22. De volta à estrada

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As conversas e o barulho dos talhares enchem a cozinha quando Kira passa pela porta, uma percepção facilmente ignorada por sua equipe, mas uma atração e tanto para o prefeito e sua família, uma esposa e três filhos com mais ou menos a mesma idade deles.

— Disseram que não tinha hora para voltar, por isso começamos sem você — desculpa-se o prefeito, enquanto o restante disfarça a estranheza. Kira o observa, se perguntando por que precisariam de sua presença para comer, por fim, considerando que a resposta não importa e deixando isso de lado. — Sente-se conosco — acrescenta por fim, quando ela começa a se servir em silencio.

— Alguma resposta? — pergunta Isis depois que ela se senta, quebrando o silencio que havia se instalado, interrompendo-a com a colher a meio caminho da boca.

— Sairemos pela manhã — é tudo que diz, antes de começar a comer.

Reprimindo o impulso de lançar nela a faca que usa para cortar carne e exigir uma reposta adequada, Isis se resigna a aceitar que não dirá nada mais que isso agora, de qualquer forma, não é apropriado falarem sobre as missões na frente de civis, o que provavelmente é o caso, já que não dissera "voltaremos pela manhã". Por fim, retornam ao assunto anterior, sobre tudo que haviam feito no vilarejo durante a tarde, e sobre o que, de acordo com a família, deveriam experimentar no dia seguinte, ou na próxima vez que estivessem ali.

— Cuidado com isso! — ralha a mulher com a criança menor, que interrompe a conversa ao quase virar o prato tentando cortar o pedaço de carne, que fora parar no meio da mesa. — Já disse que não pode mexer com faca! — acrescenta, ainda mais irritada, retirando de sua mão o objeto pouco afiado que havia pegado enquanto a mãe estava distraída.

— Mas eles usam! E são quase da mesma idade que eu — reclama o garoto emburrado.

— Você é criança! — diz após um momento em silencio.

— Éramos menor que ele quando começamos a aprender usar espadas — comenta Isis distraidamente.

— Viu?! — diz o garoto, ainda mais emburrado.

— Você não é treinado como eles — esclarece ela.

— Uma faquinha dessas, nem faz estrago! — diz Atlas querendo rir.

— Ele pode cortar o dedo — explica a mulher de maneira maternal, recebendo um olhar incrédulo da garota.

— E daí? — questiona, chocando-os mais a cada palavra que se segue. — Se ferir é normal e um cortezinho no dedo nem dói! O Atlas já foi empalado por uma espada, isso é um ferimento com que se deva preocupar — conclui distraidamente, voltando a encher a boca com comida ao final.

Arthur os observa, ponderando que talvez deva explicar melhor a eles como os civis vivem. Nem toda criança cresce com armas, nem mesmo a maioria dos adultos foram feridos o suficiente para aprender a não temer a dor. E é como deve ser, como todos deviam ter a chance de crescer, mas para eles, que cresceram em abrigos militares, tudo isso parece inacreditável. Drake contempla a cena em silencio, divertindo-se com a situação. Eles ainda não entenderam que são a exceção e não a regra.

Os civis ainda não haviam se recuperado o suficiente para responder quando o movimento extremamente silencioso da garota parece chamar mais atenção do que se tivesse arrastado a cadeira. Kira se retira em silencio, levando o prato vazio até a pia e lavando-o rapidamente antes de sair. Os outros se apressam em terminar e segui-la, esquecendo-se completamente do assunto anterior enquanto a curiosidade a cerca da resposta do destacamento toma conta de suas mentes.

***

— O que é tudo isso? — questiona, observando as três bolsas cheias próximas a porta.

— Suprimentos para a viagem que a sra. Amara nos deu — responde Arthur.

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⏰ Última atualização: Nov 15 ⏰

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