8. Enfim, o silêncio

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Vozes distantes, em uma conversa quase incompreensível se infiltram em seu sono, lentamente puxando-a de volta.

— Tem certeza que ela tá bem?

— Relaxa Atlas, ela só tá dormindo — responde Isis pela terceira vez, tentando não se irritar com o garoto hoje.

— E por que não acorda?

— Por que ela esgotou toda a mana te concertando — responde Drake entediado.

As vozes parecem mais próximas, e os outros sentidos, aos poucos, começam a retornar.

— Já tinham visto algo assim? — pergunta Isis mudando de assunto.

— Não.

— Foi incrível não é? — diz Arthur impressionado. — Nunca ouvi falar de uma habilidade de cura que não use um elemento.

— É mais forte também — diz Atlas, e os três o encaram. — Os curandeiros da academia levavam um tempão pra curar um osso quebrado! Ela curou todo mundo em poucos minutos.

Ninguém discorda da opinião do garoto com mais experiência em enfermaria e ossos quebrados que qualquer outra pessoa. A conversa termina ao verem a garota se sentar, olhando ao redor antes de fita-los em silencio, que poderia se estender eternamente se não fosse por Atlas.

— Até que enfim! — diz animado.

— Quanto tempo eu dormi? — pergunta preocupada, percebendo que já começara anoitecer. Ainda era metade da manhã quando a luta terminou.

— Muuuiiito tempo! — diz Atlas incisivamente.

— Umas sete horas — diz Arthur, virando a carne sobre a fogueira.

— Estão todos bem? — pergunta de maneira analítica, mais como a líder, preocupada que não estejam em bom funcionamento do que propriamente com o bem estar de todos.

— Sim, você curou todo mundo — diz Isis, vendo um pouco de surpresa através da mascara inexpressiva quando olha para os próprios braços, antes queimados.

Enquanto a observa, lhe ocorre que se soubesse dessa habilidade não teria permanecido queimada desde que Drake a atingira na noite anterior.

— Parece que despertou uma habilidade nova — diz Arthur, que chegara a mesma conclusão.

— Não exatamente — diz fitando o chão e se levantando rápido demais, sentindo-se repentinamente tonta e prestes a cair novamente. — Onde estamos?

— Não muito longe do acampamento inimigo — explica Drake.

— Onde você vai? — pergunta Atlas.

— Averiguar, e talvez descobrir por que estavam aqui.

Os quatro a fitam, não deveriam ficar tão surpresos que ainda esteja pensando na missão, afinal, é a Kira.

— Já tá escuro, e você ainda tá fraca! Podemos fazer isso amanhã — diz Isis incisiva.

— A comida já tá quase pronta — acrescenta Arthur.

— Ok — diz se virando contrariada e se sentando ao pé de uma arvore, distante da roda envolta da fogueira, parcialmente oculta pelas sombras das arvores.

A observam com estranheza por um instante, lembrando-se de disfarçarem e voltando a conversar sobre qualquer coisa. Isis a fita ocasionalmente, refletindo sobre tudo o que acontecera, mal prestando atenção ao assunto. Ainda não sabe o que aconteceu com Luna, mas está certa de que seja o que for, não foi sua culpa, e que talvez, apenas talvez, a Kira que conhecera ainda esteja ali em algum lugar.

Lendas de Sahra - UnificaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora