Capítulo 18. Filha

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Don Corallo estava decidido: Enrico e Layla eram perfeitos um para o outro. A combinação de forças e personalidades seria um equilíbrio ideal, e ele já imaginava os frutos dessa união – filhos lindos, talentosos e carismáticos, dignos de elevar ainda mais o legado da família. Para ele, a família vinha sempre em primeiro lugar, e qualquer sacrifício necessário para proteger e fortalecer seus laços era plenamente justificável. Lecce primeiro entenda isso.

Ao voltar de uma reunião cansativa com seus parceiros, Corallo encontrou Layla descendo as escadas da ala dos filhos. Havia algo no rosto dela – talvez um desconforto ou tensão – que ele não conseguiu ignorar.

— Layla? — chamou, sua voz carregando a mistura de autoridade e afeição que lhe era tão peculiar.

Ela parou, hesitante, as mãos entrelaçadas em um gesto quase automático de nervosismo.

— Sim, senhor? — respondeu, a voz doce, mas levemente trêmula.

— Está tudo bem, filha? — Ele se sentou, observando-a com atenção.

— Sim, senhor — respondeu, tentando forçar um sorriso.

— Está com dor no pé? Anda tão devagar — ele insistiu, estreitando os olhos.

— Não, senhor. Estou bem — disse rapidamente, como se quisesse encerrar o assunto.

— Ah, Layla... — Ele entrelaçou o braço no dela, conduzindo-a calmamente em direção à sala de jantar. — Por que não janta conosco? Eu, você e Eleonor.

— Não estou com fome, senhor.

— Algo está incomodado? Posso fazer algo por você?

Layla pareceu hesitar. Corallo notou o olhar dela, como se procurasse a coragem para dizer algo.

— Não, senhor... mas posso perguntar uma coisa?

— Claro, filha.

Layla parou no corredor e virou-se para ele.

— O senhor proibiu Enrico de me levar ao bar?

A pergunta o pegou desprevenido, mas Don Corallo riu, uma risada leve e calorosa.

— Não, minha filha. Por que pensaria isso?

— Porque pedi que ele me levasse, e ele disse que não seria uma boa ideia.

Don Corallo ponderou, inclinando a cabeça como se organizasse seus pensamentos.

— Ah, entendi. — Ele se sentou à mesa na sala de jantar e contínuo, com um tom mais sério. — Enrico tem uma reunião importante no bar, algo que envolve os negócios.

— Negócios?

– Sim. Ele estará reunido com os grandes, proporcionando uma nova etapa para a família. — Ele a olhou com interesse renovado. — Você gostaria de ir?

— Eu posso?

— Claro, será em alguns dias. Mas será nosso segredo.

Layla concordou, esboçando um pequeno sorriso antes de se retirar.

Assim que chegou ao quarto de Eleonor para informar sobre o jantar, foi recebido com uma resposta inesperada:

— Não vou — disse Eleonor, a voz fria e cortante.

Layla ficou imóvel por um instante, sentindo o peso da indiferença na resposta. Saiu do quarto em silêncio, sem insistir.

Enquanto caminhava pelo corredor, sentia-se ainda mais deslocado em casa. Já Eleonor, ao se ver sozinha, olhou para a janela, a mente perdida em pensamentos. Lecce era seu filho favorito, aquele que ela sempre julgava ser o mais puro e leal. O simples pensamento de que ele pudesse sofrer por causa de Layla e Enrico a deixava inquieta.

Ainda assim, havia algo mais. Algo que ela não conseguia nomear, mas que a fazia sentir que as peças da família estavam começando a se mover em prático que ela não poderia controlar.

Layla voltou à sala de jantar com passos leves, carregando uma bandeja com a refeição de Don Corallo. Com delicadeza, coloque o prato à frente dele e coloque ao seu lado, como era de fantasia. Era um momento tranquilo, quase íntimo, e Don Corallo apreciava aquela cumplicidade silenciosa.

— Layla, posso fazer uma pergunta? — A voz dele é tão calma, mas cheia de intenções.

— Claro, senhor.

Ele a observou por um instante, examinando cada expressão dela antes da obrigação.

— O que acontece entre você e o Enrico?

Layla congelou por um momento. O silêncio dela foi a única resposta inicial, e Don Corallo viu uma hesitação.

— Layla, eu gosto de você como uma filha — ele disse, sua voz agora mais suave. — Não quero que Enrico brinque com seus sentimentos. Se ele passar do limite, me avise.

— Senhor, eu acho que quem está brincando com as emoções dele sou eu — respondeu ela, sua voz baixa e trêmula, como se confessasse um segredo proibido.

— Não diga isso, filha. Você não seria capaz — ele afirmou, sua verdade paternal quase irritante.

Layla suspirou, abaixando o olhar.

— Ele já disse que gosta de mim... mas não sei se posso retribuir essa emoção. Cada segundo que estou perto dele é... diferente — admitido, com um rubor leve subindo ao rosto. — Mas, quando volto à realidade, escute as pessoas falando mal de mim.

Os rumores ainda a atormentavam. Ela se lembrava das manhãs em que Enrico saía do quarto dela e do sussurro incessante dos outros enquanto realizava suas tarefas. Era como se cada gesto fosse observado e julgado.

— E você não falou nada para ele?

— Enrico tem uma personalidade muito... — Layla hesitou, buscando as palavras certas para descrever o comportamento muitas vezes bruto e impaciente de Enrico. – Brusca. Ele acabaria sendo grosseiro na forma de se expressar.

Don Corallo assentiu, pensativo.

— Prometo que você procure uma solução para isso. Pode ser?

Layla olhou para ele, surpresa.

— Senhor, não precisa de nada. Sou eu quem precisa estabelecer limites.

— Se eu achar um meio-termo, você aceita? — A seriedade na voz dele fez Layla engolir em seco.

— Sim, senhor — respondeu, relutante, achando que não tinha escolha.

Depois de terminar o jantar, Don Corallo retirou-se para a biblioteca. Layla, ainda imersa nos próprios pensamentos, levou um chá para ele. Enquanto ela se afastava, Don Corallo deixou-se perder em suas reflexões.

Ele não podia negar que tinha grandes planos para Layla. Ela seria a esposa ideal para Enrico: doce, trabalhadora, e com uma postura que complementava perfeitamente a energia muitas vezes intensa e desmedida do filho mais velho.

Os rumores sobre o comportamento de Enrico preocupavam Corallo. O plano que o filho sugerindo – um arranjo frio para gerar um herdeiro – era um absurdo. Não era isso que Don Corallo queria para uma família. Ele desejava algo mais sólido, mais genuíno.

Assim, ele decidiu que agiria. Precisava criar uma situação que unisse os dois de maneira natural. Seu plano era claro: dar a Layla o apartamento de Enrico, ao menos temporariamente, e encontrar para ela um trabalho em alguma loja respeitável, algo que a colocasse em um ambiente menos hostil. Isso forçaria Enrico a sair de sua zona de conforto e lidar diretamente com Layla, permitindo que ela também começasse a perceber seu verdadeiro valor na vida da família.

Enquanto tramava, Don Corallo teve uma certeza: o sacrifício de Lecce seria levado em consideração. Ele suspirou, fechando os olhos e deixando que a fumaça do charuto desenhasse formas indecifráveis ​​no ar.

A garota do CapoOnde histórias criam vida. Descubra agora