BELA MÁFIA

Capítulo 23: Fúria e Paixão

Raquel Martinez

Meu sangue fervia, as minhas narinas incharam de raiva. Tive que cancelar meus planos com Valentina para lidar com os problemas que o joguinho de provocações de Shõ causou na minha favela.

Estacionei o carro perto dos meus irmãos, que me esperavam, rostos sombrios, analisando a destruição. O cheiro de fumaça me atingiu antes mesmo de sair do carro, e só piorou quando me aproximei.

A favela tava caos. O céu, antes azul e sereno, agora era um pano preto rasgado por faíscas que saltavam das chamas que devoravam as casas improvisadas. O barulho era ensurdecedor: gritos de desespero, explosões, o choro de crianças. Um inferno, um verdadeiro pesadelo para qualquer um.

Leonor: - Raquel! - a voz me tirou de meus pensamentos. - Se quisermos dar uma olhada maior na situação precisamos ir pelo meio já que essa parte está com fogo - avisou, apontando na direção da rua principal.

Raquel: - Vamos lá - falei, e segui na frente com meus irmãos me acompanhando.

A fumaça me envolveu, irritando meus olhos. Mas eu não liguei. O ar estava cheio de um cheiro adocicado e tóxico, uma mistura de pólvora e plástico queimando.

O som de vidros estilhaçados e gritos distantes ecoava ao fundo, aumentando minha raiva muitas pessoas haviam perdido suas casas por conta dessa brincadeira idiota de Shõ. Haviam pedaços de madeira queimados espalhados, cacos de vidro de alguns objetos ou janelas quebrados.

Olho para os destroços, meu olhar se tornando mais intenso e determinado. Precisamos encontrar Shõ e fazê-lo pagar por isso. Ninguém toca no que é meu sem sair impune.

Mirella: - Só podemos vir até aqui, há uma casa em chamas na frente - a voz de carregada de indignação, me interrompeu.

A fumaça densa nos forçava a recuar um pouco, e o calor era quase insuportável, senti uma sensação estranha quando observei as chamas quase engolirem uma casa conhecida por mim.

Raquel: - Fiquem aqui - disse com uma voz fria, e segui em passos rápidos até a casa que estava queimando.

Santiago: - RAQUEL!!! Você tá maluca? - A voz rouca de preocupação, ecoou fraca, perdida na fumaça.

Raquel: - Confie em mim. Eu sei o que estou fazendo - minha voz tremeu, mas minha expressão era implacável.

A casa era pequena, construída de madeira e telhas de zinco. As chamas dançavam com voracidade, englobando tudo em seu caminho. Chutei a porta com o pé, fazendo-a abrir, prendi a respiração e adentrei o local, meu olhar vasculhando o cômodo. Depois de alguns segundos procurando, já estava indo embora quando ouvi uma fraca tossida. Me inclinei para frente e encontrei embaixo da mesa a garotinha encolhida.

Luna: - Raquel!!! - me chamou, sua voz fraca e assustada.

Raquel: - Você está bem? - perguntei, me agachando perto dela.

A garotinha me olhou com olhos assustados, cheios de fumaça e lágrimas. Ela assentiu com a cabeça, ainda encolhida e tremendo.

Raquel: - Onde está seu pai? - tentei manter a voz calma.

Luna: - Ele... ele... - engasgou, tentando falar com a boca cheia de fuligem.

Raquel: - Calma - disse, pegando a menina no colo. - Eu vou te levar para um lugar seguro.

Saí da casa com a menina nos braços, a fumaça ainda me envolvendo, a sensação de calor e desespero me afogando. Mas eu tinha que ser forte. Eu tinha que salvá-la.

Corri em direção aos meus irmãos, com Luna agarrada com força em meus braços. Ela soluçava baixinho, seu corpo tremia e seus olhos estavam arregalados de medo. A fumaça da casa ainda impregnava suas roupas, o cheiro de queimado era forte.

Pablo: - Raquel!!! O que aconteceu? - seus olhos arregalados, preocupados. Ele pegou a garotinha dos meus braços.

Raquel: - Ela estava lá dentro da casa. - meu tom de voz era frio, quase automático. - Cuidem dela, encontrem o pai dela. Preciso consertar a merda que Shõ causou. - falei me afastando.

Luna: - Tchau Raquel. - ela gritou, fazendo tchau.