11. Trabalho duro

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Ano 1502, mês de Alpha, dia 20.

— Se já enviamos o relatório, não precisamos ir ao destacamento agora, não é? — pergunta Isis enquanto caminham pelas ruas calmamente movimentadas.

— Iremos amanhã — responde Kira. Não faria diferença receber a nova missão agora ou amanhã de manhã, já está no fim do dia e nada poderiam fazer a respeito.

— Precisamos comprar mais comida — lembra Arthur, interrompendo a caminhada enquanto passam pelo mercado.

— É, nem deu pra almoçar direito, eu tô morrendo de fome! — reclama Atlas.

— Podem fazer isso sozinhos — diz continuando sua caminhada e deixando-os para trás.

— Espera! Mas e o dinheiro? — questiona Atlas.

— Não está comigo.

Isis remexe na bolsa desconfiada, ficando surpresa ao encontrar um saquinho de couro com algumas moedas. Achava que tinha pegado a bolsa vazia, e só a abrira para colocar alguns cristais coloridos que encontrara na beira de um lago pelo qual passaram.

— Eu não sabia que estava aqui — diz dando de ombros, antes de se virar e ir em direção a uma das bancas.

— O que vamos comprar? — pergunta Arthur.

— Comida! — diz Atlas.

— Tem tanta coisa — diz Isis olhando de um lado para o outro enquanto caminham entre as bancas.

— Pelo menos aqui não querem nos expulsar — diz Atlas, lembrando-se do fatídico passeio no vilarejo vizinho.

— Moram num vilarejo militar, não têm escolha além de nos suportar — diz Drake, observando as pessoas que os ignoram depois de uma olhada mal humorada. — Parem de enrolar e comprem logo essa comida.

Certamente daria qualquer coisa para estar deitado em sua cama agora. Mas entre suportar toda essa animação irritante dos demais ou ficar sozinho com a assassina que já ameaçara mata-los mais de uma vez, prefere deixar o descanso para mais tarde. Apesar da curiosidade e empolgação, não demoram muito antes de seguirem para casa, estão todos cansados da viagem, e de qualquer forma, não têm dinheiro para nada mais que comida.

***

O sol começa a se pôr atrás das arvores, mas na floresta tem ainda menos luz. A agua corrente de um riacho próximo, o uivo do vento entre as folhas, a algazarra dos pássaros e os insetos noturnos que acabam de acordar, é tudo que ouve após terminar de contar, de seu jeito direto e pobre em detalhes, como fora a primeira missão.

Momentos como esse, costumavam ser os únicos em que ouvia a própria voz, isto é, com exceção as aulas em que os professores a faziam perguntas, usando-a como bom exemplo para os demais. Agora, tem sido obrigada a falar muito mais e o som começa a parecer familiar.

— Eu sei que disse que nunca mais usaria aquele poder, mas eu sei que faria o mesmo se estivesse em meu lugar, e agora, ele é nossa maior chance. Ainda o odeio, mas preciso fazer isso!

Fica em silencio novamente enquanto os últimos raios de sol dão lugar à penumbra que a envolve.

— Deve sentir falta dela... bom, acho que ela continua a mesma. Fui egoísta, não é? Eu nunca parei pra pensar que não era a única, falhei com você de novo quando virei às costas a ela. Sei o que diria se estivesse aqui, mas não consigo fazer isso... não sou como vocês. Sinto muito por isso, mas protege-la é tudo que eu posso fazer. Prometo não falhar dessa vez — diz solenemente, antes de se levantar e virar as costas, deixando para trás a pequena lápide em meio à floresta, parcialmente coberta por musgo e trepadeiras.

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