preparavam o café da manhã em um ritmo de companheirismo, compartilhando sorrisos e trocas de olhares afetuosos enquanto organizavam a mesa. Era como se, por um breve momento, todos os problemas tivessem ficado lá fora, e o ambiente estivesse cheio de paz e segurança.
Eles ouviram passos suaves descendo as escadas, e logo Jacob apareceu, com um semblante ainda abatido, mas, mais tranquilo após o longo descanso que Josh lhe proporcionou com o medicamento no dia anterior. Any sentiu o coração aquecer ao ver o filho ali, e seu instinto materno a fez se aproximar imediatamente.
— Bom dia, querido - ela disse, segurando o rosto de Jacob entre as mãos e deixando um beijo carinhoso em sua testa.
Jacob hesitou um segundo, mas depois envolveu a mãe em um abraço apertado, deixando escapar um pedido de desculpas abafado contra o ombro dela.
— Mãe... desculpa. Desculpa por tudo, mamãe.
Any o afastou só o suficiente para olhá-lo nos olhos, com uma expressão carinhosa e compreensiva.
— A gente vai conversar sobre isso depois, meu amor, está tudo bem - ela disse suavemente. - Só quero que você saiba que eu te amo com todo o meu coração. Sempre vou estar aqui para você. Mas, por enquanto, só quero que você fique tranquilo, relaxe e se sinta seguro, tá bem?
Jacob assentiu e murmurou um agradecimento, enxugando discretamente uma lágrima. Ele se sentou à mesa, observando Josh e Any trabalharem juntos. Josh ajudava a levar as coisas para a mesa e, vez ou outra, sussurrava algo que fazia Any sorrir, o que também arrancava um sorriso leve do rosto de Jacob. Pela primeira vez em muito tempo, ele via sua mãe tranquila e feliz.
Quando todos se sentaram, Jacob olhou para Josh com gratidão.
— Obrigado pela ajuda... por tudo que fez por mim e pela minha mãe - disse Jacob, com sinceridade na voz.
Josh assentiu, sorrindo calorosamente.
— Sempre que precisar, Jacob, estou aqui - ele respondeu. - Não só para sua mãe, mas para você também. Pode contar comigo para qualquer coisa.
Aquela frase encheu o coração de Jacob com uma sensação de segurança que ele não sentia há muito tempo. Ele assentiu, ainda um pouco emocionado, e viu quando Any aproveitou a oportunidade para tocar em um assunto importante.
— Jacob... eu estava pensando... o que acha de eu marcar uma consulta com uma psicóloga? Para a gente poder conversar e ter um apoio? Seria bom para nós dois, acho.
Jacob pensou por um momento e, com uma expressão mais leve, assentiu.
— Se você acha que vai ser bom, mãe, eu topo - respondeu ele com um sorriso tímido.
Josh interveio, apoiando a ideia
— É bom mesmo. Assim, você terá alguém para conversar que não seja nem sua mãe nem... - Josh hesitou, mas continuou com delicadeza - ...nem ele. Alguém que possa te ajudar a entender seus sentimentos e te dar uma visão imparcial.
Any assentiu, concordando.
— Exatamente, meu amor. Acho que vai te ajudar a processar tudo o que... ele fez - ela disse, escolhendo as palavras com cuidado.
Jacob respirou fundo e, com um olhar firme, pediu
— Mãe... você pode não se referir mais a ele como meu pai? Por favor. Depois de ontem, eu não quero mais isso. Não acredito mais em nada do que ele diz... E me sinto um idiota por ter acreditado antes.
Any se aproximou, segurando a mão do filho com um gesto firme e amoroso.
— Claro, Jacob. Se é assim que você prefere, assim será - ela disse, respeitando o pedido do filho e sentindo orgulho da força que ele estava demonstrando.
Josh observava a troca com um sorriso, respeitando o espaço dos dois, mas profundamente emocionado ao ver a conexão entre mãe e filho. Ele sabia que aquele seria um longo caminho para ambos, mas, com o apoio certo, Jacob poderia superar tudo.
Jacob sorriu, ainda um pouco tímido, e voltou a comer, sentindo-se verdadeiramente acolhido. Sabia que, com sua mãe e com Josh, ele teria forças para reconstruir sua confiança e, mais importante, sua própria identidade.
Josh terminava de ajustar o paletó enquanto se preparava para sair. Ele tinha uma reunião com o advogado e o detetive para garantir que tudo estivesse caminhando conforme planejado e também para verificar se havia mais informações úteis sobre a manipulação de Noah. Enquanto se despedia de Any e Jacob, ele percebeu que o garoto o olhava com uma expressão de expectativa.
— Você volta para almoçar com a gente? - Jacob perguntou, um pouco tímido, mas esperançoso.
Josh sorriu, surpreso e feliz com o convite.
— Se for um convite, eu venho.
Jacob, que ainda não estava acostumado a receber esse tipo de atenção tão sincera de um adulto, sem esperar algo em troca, sorriu, agora mais confiante.
— É um convite sim - afirmou, com um brilho novo no olhar.
— Então está combinado. Até logo - respondeu Josh, com uma piscadela, antes de sair.
Assim que a porta se fechou, Any se voltou para Jacob, com um sorriso travesso.
— E aí, o que acha de assistirmos a um filme enquanto ele não volta? - ela sugeriu, animada.
Jacob levantou uma sobrancelha, um leve sorriso surgindo no rosto.
— Só se você encarar um filme de ação, mãe. Nada de comédia romântica, hein?
Any riu, balançando a cabeça com firmeza.
— Você está falando com a rainha dos filmes de ação, sabia? Eu encaro até os clássicos dos anos 80, se for preciso.
Jacob soltou uma risada genuína, a primeira que Any via em muito tempo, e seu coração quase transbordou de felicidade ao vê-lo tão leve. Era um sorriso cheio de autenticidade e alegria, como se por um momento ele estivesse livre de todas as angústias que o atormentavam.
— Tá bom, mãe. Vamos ver do que você é capaz então - brincou ele, indo até a televisão procurar um bom filme.
Os dois se acomodaram no sofá, e Jacob escolheu um filme de ação com muita adrenalina. Any ajeitou-se ao seu lado, acomodando as almofadas para que ele se sentisse confortável. Assim que o filme começou, Jacob se aproximou e, sem dizer nada, deitou a cabeça no ombro dela.
Any passou a mão pelos cabelos do filho, sentindo o peso dele ao seu lado, em busca de conforto e segurança. Aquilo era tudo o que ela sempre quis, que Jacob se sentisse à vontade para demonstrar seus sentimentos com ela, sem medo ou vergonha. Sentindo-se em paz, Any focou na tela, mas não conseguiu evitar o sorriso terno que iluminava seu rosto.
A ação do filme os prendia, e as cenas cheias de aventura e perigo pareciam uma ótima distração para ambos. Durante o filme, Any notou que Jacob lançava olhares de curiosidade para ela, provavelmente tentando ver se ela realmente gostava daquele estilo. Quando ela reagia a alguma cena eletrizante, ele sorria, como se estivesse redescobrindo um lado divertido dela.
Eles riram juntos das cenas exageradas e se empolgaram com os momentos mais intensos. Para Jacob, era mais do que apenas um filme, era uma chance de compartilhar algo especial com a mãe, de sentir que estavam finalmente em sintonia depois de tantos anos de distanciamento e de sentimentos confusos.
Ao final do filme, Jacob soltou um suspiro contente e olhou para ela.
— Quer saber, mãe? Você realmente manda bem nos filmes de ação. Não achei que fosse gostar tanto.
Any riu, colocando o braço ao redor dele em um abraço afetuoso.
— E tem muitos mais que eu posso te mostrar, hein. Acho que você vai ter que aguentar mais umas maratonas de ação comigo agora.
Eles trocaram um olhar cúmplice e cheio de carinho, como se estivessem reconectando uma parte que há muito parecia perdida. Jacob sentiu-se mais leve, como se aquele peso todo estivesse, pouco a pouco, começando a se dissipar.
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Memórias Ocultas - Concluída
RomanceAny vive uma vida aparentemente perfeita ao lado de seu marido Noah e de seu filho Jacob. Após um acidente que abalou a rotina familiar, Any desperta para uma realidade que a deixa com mais dúvidas do que certezas. Ao reencontrar Josh, um amigo de i...