Capítulo 39

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CLAIR LEMAY

Percebo que o sentimento de Aslan é tão forte a ponto de perdoar o que fiz ao deixá-lo. O meu amor está corroendo por dentro, tomada pela vontade de estar em seus braços.

Aslan não irá parar, eu sei. Se ele tenta roubar por mim, continuará em perigo e será ainda mais doloroso. Chego a conclusão que é necessário decepcioná-lo.

— Aslan, estou confusa entre o que sinto por você e pelo meu .. namorado. Peço que não me procure, preciso retomar minha vida.

Falei de uma vez, mas, sentindo meu coração sendo apertado com toda a força possível. Tentei ser ríspida, para que ele consiga recomeçar e me esquecer. Eu viverei com essa dor para sempre, assim como tantas dores de tudo que passei em minha vida.

— Espero que seja feliz, consiga refazer sua vida. Irei ordenar que tragam seus pertences, tudo que você tem... é seu, por direito.

Ele ficou magoado e se levantou. Não olhei diretamente para Aslan, mas ele saiu apressado, batendo a porta só passar. Cobri meu rosto com as mãos e desabei no choro intenso.

Magoei a pessoa que mais cuidou e se dedicou a mim. Que me amou e me fez sentir as melhores sensações. Me ensinou também a sonhar.

Hillary apareceu após ouvir o barulho da porta. Ela vem direto até mim e me abraça forte. Retribui o abraço, precisando de toda força possível. Após recuperar a memória, percebi que minha vida é coberta por desgraças e essa era a única chance para ser feliz.

— Tudo ficará bem, não se preocupe com o dia seguinte. Preocupe-se apenas com o hoje.

Ela aconselhou a acariciar minhas costas, fechei os olhos e tentei controlar o choro, os soluços são inevitáveis.

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No dia seguinte...

Levando em conta o conselho de Hillary, irei viver um dia após o outro. O meu primeiro passo é ir até a polícia, alegar sobre tudo que aconteceu, mesmo sabendo que posso estar decretando a minha sentença de morte. Sean é como uma cobra, pode dar o bote a qualquer momento, ou consegue se camuflar perfeitamente. Não sei quais os passos dele.

Hillary me emprestou seu carro que está estacionado à frente do prédio. Ela se ofereceu para me acompanhar, mas insisti que tenho que fazer isso sozinha.

Sai do prédio e entrei no carro, dando a partida e seguindo para a delegacia que estava cuidando do meu caso.

Um pouco mais de uma hora e cheguei no local. O estacionamento aberto é amplo, deixei o carro em uma vaga e desci apressada. Dei alguns passos na direção do prédio da polícia, mas um homem alto tomou a frente inesperadamente.

— Olá, Clair... o que planeja fazer?

Meus olhos arregalaram quando vejo Sean em minha frente. O olhar frio, com a cicatriz que fui eu que fiz quando tentei me defender de suas agressões. Meu corpo ficou completamente gelado, paralisada e sem saber o que fazer. Dói muito lembrar de tudo que passei.

— Me deixe em paz, por favor!— supliquei apavorada.

— Você não se casou.— ele olhou para a minha mão esquerda. — Boa garota, sempre obediente. Na verdade, você estava muito rebelde.

— Por que não me deixa viver em paz ? Eu não quero nada com você, me deixe em paz. — tento controlar o choro.

— Como irei lhe deixar em paz, se você está indo para a delegacia, provavelmente tentando me prejudicar? Querida, não faça isso.

Ele se aproxima, enquanto continuo paralisada. A mão dele toca meus cabelos e coloca uma mecha atrás da orelha, tremia de pavor quando senti o toque. Senti ânsia, meu estômago revirou e fechei os olhos a tremer.

— Você tem dinheiro? Estou precisando de dinheiro, sabe... as coisas estão difíceis atualmente. Você estava com um médico muito rico, pegou alguma grana? Assim irei lhe deixar quietinha, mas não se aproxime daquele doutorzinho, ou serei obrigado a acabar com ele.

Descobri o meu lado mais vulnerável, fraco e submisso. Não é por livre e espontânea vontade, mas por medo. Sair de um orfanato sem nenhuma experiência e logo me relacionar com uma pessoa como ele, me fez perder a identidade. Quando perdi a memória, fui a minha melhor versão.

Aslan abriu uma conta para mim, afirmando que eu precisava da minha liberdade financeira. Eu não fazia nenhuma movimentação, pois não queria o dinheiro dele, queria ser sua mulher. Sabendo que Sean não ira parar, sendo capaz de me abordar em frente da delegacia, ele é capaz de tudo.

— Tenho 100 mil dólares, vou lhe dar esse dinheiro, mas me deixe em paz.

— Não, não... você tem mais, apenas 100 mil? Clair , não seja mentirosa. — ele me olha de canto.

— Duzentos mil, eu não aceitava o dinheiro dele. Por Deus, é tudo que tenho.

— Você sempre foi uma idiota, poderia estar milionária. Ainda mais com uma mãe rica, mas... ficarei satisfeito. Preciso cair fora por alguns dias. Entre no carro!

Olhei para os lados, apavorada com a ordem que ele me deu. Um policial caminhou em direção ao prédio e olhou para nós. Sean segurou minha cintura e puxou, quase desmaiei.

— Algum problema? Precisam de ajuda?— o policial perguntou.

— Está tudo bem, senhor. Minha namorada precisou assinar alguns papéis. — Sean sorriu, como se nada estivesse acontecendo.

O policial olhou para mim, aguardando a resposta.

— Sim, já estamos... de saída.

Respondi apavorada ao sentir a arma no cós da calça dele que roça em meu corpo, sei que ele não faz nada sozinho e deve ter comparsas. Seguimos para o carro de Hillary, ele sentou no banco do passageiro e me fez dirigir. Não sei como consegui fazer isso, pois estou trêmula e suando frio.

Sean me fez ir até a agência bancária. Me entregou um papel com dados bancários num nome diferente, Taylor. Recordo dos documentos falsos que encontrei no antigo apartamento e esse nome era um deles.

— Sem gracinhas, seu médico está no hospital nesse momento. Pode acontecer um acidente de trabalho.

Sempre que ele fala em Aslan, meu medo redobra. Caminhei em direção à agência, sendo recebida pelo gerente e ele tratou de me ajudar com a transação de 200 mil dólares canadenses. Ainda me restaram 250 mil dólares, menti para que não ficasse sem nenhum tostão.

Após finalizar, voltei para o carro e quando entrei, Sean está olhando para a tela do celular com um largo sorriso.

— Maravilha, será ótimo cair fora por alguns dias. — ele passa as mãos nos meus cabelos. — Fica bem, querida.

Ele desceu do carro e correu pela calçada. Olhei Sean desaparecer em meio às pessoas e encostei a testa no volante. Não sei se estou ainda mais apavorada, ou aliviada. 

UMA EMERGÊNCIA DE AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora