O sono era algo com o qual Isabella Hale já não estava familiarizada havia muito tempo, e a nova intrusão que isso trazia para sua vida era totalmente indesejada. Essa forma de existência já era nebulosa e instável, uma cacofonia de excessos enquanto, ao mesmo tempo, tudo parecia estar fora de alcance. A capacidade, quanto mais a necessidade, de dormir só adicionava mais complicações a tudo isso.Mas ela logo aprendeu que não tinha muita escolha.
No início, Isabella se perguntou se isso tinha alho a ver com os padrões de sua Little Bird. Afinal, foi assim que tudo começou; fazia sentido. Quando sua Little Bird deitava a cabeça para descansar, sua mente começava a trabalhar em segundo plano; as luzes escureciam e as cortinas se fechavam, os disparos de sinapses concentrando-se completamente em uma experiência subconsciente. Pulmões respirando, coração batendo, sangue bombeando, sua mente cuidadosamente filtrando e organizando as experiências e sentimentos do dia em uma mistura nebulosa de sonhos e memórias fragmentadas.
Isabella achava difícil operar corretamente quando sua Little Bird dormia; sempre foi assim. Em algumas ocasiões, ela até se via entrando em uma paisagem mental estranha, semelhante a um vazio, incapaz de se projetar para fora assim que o sono chegava.
Portanto, a princípio, o obstáculo da necessidade de sono de sua Little Bird era esperado e aceito, um bloqueio no caminho contra o qual nada podia ser feito. Isabella estava bem com isso; ela podia se adaptar o melhor que pudesse enquanto aguardava um ambiente mais hospitaleiro para sua consciência.
Exceto que sua Little Bird não se transformou. Ela continuava humana. Ainda era jovem demais, suas raízes profundamente arraigadas ao mundo ao seu redor, o que impedia que ela se libertasse sem causar mais problemas. Então, a humanidade continuava a infiltrar-se.
Logo, Isabella começou a sentir-se cansada.
Não aquele tipo de cansaço que vem após o calor da batalha. Esse cansaço era de músculos doloridos e articulações desgastadas, o leve ardor e formigamento de cicatrizes marcadas pela ação do veneno em sua pele. Isabella não precisava dormir para aliviar esse tipo de cansaço; ele se resolvia com uma boa refeição e algumas horas sem muito movimento. Mas isso não era sono.
Isabella não conhecia o sono há algo que provavelmente somava dezenas de milhares de anos.
Esse tipo de cansaço era aquele que só poderia ser resolvido por essa experiência agora estranha, o tipo de cansaço que enevoava sua mente e fazia seus "movimentos" parecerem lentos, como se ela estivesse nadando em melaço apenas para dar um passo ou levantar o braço. O fato de que ela sequer tinha um corpo físico não atenuava as sensações nem um pouco, o que se somava a uma experiência geral de grande frustração.
A lentidão de sua mente era o pior. Isabella, desde a primeira vez em que sentiu o fogo do veneno em seu sangue, foi agraciada com uma mente afiada que nunca descansava. Ela precisava dessa capacidade para suportar toda a extensão de seu dom. Todos os Cullens eram inteligentes à sua maneira. Edward, Emmett e Esme variavam de um pouco abaixo a um pouco acima da média em termos de intelecto bruto, mas cada um tinha seu próprio tipo especial de esperteza para recorrer.