Capítulo 43

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CLAIR LEMAY

Chegamos na delegacia, olhei atentamente além da janela e foi aí que meu coração disparou. Estou traumatizada, exausta de tantos acontecimentos, suplicando por paz.

Um dos policiais abriu a porta para mim, desço ainda receosa e ele indica o caminho.

— Me acompanhe, por favor.

Não respondi, mas acompanhei até a entrada da delegacia. Ele pediu educadamente, mas pela abordagem, senti que não era uma questão de escolha.

Passamos pela recepção, não foi necessário nenhum tipo de documento, apenas seguimos para dentro do local. Isso fica cada vez mais estranho. O policial caminha em minha frente e estou usando um cardigã preto, apertando as mangas com nervosismo. Ele parou em frente a uma porta, apontou para ela e me olhou a fala:

— Pode entrar.

Não sei o que me aguarda, mas quero acabar com isso de uma vez por todas. Peguei no trinco da porta e girei, dei um passo longo para dentro e quando levantei o olhar, me deparo com uma mulher.

É ela!

A mulher da foto que Sean insistia para eu procurar, ou seja... a minha mãe.

Meus olhos ficaram vidrados na mulher que está emocionada, lágrimas escorrem no seu rosto. Ela tem cabelos grisalhos, roupas muito elegantes e muitas joias. Botei que ao lado dela, uma bengala está encostada na cadeira.

— Filha...

Pela primeira vez, estou ouvindo a voz da minha mãe. Pelo menos, desde que consigo lembrar, por ser muito jovem quando me deixou naquele orfanato, as lembranças são vagas.

— Não... não, não!— balancei a cabeça em negação.

Dou as costas na intenção de ir até a porta e sumir dessa sala. Não consigo perdoar por ter me deixado naquele lugar, acarretando tantas situações lamentáveis em minha vida.

— Clair, me escute, por favor!

Ela suplicou e parei próximo da porta. Fechei os olhos, respirando fundo e tentando controlar o misto de sentimentos que invadem meu ser. Volto a ficar de frente para a mulher.

— Escutar? Você resolveu falar praticamente 17 anos depois? O que quer? Que eu vá em sua direção, dando um abraço e fale "Mamãe, que bom vê-la novamente"?

— Não, filha. A única coisa que eu peço é que me ouça.

A curiosidade de ouvir as desculpas que ela tem para falar, me consome. Com um sorriso irônico em meus lábios, sentei na cadeira à frente dela.

— Como se chama, senhora?

— Clarisse Lemay.— ela responde, secando as lágrimas com um lenço.

— Ah, óbvio, não é mesmo?

— Apenas me ouça, você merece respostas.

Respirei fundo, me encostando na cadeira e cruzando os braços. Observei ela atentamente, reparando o quanto tem joias. Recordo do dia do acidente, quando fugia de Sean, que me obrigada a procurá-la.

— Clair, quando você ainda tinha 5 anos, eu ainda morava com seu pai. Nunca tivemos boas condições financeiras, mas ele sempre dava um jeito de conseguir dinheiro. Quando descobri que ele estava envolvido com vendas de drogas, começou a se tornar agressivo, tentei fugir com você, mas a polícia chegou.

Engoli seco, tentando ser forte diante das revelações que ela está falando. Começo a estranhar, pois no orfanato, alegaram que ela era uma usuária de drogas.

— Mas você então era uma...

— Eu nunca usei absolutamente nada dessas malditas substâncias.

Ela me encara fixamente ao falar com tanta convicção que senti verdade. Ela é uma boa atriz, ou está falando a verdade.

— Mas...

— Seu pai armou tudo e fui acusada de vender drogas. Fui levada para a delegacia, você chorava ao meu lado e eles me fizeram ir até nossa casa, encontrando muitas provas, deixadas pelo seu pai.

— Onde você estava?

— Antes de ir para a delegacia, um policial de bom coração me ajudou a deixar você no orfanato. Eles iriam levar para abrigos e coisas horríveis acontecem, fiquei apavorada.— Ela olhou para a porta e falou alto. — Senhor Tiller!

Um homem também de cabelos grisalhos entra na sala. Ele é um senhor, mas aparentemente bem-vestido, quando me olha, abre um largo sorriso.

— Ela se tornou uma linda garota, senhora Lemay.

— O que está acontecendo?

Olhei para ela, depois para o homem que fica posicionado com as mãos à frente do corpo. A mulher faz um gesto com a cabeça e ele começa a relatar:

— Sou um policial aposentado, fui o responsável por levar sua mãe até o orfanato. Eu mesmo aconselhei, sabendo que, naquela época, estavam acontecendo coisas horríveis com crianças e adolescentes.

— Como saber se tudo isso não é mentira?

Estou ficando cada vez mais confusa, minha cabeça dói com tantas informações.

— Aqui está todo o meu caso, pode ler quando retornar para casa. Clair, passei mais de 10 anos presa, quando fui solta, comecei a procurar emprego na tentativa de conseguir tirar você de lá.

O homem abaixou o olhar, também aparenta estar triste enquanto ela relata sua trágica história.

— Seu pai morreu em um confronto contra a polícia, fui inocentada depois de muitos anos. Nunca consegui ver você, me impediam e alegavam que podia ser adotada. Me esforcei incansavelmente, conheci um homem mais velho, um dos sócios da joalheria. Minha vida mudou e tudo que fiz foi para conseguir ter dinheiro e procurar você em qualquer lugar.

Fiquei de pé, colocando as mãos na cabeça e sentindo uma tremenda confusão. Ela pode ser uma vítima assim como eu, mas meu coração não consegue apagar toda a história que acreditei por toda a vida.

— Eu comecei a receber e-mails sobre você por meio de um homem chamado Taylor, mas eu descobri tudo. Ele estava pedindo dinheiro para levar você até lá. O senhor Tiller esteve por perto observando-o. Você desapareceu por um tempo, fiquei tão preocupada. Estou devastada como esse homem lhe fez mal.

Olhei para ela, com lágrimas nos olhos e gritei:

— Se você não tivesse me deixado naquele lugar, minha vida não seria essa merda toda. Eu perdi o amor da minha vida, o único homem que me fez bem.

— Me deixe te ajudar. Venha comigo, vamos prender esse homem, mas você não pode ficar aqui até que prendam todo o grupo dele.

Ela se aproximou, segurou meus ombros e me encarou, como se estivesse suplicando.

— Me deixe salvar você. Me permita dar paz a sua vida.

Afastei as mãos dela, antes de sair, peguei os papeis que estavam sobre a mesa num envelope. Quero analisar todos os detalhes dessa história.

— Vou te esperar, filha.

Ela afirmou com um tom tristonho e sai porta afora apressada. Meus passos são tão rápidos que estou quase a correr, um policial apareceu em minha frente oferecendo uma carona até a minha casa, mas recusei. Chega de polícia.

Abraçada ao grande envelope, desci os degraus da saída e corri pelo estacionamento, ao cruzar, poderei encontrar um táxi.

Sou surpreendida com um carro que freia bruscamente. Os papeis caíram no chão, assim como eu, senti dor nas mãos ao me apoiar no chão áspero.

— Você está bem, eu...

Essa voz!

Olhei para cima e vejo Aslan com os olhos arregalados. Ele está ofegante, algumas mechas de cabelo caem nos olhos, tão lindo como sempre. 

UMA EMERGÊNCIA DE AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora