Capítulo 17

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Na manhã seguinte, após Any sair para o trabalho, Noah encontrou Jacob no jardim dos fundos da casa, ainda abalado pela noite anterior. Ele o observou por um instante, os olhos fixos no filho, antes de se aproximar. Seu tom era calmo, quase paternal, mas havia algo de sombrio em sua voz.

— Jacob, precisamos conversar - disse ele, indicando que queria que o filho se sentasse ao seu lado.

Jacob, sem muita escolha, sentou-se e tentou manter a compostura, mas ainda sentia o rosto latejar do tapa que recebera e o peito apertado pela distância que Any parecia ter imposto.

Noah, percebendo a vulnerabilidade de Jacob, colocou uma mão pesada no ombro do garoto, fingindo um tom de compreensão.

— Olha, eu sei que você ainda tem esperanças de que as coisas melhorem entre você e sua mãe. Mas, Jacob, você precisa entender que ela não é quem você pensa. Essa mulher... - ele hesitou, como se relutasse em dizer algo doloroso. - Ela nunca quis você, já falamos sobre isso, te contei as inúmeras vezes que ela tentou interromper a gravidez e dizia o quanto estava infeliz por ter que aguentar você deformando o corpo dela.

Jacob olhou para Noah com os olhos marejados, sentindo o chão se abrir sob seus pés novamente, como acontecia todas as vezes que Noah voltava nesse assunto. As palavras de Noah sempre acertava ele em cheio, lhe deixando confuso e alimentando a raiva e o desprezo que Jacob havia adquirido com sua mãe

— Mas... pai, eu não entendo, ela sempre esteve lá, sempre me ajudou quando precisei...

Noah suspirou e desviou o olhar, como se estivesse recordando um segredo sombrio.

— Isso é o que ela quer que você pense, Jacob. Ela soube enganar todo mundo, inclusive você meu filho. Não é à toa que ela se afastou tanto desde que voltou do hospital. Ela sabe exatamente o que faz e, agora que perdeu a memória, as coisas estão diferentes, por que ela se esqueceu que tinha que fingir se importar com você. Mas você realmente acredita que ela mudou? - Noah balançou a cabeça, com uma expressão de desprezo. - Ela sempre foi falsa. Se ela pudesse já teria te mandado para um colégio interno desde que você era criança, eu que nunca deixei querido, não se lembra de toda a conversa que já tivemos, de tudo que falamos sobre o quão horrível sua mãe sempre foi.

Jacob engoliu em seco, tentando processar o que o pai dizia, mas Noah prosseguiu, cada vez mais firme em seu tom.

— Vou ser honesto com você, Jacob, porque acho que está na hora de você saber a verdade. Sua mãe sempre disse, mais de uma vez, que nunca desejou ter um filho e disso você já sabe, mas houve até momentos em que ela... - ele parou, como se hesitasse em revelar. - Ela pensou em se livrar de você. Houve uma vez... em que ela quase fez isso.

Jacob sentiu o peito apertar, como se uma faca estivesse perfurando seu coração. Ele olhou para o pai, desesperado, tentando entender o que ele estava dizendo.

— O quê? Como assim... ela quis me machucar?

Noah balançou a cabeça, fingindo compaixão e pesar.

— Sim, Jacob. Ela tentou se livrar de você. Houve uma vez, quando você era pequeno, em que eu a encontrei sozinha com você, e... bem, se eu não tivesse chegado a tempo, talvez você nem estivesse aqui hoje. E eu nunca te contei isso porque achei que você não estava pronto para saber. Mas você está se deixando leva por um sonho besta, acha que agora que ela perdeu a memoria pode te amar, mas isso não vão acontecer meu amor, ela só vai te desprezar mais, agora ela não precisa fingir nada - Noah suspirou fingindo estar cansado - Jacob, Any sempre foi muito clara, desde a gravidez, ela jamais iria te amar, ela deixou sempre muito claro o ódio dela com você, mas seu avô disse que ela só teria parte da herança se passasse a trata bem você, por isso ela finge.

Jacob levou as mãos ao rosto, tentando conter as lágrimas, mas a dor era insuportável. Ele se sentia traído e confuso, com a voz fraca, ele sussurrou

— Então... ela nunca me amou? Nunca quis ser minha mãe? Não foi só antes de eu nascer

Noah, vendo o desespero do filho, o puxou para perto e o abraçou, oferecendo um consolo que parecia sincero, mas que trazia uma manipulação cruel por trás.

— Eu sei que é difícil, Jacob, mas você precisa aceitar que, infelizmente, nem todos os pais são como deveriam ser. Mas eu estou aqui para você garoto. Eu sempre estive. E agora temos a Sina. Ela é uma mulher que nos ama de verdade, que quer o melhor para nós. Ela não vai fazer você passar por isso. Tudo o que peço é que tenha paciência, me ajude a manter tudo no lugar, para que possamos finalmente viver em paz.

Jacob chorava nos braços do pai, o coração destroçado, enquanto Noah acariciava seus cabelos, sussurrando palavras que, em vez de conforto, só alimentavam mais o ressentimento e a insegurança dentro dele.

— Por que, pai? Por que ela nunca me quis? O que eu fiz de errado?

Noah sorriu levemente, de um modo que Jacob não pôde ver, e continuou o abraço, com um tom suave e manipulador.

— Você não fez nada de errado, Jacob. Ela que nunca foi capaz de amar ninguém além dela mesma. Mas eu te amo, e isso é o que importa agora.

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