Capítulo 5

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Era um palco de madeira imenso com uma cortina carmim ao fundo. As fileiras eram todas arrumadas no estilo italiano, com um vasto dourado em suas pilastras que contrastava perfeitamente com o tom vermelho das almofadas das cadeiras, dando um ar de riqueza.

Apesar da beleza, o teatro estava abandonado e apresentava um aspecto envelhecido, o que trazia um charme natural ao ambiente. E também um ligeiro cheiro de poeira e mofo.

– Eu venho aqui ensaiar balé e me imagino apresentando para um ilustre público – ela contou. – Como eu tenho um problema com apresentações públicas, isso me ajuda um pouco.

Isso fez uma ideia surgir para Castiel.

– Não há instrumentos musicais aqui? – Ele perguntou.

– Temos o velho piano, o órgão e os outros instrumentos foram leiloados há alguns anos.

– Piano?

– Sim – ela apontou para o piano coberto com um pano empoeirado atrás de si.

– Ainda está em boas condições?

– Pra quê esse interrogatório todo? – Ela perguntou.

– Eu toco teclado – Ele contou. – E violão e guitarra também. E também componho músicas.

Ela ergueu a sobrancelha.

– Tô surpresa, mas sim, o piano ainda está em boas condições – Ela falou.

Castiel se aproximou do piano.

– Me permite? – Ele perguntou segurando o pano que cobria o piano.

– Fique à vontade.

Então ele tirou o pano que cobria aquela beleza moderna.

– Wow! – Ele hesitou. – É um Grotrian Steinweg de cauda do século XIX!

– Me xingou toda - Ela comentou com um tom de humor.

– É uma marca foda da Alemanha, e você, como alemã, deveria saber – Ele brincou.

Castiel soprou as teclas empoeiradas e tocou uma ou duas teclas.

– E não está desafinado – Ele sorriu. – Posso...?

– Vai em frente – Ela lhe deu permissão.

– Como não sou fã de música clássica, mas você gosta dos Beatles, vamos ver se você reconhece essa música – Ele se posicionou e examinou as teclas antes de começar a tocar.

Katherine sentiu um misto de admiração e surpresa, os toques dele eram leves, concentrados e precisos. Tentou conter sua surpresa e focar em decifrar qual era a música que ele tocava.

Mas o refrão entregou completamente.

Let it be! – Ela adivinhou.

– Sim – ele falou sem desviar a atenção do piano. – Saí um pouco estranho no piano, não?

– Sim, Beatles clássico – Katherine teve que concordar.

– Vamos, me acompanhe. Vou recomeçar – ele avisou e então deu partida novamente. – When I found myself in times of trouble, Mother Mary comes to me...

– Speaking words of wisdom: let it be – ela completou timidamente.

Castiel lhe lançou um olhar e sorriu para ela.

Katherine sentiu o peito borbulhar e o coração bateu mais forte. Naquele momento, sentia que havia apenas eles dois no mundo inteiro. O som do piano ficou abafado em seus ouvidos, suas mãos ficaram frias e ela sorriu de volta para ele.

Ele era uma surpresa boa que a vida havia lhe reservado.

***

Depois de deixar Katherine em casa, a temida tempestade que era anunciada por trovões estrondosos no céu veio. Felizmente, Castiel conseguiu chegar à casa a tempo de não pegar o temporal.

– Miley? – Ele chamou acendendo as luzes da sala.

– Oi – Ela surgiu da cozinha.

– Pensei que fosse sair – Ele deixou o molho de chaves no vaso de chaves da sala.

– É, eu também, mas eu desisti. Vai cair uma chuva – Miley falou. – E vai fazer muito frio.

– Hm – Ele deu de ombros sem dar importância.

– E você estava com a Katherine?

– Sim, nós estávamos dando uma volta por aí – Ele confirmou.

– Fala a verdade, Castiel. Por que esse interesse repentino na minha amiga? – Ela perguntou.

Castiel suspirou.

– Por que é tão difícil aceitar que eu simpatizei com ela?

– E o que te levou a isso? Eu sei que sua intenção não é das boas, nunca foi – Ela sentou-se no sofá e ficou o encarando.

– Eu estou apenas tentando ser legal, ok? – Castiel disse. – Katherine é uma garota bacana e inteligente, por que eu não seria amigo dela?

– Vocês nunca nem conversaram.

– Eu acho que vocês duas estão de complô... – Ele rolou os olhos.

– Está fazendo isso para esquecer Helena? – Miley ficou séria e cruzou os braços. – Não mente pra mim.

– Não! – Ele exclamou como se a ideia fosse absurda. – Tenha dó, Helena e eu não temos mais nada, você sabe bem o motivo.

– Ainda bem que você se tocou – Miley concordou. – Mas eu estou de olho em você. Amo você, és meu irmão, mas se magoar a Katherine, eu acabo contigo. Ela não merece viver mais um lance triste na vida, tô falando, dá vontade de guardar ela num potinho.

– Pirralha, eu não sou um pnc – Ele bagunçou os cabelos dela e foi para seu quarto.

Castiel foi para seu quarto e se jogou na cama. E ele ficou pensando na menina de cabelos de fogo que adorava causar um suspense sobre sua personalidade.

Era incrível como Katherine tinha a capacidade de saber surpreender no momento certo.

Como ela conseguia?

Por que ela?

Por agora?

Ela era diferente, mas de um jeito bom.

Era como se Katherine fosse uma flor raríssima de se encontrar, mas ela também se parecia com uma rosa. Sempre com respostas afiadas como espinhos de uma rosa, mas com pétalas tão delicadas e fechadas, escondendo-se, guardando-se, esperando o momento certo para que pudesse mostrar para o mundo sua verdadeira natureza.

Então uma ideia repentina surgiu.

Castiel sentou-se rapidamente e pegou um caderno que havia no criado mudo.

– Lápis, lápis – ele murmurou para si mesmo, estalando os dedos e caçando com os olhos por um lápis.

Ele se esticou até a prateleira que havia acima de sua cama e pegou um lápis em um pote cheio dos mesmos.

As chamas dançavam em seu cabelo

Mas também em seu olhar

Em suas palavras o desespero

De não conseguir se encontrar.

Seus olhos verdes eram um espelho

E mostravam onde ela estava

Por aí com seu converse velho

Ela só queria se encontrar.

E mesmo que todas aquelas palavras a representassem, ele sabia que ainda havia muito nela para descobrir para poder completar aquela canção.

Na Grécia Antiga, os cantores e compositores se inspiraram nas Musas para escrever suas canções.

Seria Katherine Bathory a sua musa? Por que ela lhe dava inspiração?

Quase Sem QuererOnde histórias criam vida. Descubra agora