Memórias Ocultas - Concluída

Capítulo 3

No amanhecer seguinte, Josh se preparava para seu primeiro dia no hospital central de Milão. Vestia um jaleco impecavelmente branco sobre sua camisa azul, e a combinação lhe dava uma aparência ainda mais formal, um profissional indiscutivelmente respeitável. Embora sua presença no hospital fosse apenas parte do disfarce para não levantar suspeitas sobre sua verdadeira missão na Itália, ele assumia o papel com total seriedade. Ser médico era algo que ele amava tanto quanto liderar seus negócios obscuros.

Ao atravessar as portas de vidro do hospital, sua postura firme e imponente captou a atenção de enfermeiras e médicos ao redor. Josh observou atentamente a estrutura e a equipe ao seu redor, notando o fluxo constante de pacientes, médicos e funcionários. Ao se apresentar à recepção, foi recebido por uma das gerentes do hospital.

— Bom dia, Dr. Josh! É uma honra tê-lo conosco. Estávamos aguardando ansiosamente sua chegada - disse a mulher, um sorriso de admiração brilhando no rosto.

Ele respondeu com um leve sorriso e um cumprimento formal, mantendo sua compostura.

— Bom dia. Estou ansioso para contribuir com a equipe e conhecer o funcionamento deste hospital.

Após um breve tour pelo hospital, Josh foi levado ao seu consultório, onde passaria os próximos dias entre reuniões médicas, avaliações e procedimentos. Mesmo com toda a formalidade e os rostos novos ao redor, sua mente não deixava de retornar a um pensamento constante, o momento que encontraria Any.

Ele ainda não sabia ao certo como se aproximaria dela, mas algo dentro dele dizia que não demoraria muito até que o destino os colocasse frente a frente.

Enquanto isso, do outro lado da cidade, Any estava em casa, tentando preencher o vazio que sentia dentro de si. Nos últimos dias, o cansaço parecia pesar ainda mais, mas ela se esforçava em manter a rotina de uma família feliz. Naquela manhã, decidiu que seria bom fazer algo diferente e planejou uma ida ao cinema. Depois de escolher o filme perfeito, procurou Jacob pela casa para convidá-lo.

Ela o encontrou no quarto, entretido com o celular. Parou na porta, observando-o por alguns instantes, e respirou fundo antes de falar.

— Jacob, pensei que seria divertido irmos ao cinema hoje. Escolhi um filme que sei que você vai gostar! Que tal? Só nós dois.

Jacob sequer ergueu o olhar, apenas continuou a deslizar o dedo pela tela.

— Mãe, eu já tenho planos com o pai. Hoje nós vamos levar a Sina para conhecer a igreja central. Ele disse que ela estava interessada, e nós prometemos que a levaríamos.

Any sentiu um aperto no peito ao ouvir aquilo. Mais uma vez, ela se via tentando fazer algo pela família, apenas para ser rejeitada. Mesmo sem mostrar, aquela resposta a machucava profundamente. Tentando manter o tom leve, ela insistiu.

— Mas a gente poderia sair depois, quem sabe? Só um tempinho em família...

Dessa vez, Jacob ergueu os olhos, claramente entediado.

— Mãe, sério, já combinamos isso faz tempo. E Sina também gosta de sair com a gente. É só um passeio, não tem nada demais.

Any engoliu em seco e assentiu, forçando um sorriso que não refletia o que sentia por dentro.

— Claro, querido. Eu entendo.

Ela deixou o quarto, tentando afastar a sensação de exclusão e seguir com seu dia. Sentia-se perdida, como se estivesse fora de lugar dentro da própria família, cada vez mais invisível para o marido e o filho.

Any observava pela janela da sala quando Jacob e Noah saíram juntos, acompanhados por Sina. Eles riam de algo que ela não conseguia ouvir, enquanto Jacob conversava animado com o pai e a professora. Any se sentiu uma estranha olhando para a própria família. Viu Noah abrir a porta do carro para Sina, o que arrancou um sorriso discreto dos lábios dela. Jacob entrou logo atrás, e, em poucos segundos, o carro sumiu na rua.