Capítulo 44

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CLAIR LEMAY

Mesmo numa situação estranha, não conseguimos parar de olhar um para o outro. Estou morrendo de saudades, meu coração está acelerado, tanto pelo susto e também por vê-lo novamente.

— Você está bem?— ele muda o semblante, ficando sério e me oferecendo a mão.

Toquei a mão dele, sentindo o choque percorrer em meu corpo. Lembrei dos nossos momentos íntimos e intensos. Meu corpo parece um ímã. Aslan me puxou com uma força maior que era necessário e o impulso me fez subir rapidamente, esbarrando no corpo dele. Nossos rostos ficaram numa distância de poucos centímetros.

— Eu... estou bem, e você?— falei quase a sussurrar.

Ele tem um olhar triste, diferente daquele Aslan que conheci. Me sinto culpada pelo sofrimento que causei. Aslan dá um passo para trás e coloca as mãos nos bolsos.

— Eu estou... vivendo, isso basta. Vim concluir o seu inquérito, como era o responsável por lhe tirar do abrigo.

— Ah, eu...

Respirei fundo, percebendo que o clima está estranho. Sentimentos variados a se misturar, saudade, mágoa, dor, necessidade de estar perto, entre outros. Aslan se agachou, pegando os papeis que caíram no chão, me entregou e se despede:

— Até mais, Clair.

Ele apertou os lábios e caminhou em direção à delegacia. Meus olhos ficaram fixos nele enquanto anda, passando as mãos nos cabelos e sei que meu lindo médico está nervoso. Eu o conheço.

— Eu te amo, Aslan.— sussurrei, sentindo lágrimas se formarem em meu rosto.

Ele é um homem incrível e não merece uma mulher problemática como eu. Não consigo sequer um apartamento, no meu primeiro dia, foi o bastante para ser expulsa diante de tudo que me envolve.

Aslan está chateado, mesmo que isso me doa muito, não posso tentar explicar o inexplicável. Devo aceitar que o meu destino não foi ao lado dele.

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Cheguei no apartamento, suspirando ao observar tudo organizado, sabendo que devo encontrar um novo local até amanhã. Sentei no sofá, tirando os papeis do envelope e espalhando no pequeno móvel de centro em minha frente.

A primeira coisa que posso ver é um jornal antigo, tem a foto de um policial e escrito ao lado, uma breve entrevista.

" Começamos a operação para acabar com as atividades ilegais em nossa capital. O primeiro suspeito já foi preso, uma mulher chamada Clarissa Lamey. Em sua casa encontramos muitos materiais ilícitos."

Cobri minha boca com a mão. Ela foi realmente presa nessa época, quando eu tinha em torno de cinco anos. Não consigo me lembrar com clareza, apenas quando ela me fez descer de um carro e caminhar em direção ao orfanato.

Virando a página, tem mais uma reportagem publicada anos depois, comecei a ler imediatamente.

" Clarissa Lamey foi inocentada ao descobrirem que o seu marido, morto em uma troca de tiros, era o verdadeiro participante de vendas de drogas na região. A mulher pagou anos de cadeira sendo inocente."

Sinto uma angústia muito forte ao perceber que ela ficou anos presa, mesmo que a culpa não fosse dela. Sacrifícios que são pagos, ainda mais por ela não ter nenhuma condição financeira para advogados. .

Tudo está anexado nestes documentos, a foto da minha mãe quando estava dando entrada, segurando uma placa preta com números de registros, datas específicas que mostram quando aconteceu cada situação. O que me chamou a atenção foi uma pequena pulseira, eu lembro disso, posso lembrar.

Quando era criança, usava uma pequena pulseira dourada com o meu nome estampado no pequeno pingente. Ela guardou isso por todos esses anos.

— Meu Deus...

Sussurrei, cobri o rosto com as mãos. Ela também sofreu muito, posso sentir. Ouvi batidas na porta e fiquei assustada. Corri até ela, observando através de um olho mágico, quem está do outro lado. Sandra aguarda que a porta seja aberta.

Aliviada por não ser Sean, abri a porta apressadamente. Segurei a mão de Sandra e puxei de uma vez para dentro.

— Ouw, o que aconteceu? Você está pálida.

Fechei a porta com pressa, trancando-a e segurei a mão da minha amiga, fazendo ela sentar no sofá ao meu lado.

— Olha isso.

Apontei para os papéis. Sandra consegue avaliar um a um, quando finalizou, expliquei tudo que aconteceu nas últimas horas, preciso desabafar e de alguém que possa me ajudar com palavras.

— Nossa, vocês duas pagaram pelos crimes do seu pai.— ela está abismada.

— Mas ela me deixou num orfanato, isso me dói tanto.

— Clair, sou um pouco mais velha que você e ouvi os rumores daquela época. Os abrigos estavam sendo um local perigoso para crianças e adolescentes. Foi uma grande confusão, policiais presos. Sua mãe pensou no que poderia ser menos doloroso e perigoso.

Respirei fundo, esfregando o rosto várias vezes e ficando muito frustrada. Me levantei, andando de um lado para outro. Sandra também ficou sabendo sobre a ordem do síndico, então aconselha:

— Você está sendo perseguida, ameaçada e sua mãe pelo jeito tem muito dinheiro, aproveita...

— Eu não quero o dinheiro dela!

— Calma, o que eu quero dizer é que você pode tentar colocar sua vida nos eixos. Qualquer lugar que você vá, pode estar sendo vigiada, se ela prender ele, você for para os Estados Unidos, pode recomeçar em segurança, até todos serem presos.

— Eu não sei se consigo sentir amor por ela novamente.

— Aproveite, você ao menos encontrou e ela lhe procurou. Daria tudo para poder ver minha mãe, uma única vez.

Ela fala com tristeza e sentei ao lado de Sandra, oferecendo a mão para ela, que segurou e minha e acariciei.

— A vida pode nos pregar peças. Quem sabe essa é a verdadeira oportunidade para você se ver livre daquele desgraçado. Sua mãe tem muito dinheiro pelo jeito, poderá acabar com isso tudo e quem sabe você e... Aslan...

— Não quero criar expectativas. Ele irá seguir a vida dele, mesmo que eu o ame e sei que vou amar por toda a vida. Ele me salvou, sem saber meu nome, nem todos os problemas que me envolviam.

Respirei fundo, abaixando o olhar para controlar o choro. Esses últimos dias foram tão exaustivos, tão dolorosos que é possível que minhas lágrimas sequem.

— Pense em você. Pelo que podemos ver, você foi manipulada, obrigada a fazer coisas absurdas e nunca fez nada de livre e espontânea vontade. Faça o melhor, para si.

Sarah está conseguindo me abrir a mente para as possibilidades. Ficar em Toronto, constantemente ameaçada, sofrendo as mais dolorosas situações, talvez até encontrando Aslan, já que nosso destino prega tantas peças, seria uma enorme tortura. Além disso, quero conhecer a mulher que se diz minha mãe. Sentir amor não será tão fácil. 

UMA EMERGÊNCIA DE AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora