Capítulo 26

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ASLAN GRANT

Cheguei na casa da minha mãe e observei o local. Estou ansioso, desejo que ela aceite as minhas escolhas, ao invés de reclamar ou impor acontecimentos que podem não acontecer. Estou tentando amenizar o clima ente nós, mas não me deixarei levar pelas chantagens emocionais que ela demonstra. Sabendo que minha mãe não é essa pessoa, estou tentando ser compreensível diante da preocupação dela, mas não permitirei que faça nada para evitar minhas decisões.

A porta foi aberta por uma das funcionárias e respirei fundo ao entrar, observando envolta. 

— Onde está a minha mãe ?— questionei ansioso. 

— Está na sala de descanso, doutor. — a funcionária informou. 

Olhei para a escada e sigo em direção ao local indicado. Ao chegar no corredor, posso ouvir a melodia do piano, pois a minha mãe adora tocar desde sua juventude.

Cheguei na porta onde a melodia fica ainda mais alta. Sabendo que ela deve estar concentrada, empurrei a porta lentamente e observei ela sentada no banco a frente do piano, os dedos deslizam pelas teclas com habilidade e ela está atenta a música, não reparou quando entrei. 

— Oi, mãe. 

Falei na tentativa de chamar sua atenção e ela parou de tocar, olhando mim surpresa. 

— Olá, querido. Faz muito tempo que chegou?

Ela abriu um largo sorriso e parou, apenas me observando. 

— Sempre que está tocando, recordo do meu pai que ficava lhe admirando por horas. 

Essa memória foi inevitável. Eles eram um casal perfeito. Meu pai era o lado emocional e ela, racional. O encaixe perfeito de duas pessoas totalmente diferentes, que se completavam. 

— Estava justamente lembrando dele. 

Ela deixou um sorriso fraco aparecer nos lábios finos. Aproximei do instrumento e apoiei os cotovelos na madeira do piano escuro e brilhante. 

— Conheço você muito bem, afinal, lhe conheço desde o dia que veio ao mundo. O que deseja falar? 

Ela me analisa, pois não consegui esconder o receio de abordar esse assunto com ela. Não por medo, mas por não desejar uma desavença desagradável. 

— Estou namorando.

Informei de uma vez e ela arregalou os olhos. Um largo sorriso apareceu nos lábios e isso me deixou confuso, sabendo exatamente o que ela pensa sobre Clair. 

— Até que enfim tomou coragem e pediu Olívia em namoro. Ela é uma boa garota, vocês fazem o casal perfeito.

Entendi o motivo que a fez ficar com um largo sorriso estampado. Respirei fundo e apertei o canto dos olhos, sabendo que será uma decepção para ela quando relatar a verdade. 

— Mãe, não… 

— Ela é linda, de boa família, tem uma ótima educação. É médica assim com você e muito inteligente. — ela continua empolgada. 

— Não é a Olívia. Estou namorando com a…

— Não me diga que…— minha mãe fica de pe. 

— Clair é a minha namorada. 

Minha mãe ficou paralisada, olhando para mim de olhos arregalados, custando a cair em si após a minha revelação. 

— A garota consegui o que queria. Vejo que isso é mais sério do que imaginei. 

— Mãe, não dificulte algo tão simples. 

— Não é simples, só você que não percebe que essa mulher está jogando com todos. Primeiro se instalou em seu apartamento, lhe seduziu e agora… são namorado. Isso só pode ser brincadeira. 

Ela se sentou no banco novamente, colocou a mão da testa, muito decepcionada e respirou fundo. 

— Filho, abre esses olhos em relação a essa garota. Você está em perigo. 

Estou ao lado de Clair desde que ela chegou naquele hospital, presenciei toda a agonia, sofrimento, luta pela vida e para voltar a ter uma vida normal. A angústia após saber que perdeu a memória, principalmente a tentativa de sair da minha vida, mesmo que isso tenha a colocado em risco. Sei que ela não tem um coração maldoso, independente do seu passado, possa ter sido, na verdade, uma vítima. 

— Eu agradeço a educação que me deu. Graças a ela, irei tentar ser o mais claro e sutil. Eu não sou um garoto, não sou um idiota, não sou ingênuo e sei bem o que estou fazendo. Não quero me afastar de você, mãe, mas espero que um dia possa mudar de opinião. Estarei lhe esperando. 

— Espero que eu esteja errada. 

Essa foi a única frase que ela falou. Dou as costas e sai do quarto apressado. Não vejo necessidade de debater muito sobre esse assunto e acabar discutindo. 

A decisão já foi tomada. 

Enquanto caminhei pelo corredor em direção às escadas que dão acesso a sala, parei ao ver um quadro do meu pai. Observar o rosto dele, que muitos afirmam que minha aparência se assemelha, me fez ter lembranças. 

“ Entrei na clínica que o meu pai possuía em Toronto. Tinha 12 anos e uma das coisas que mais adorava, era  ver o meu pai trabalhar. Sempre sonhei em ser médico, como ele. 

— Olha só, você novamente por aqui.— ele abre um largo sorriso ao me ver entrar na sua sala. 

— A mamãe me trouxe. Posso ficar? Diz que sim!!

Supliquei para que ele permita. Ele não gosta que fique muito tempo, pois recebe muitos pacientes com problemas de saúde, sua especialidade de clínico geral, abrange doenças variadas. 

— Hoje é um dia tranquilo, pode ficar, desde que não mexa em nada.— ele avisa. 

— Vou ser médico, papai.— afirmei com orgulho.

— Eu tenho certeza disso, e será um médico ainda melhor que eu. 

Ele passou as mãos em meus cabelos. A secretária apareceu informando que o paciente agendado nesse horário, acabou de chegar. Sentei no sofá do canto da sala, o paciente entrou e meu pai começou a consulta, avaliando minuciosamente. Fico maravilhado com a cena.”

Respirei fundo e fechei os olhos ao lembrar dele. Minha grande inspiração de ser humano e profissional. Volto a caminhar. Quando passei pela porta, observei o carro de Olívia estacionar no pátio. Uni as sobrancelhas, estranhando o aparecimento dela por aqui. 

Caminho em direção ao meu carro e ela vem em minha direção. Não consigo acreditar que está me seguindo. 

— Aslan…

— O que faz aqui? Não me diga que você está conversando e conspirando contra mim?— falei enquanto abro a porta. 

— Conspirando não, quem te ama não lhe faz mal, muito pelo contrário. 

— Não começa, estou farto desse assunto. 

Entrei no carro, indicando para o motorista o destino, preciso terminar algumas solicitações no hospital e em seguida, retornar para casa. Foi um dia bastante cansativo e a única coisa que me alegra nesse momento, é saber que irei encontrar Clair me aguardando. 

UMA EMERGÊNCIA DE AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora