Capítulo 14. Felicidade da esposa.

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Enrico entrou no quarto sorrindo, sentindo uma satisfação silenciosa ao ver Layla brincando com Bola de Neve, o gato que parecia já estar se apegando a ela tanto quanto ele próprio. Algo doce e irresistível tomou conta dele ao observá-la; Layla era, de fato, sua nova obsessão.

— Fui eu mesmo que fiz — disse ele, colocando a bandeja ao lado dela.

Layla ajeitou-se com um pouco de dificuldade e sorriu, aceitando a bandeja que ele havia preparado com cuidado.

— Ainda está sentindo dor? — ele perguntou, preocupado.

— Não, só um pouco cansada — respondeu, sorrindo ao pegar o sanduíche e dar uma mordida gulosa.

— Estava pensando... — Enrico começou, sentando-se ao lado dela. — E se comprássemos um castelo para a Bola de Neve?

— Um castelo? — Layla riu, ainda mastigando. — Daqueles de gato?

Ele riu junto e pegou o computador, abrindo um site de acessórios para pets. Juntos, começaram a explorar opções para montar o "castelo" do Bola de Neve, compartilhando risadas e sugestões divertidas. Enrico sentiu uma tranquilidade nova ao lado dela, imaginando que um dia poderiam estar escolhendo a mobília para o quarto de um filho.

Depois de adicionar algumas coisas ao carrinho e optar pela entrega expressa para que Bola de Neve tivesse a cama o quanto antes, Enrico olhou o relógio. Era hora de Layla tomar o remédio para dor. Ele se levantou, pegou o comprimido e trouxe para ela junto de um copo d'água.

— Obrigada — ela disse, olhando para ele com um carinho genuíno. — Obrigada por ter entrado na minha vida, por me ajudar... e até por fazer um sanduíche pra mim você mesmo.

— É um prazer, tesoro — respondeu ele, sentando-se ao lado dela novamente. Layla apoiou a cabeça em seu ombro, relaxando com o toque dele.

— Descansa um pouco. Logo logo você vai estar andando por aí de novo.

Ela fechou os olhos, sentindo a calma que a presença dele trazia. Era a primeira vez que alguém realmente cuidava dela, com tanta atenção e afeto. Aos poucos, o cansaço e o efeito do remédio a fizeram pegar no sono. Enrico, com delicadeza, ajustou seu corpo para que ela ficasse mais confortável, e a deitou cuidadosamente.

Em seguida, ele se deitou ao lado dela, envolvendo-a em seus braços. Bola de Neve subiu na cama e se aninhou nas pernas de Enrico, que sentiu uma paz inesperada ao lado de Layla. Ele nunca gostou de dividir sua cama com ninguém, mas, naquele momento, parecia perfeitamente natural que ela estivesse ali com ele. Para Enrico, ter Layla em seus braços era uma sensação de completude que ele nunca imaginou encontrar.Enrico ainda estava mergulhado na calma de ter Layla ao seu lado quando uma mão firme o sacudiu, puxando-o de volta à realidade. Ele virou-se e encontrou o olhar de Lucca.

— O que houve? — Enrico perguntou, tentando controlar a irritação pela interrupção.

— Don Corallo quer falar com você — Lucca informou, com um tom de ironia.

— Estou ocupado.

— E isso importou para ele alguma vez? — Lucca retrucou, mantendo o deboche.

Enrico levantou-se com cuidado, sem fazer barulho, para não acordar Layla. Ele ajeitou o cabelo com a mão enquanto seguia Lucca até o escritório. Lá, Don Corallo aguardava, acompanhado de Matteo e Lecce. Lucca sentou-se, seguido por Enrico, que analisou o ambiente com desconfiança. Era raro ver toda a família reunida assim, principalmente Matteo, que evitava essas reuniões sempre que possível.

— O que você faz aqui, Matteo? — perguntou Enrico, um pouco irritado.

— Vim visitar a mamma, mas parece que a diversão é aqui — respondeu Matteo, sorrindo com desdém.

Don Corallo limpou a garganta, e o ambiente ficou tenso e silencioso. Enrico sentiu o peso da expectativa sobre ele e Lecce, que se entreolharam com desafio.

— Sabem o que eu valorizo mais do que tudo? — Don Corallo começou, com a voz baixa mas firme. — A felicidade da minha esposa. E, no momento, ela está tudo, menos feliz. Lecce, Enrico... o que têm a dizer?

— Eu? Não fiz nada — Enrico respondeu rapidamente, em tom defensivo.

— Certeza que vão te canonizar por isso — Lecce retrucou, com sarcasmo.

Basta! — Don Corallo socou a mesa, fazendo-a tremer. — Quero uma explicação decente sobre o que houve. E vamos resolver isso como cavalheiros, com decoro.

A troca de olhares entre os irmãos apenas aumentou a tensão. Matteo observava tudo com evidente interesse, como quem assiste a um espetáculo.

Foi Lucca quem quebrou o silêncio:

— Eu explico. Fui eu quem levou Layla ao Valete de Ouros. Achei que ela poderia relaxar, então dei um drinque. Ela queria ver meu irmão e se soltou um pouco... mas quando encontramos Enrico, ele decidiu tirá-la de lá. Ela viu algo no corredor que não gostou... — Lucca lançou um olhar de lado para Lecce. — E depois disso, Enrico a levou para casa. Eu fiquei por lá, cuidando dos negócios enquanto Enrico cuidava da "coalinha."

— Não a chame assim — Enrico protestou, irritado.

— Por que a chama assim? — Matteo perguntou, curioso.

— Porque ela ficou agarrada a mim enquanto íamos para o Valete... de moto — respondeu Lucca, enquanto o pai observava em silêncio.

— E então, Enrico? — Don Corallo o encarou.

— Levei-a para jantar. Acho que ela torceu o pé. Só percebi quando a deitei na cama. Foi só isso.

Don Corallo manteve-se em silêncio, seu olhar sério e analítico alternando-se entre Enrico e Lecce.

— Lecce, algo a declarar? — perguntou o pai.

— Nada — respondeu Lecce com frieza, cruzando os braços.

Enrico suspirou fundo, decidido a esclarecer tudo.

— Pai, eu me declarei para Layla — confessou, com um sorriso leve. — Espero que ela sinta o mesmo.

— Saiam — Don Corallo disse aos outros, sua voz implacável. — Preciso falar com Enrico a sós.

Os irmãos saíram, e enquanto esperavam, Matteo, sem entender muito bem o motivo de tanta tensão, foi esclarecido por Lucca. Layla era protegida de Don Corallo; sua presença despertava um instinto paternal nele, e isso estava inflamando os ânimos entre Enrico e Lecce.

Dentro do escritório, Don Corallo acendeu um charuto, tragou fundo e, depois de alguns segundos, encarou Enrico com olhar penetrante.

— Enrico — ele disse, solene. — Gosto dessa moça. Mas vê-la como mais uma conquista sua?

— Não —- Ele respondeu quase que imediatamente. — Não vou deixá-la. Não dessa vez.

— E o que vai fazer? — o pai questionou, com uma ponta de desconfiança.

— Farei de tudo para ficar com ela — Enrico declarou, sério. — Quero um futuro com ela. Se pudesse, até casaria com ela.

— Casamento, é? E como pretende fazer isso, meu filho? Enganá-la? Deixá-la sem escolha?

— Não — Enrico hesitou. — Mas se isso fosse o único meio, eu o usaria.

Don Corallo o encarou, visivelmente desgostoso.

— Está maluco? Ouça bem, Enrico. Layla é uma moça simples. Você precisa ser mais inteligente e cuidadoso se realmente a ama. A única coisa que exijo é respeito.

Enrico assentiu, resoluto.

— Sim, papà. Prometo.

— Ótimo. Ficará com ela enquanto ela se recupera, mas então quero sua palavra de que, se não conseguir conquistá-la, irá deixá-la em paz.

— Combinado.

Enrico saiu do escritório, determinado a conquistar o coração de Layla de forma honesta. Nos dias seguintes, enquanto ele cuidava dela e passava as responsabilidades para Lecce e Lucca, sentia a tensão de Lecce crescer. Sabia que teria de lutar por ela, e que sua própria família não tornaria isso fácil.

A garota do CapoOnde histórias criam vida. Descubra agora