Capítulo 37

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CLAIR LEMAY

Ouvi batidas na porta. Estou jogada ao chão, o vestido espalhado pelo piso e a maquiagem está destruída. Sabia que minha vida poderia ser difícil antes do acidente, mas não imaginava que teria sofrido tanto, obrigada a fazer coisas absurdas e que a mulher que me abandonou está viva. Além disso tudo, o homem que amo corre perigo. Sean é capaz de tudo, consigo lembrar de cada detalhe em sua personalidade.

— Clair, estão lhe esperando.— a voz de Sandra chama a minha atenção.

Chorei ainda mais ao ouvir isso. Imaginando Aslan me aguardando ansiosamente. Eu o amo tanto que chega a doer.

Não consegui responder e Sandra entrou mesmo assim. Quando me viu no chão, correu em minha direção e tocou o meu rosto.

— Santo Deus, o que está acontecendo? É o seu casamento, querida.

— Eu lembrei... lembrei de tudo e... eu não posso colocar a pessoa que mais amo em perigo. Não posso! Sou um problema para a vida dele.

Solucei ainda mais e Sandra tenta me consolar. Ela observou a caixa no chão e observou o que havia nela. Após respirar fundo, olhou para mim e segurou a minha mão.

— Lembra quando falei que num momento importante, você teria que fazer uma escolha. Pense bem, pense em você também.

— Ser egoísta ao ponto de ver Aslan se ferir por minha culpa? Saber que não viverei em paz... que ... terei medo a todo momento? Ele pode me matar, mas Aslan não merece isso.

Arranquei a tiara que estava em meus cabelos. Um momento de fúria, dor e muita tristeza. Aslan é um homem bondoso, cavalheiro, esforçado e humilde mesmo sendo tão rico. Casar comigo, destruindo a vida perfeita, seria minha culpa, só minha.

— O que vai fazer ?— ela fica nervosa.

— Não posso fazer isso.

— Clair, pense bem...

— Eu o amo, sempre irei amar e é por isso que não posso... eu não posso.

Fiquei de pé com dificuldade, segurando o vestido volumoso. Sandra tenta impedir, mas sai do quarto apressada. Quando estava me aproximando da escada principal, Aslan aparece no topo, os olhos arregalados e olha para mim espantado.

— O que está acontecendo?— ele está assustado.

Meu noivo está lindo, com um terno azul marinho perfeitamente alinhado e os cabelos penteados para trás. Olhando para ele, consigo imaginar a nossa vida juntos, mas a cena de Sean atirando contra Aslan, me perturbou.

— Clair, por Deus, o que está acontecendo? — ele da alguns passos em minha direção.

— Não, Aslan... não!— impedi que se aproxime, chorando muito.

— Clair, me deixe te ajudar. O que está sentindo?

Ele é cuidadoso e insistente, conheço bem o homem que amo. Aslan não me deixaria ir sem que eu dissesse o que está acontecendo. Preciso ir, tenho medo que Sean esteja a espreita.

— Eu lembrei de tudo, eu... não posso me casar. Me perdoe, eu... não posso... eu...

— Você recuperou a memória ? Me explica pelo amor de Deus!— ele fica desesperado.

Passei por ele a correr, Aslan tentou me segurar, mas me esquivei. Ele ficou paralisado, tão pasmo quanto eu, possivelmente em choque.

Ao chegar na porta, observei Hillary caminhar pelo gramado e ela me olha, ficando completamente confusa.

— Me tira daqui, me leva embora, por favor. — supliquei desesperadamente aos prantos.

Hillary está assustada, mas vendo o meu estado, segurou em meu braço e seguimos para um local afastado. Observei os carros estacionados e ela abriu a porta para que eu entre.

Cobri meu rosto com as mãos, chorando dolorosamente ao imaginar o quanto estou magoando Aslan. Penso que seria bem pior se me casasse, iria viver com a culpa de ser um perigo para ele. A mãe dele avisou, Olívia também falava o mesmo e elas tinham razão.

Hillary não disse nada, apenas deu partida no carro e saímos da propriedade. Não é distante da cidade, em duas horas chegaremos em Toronto.

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Horas depois...

Estou me sentindo arrasada. Encolhida no sofá do apartamento de Hillary, ela me deu um cobertor para colocar em minhas pernas e estou paralisada, ainda lembrando de cada detalhe da minha vida. Foram momentos horríveis, tão dolorosos e após desfrutar do amor, de saber como é ser amada, percebi que Sean se aproveitou da minha vulnerabilidade. Uma garota órfã, sozinha e precisando recomeçar.

Hillary se aproxima com uma xícara de chá de camomila. Me entregando, mas não sinto vontade.

— Toma isso, vai ajudar. Seus cabelos estão molhados e está frio.— ela afirmou.

Tomei um banho na tentativa de lavar a alma e a dor, mas seria impossível. O que mais dói não é o meu passado, por incrível que pareça, o que me dói é abrir mão do amor da minha vida.

— Você não acha que poderia adiar o casamento? Conversar com Aslan e explicar a situação, quem sabe conseguiriam fazer algo para parar esse cara. — ela sugeriu.

— Hillary, consigo lembrar de tudo, sei que não é tão fácil. Um mês antes do acidente, descobri que Sean é envolvido com coisas muito pesadas, ele possui mais de 3 documentos e nomes diferentes.

Expliquei ao me recordar do dia que mexi nas coisas dele e encontrei a arma, documentos falsos, além de dinheiro em espécie.

— Eu tentava me afastar, mas quando ele descobriu sobre a... mulher que me deixou no orfanato, ele ficou enlouquecido por dinheiro.— suspirei e tomei o chá entregue por ela.

— Não sente vontade de conhecê-la?

— Ela me abandonou, me deixou sozinha. Não quero... não consigo.

— Você poderia descobrir os motivos.

— Nada justifica. — dou mais um gole no chá.

— Aslan não parou de me ligar, Sandra também me ligou e Sarah, todos estão preocupados.

Essa informação me atingiu de forma dolorosa. Fechei os olhos por alguns segundos, respirando fundo e tentando pensar o que fazer de hoje em diante. A minha vida desmoronou mais uma vez. Tudo estava tão perfeito, até parecia um sonho.

— Irei conversar com Aslan quando me acalmar, refletir o que devo fazer. Terei que afastá-lo.

Os meus problemas devem ficar na minha vida, não posso transmiti-los para pessoas inocentes.

— Tem certeza?— ela suspira e acaricia meu ombro.

— Com isso tudo que está acontecendo, aprendi que amar também exige sacrifícios. Aslan se afastou da própria mãe, por mim. Eu estava fazendo mal para ele e poderia fazer muito mais.

Hillary ficou em silêncio, refletindo sobre a minha afirmação. Ela ficou de pé, colocou as mãos na cintura e olhou em volta.

— Vou preparar algo para nós, por sorte, meu marido está viajando a trabalho. Não tem problema nenhum você ficar aqui mesmo se ele estivesse, mas eu adoro quando viaja assim ganhamos um tempinho para nós. — ela sorri na tentativa de me animar.

Hillary vai em direção à cozinha e continuei tomando o chá. Quando imagino como Aslan deve estar agora, me sinto a pior pessoa do mundo. 

UMA EMERGÊNCIA DE AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora