10. Despreparados

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Ano 1502, mês de Alpha, dia 11.


Ainda não amanhecera completamente quando o estalo de um arco, seguido do som de uma flecha entrando na madeira os acorda. Levantam-se sonolentos enquanto a garota atira mais duas setas antes de se dar por satisfeita com a nova corda do arco, recolhendo-as em seguida, e descartando a que acabara lascando no processo.

Os quatro retornam do riacho, mais despertos depois de lavarem o rosto, terminando de se aprontarem. O que para Atlas e Arthur significa nada mais que pegarem suas armas e aguardarem, enquanto os outros dois terminam de arrumar o cabelo. Drake primeiro, já que só prende duas mechas para frente e o restante para trás, como de costume. Isis leva um pouco mais de tempo para terminar uma longa trança, que geralmente usa do lado esquerdo.

— Quem você acha que tem o cabelo maior? — Atlas pergunta ao outro garoto começando a rir.

— A Isis ganha por pouco — responde Arthur, entrando na brincadeira.

— Qual dos dois vai gritar mais alto quando começarem a queimar? — pergunta Drake aproximando-se, ainda mais mal humorado que de costume, já que tiveram que acordar mais cedo.

Os dois dão risada, enquanto Isis se aproxima, terminando de prender a ponta da trança com uma tira de couro trançado, que finaliza fazendo um laço.

— Você podia me contar o que usa no cabelo pra deixar brilhante assim — diz parando ao lado do garoto que a fita de esguelha antes de responder.

— Fogo, quer tentar? — diz sorrindo maldosamente antes de se virar e sair. — Vocês conseguem ser ainda mais insuportáveis de manhã! — reclama indo para o outro lado enquanto os três riem ainda mais.

Contrariando tudo, a viagem inicia-se tranquilamente, conversas aleatórias e bem humoradas, sem brigas ou provocações em excesso. Diminuindo à medida que se aproximam do destino, até não restar nada além de silencio, tensão e ansiedade, que tornam o ar mais denso e o animo mais mórbido. Silencio que ninguém se atreve a quebrar até o meio da tarde, quando Kira interrompe a caminhada.

— Entraremos em território inimigo a qualquer momento — anuncia.

Haviam os instruído mais cedo a cerca da primeira parte do plano, encontrar o inimigo. E como combinado, Isis, Atlas e Drake permanecem ali, se escondendo devidamente longe do chão depois de demarcarem um perímetro com armadilhas e barreiras de aviso. Kira segue com Arthur, que poderia carregar apenas os dois por muito mais tempo, movendo-os silenciosamente entre as arvores enquanto ela procura atentamente por vestígios do grupo inimigo.

— Pare — diz em tom quase inaudível ao avistar o primeiro sinal.

Os restos de um acampamento, abandonado a pelo menos dois dias. Mas Kira não se daria por satisfeita tão fácil, não voltaria a abaixar a guarda, nunca. Ainda escondidos observam o local por alguns minutos, a distancia. Até onde sabem, pode muito bem ser uma armadilha. Enfim, resolve ver mais de perto, pedindo para Arthur descê-la, mas permanecer escondido.

Depois de atentamente revirar o que restara do acampamento reconhece que realmente fora abandonado. Ninguém teria chegado antes, claro, ainda assim havia falhado na missão. Em outras circunstâncias estaria irritada consigo, mesmo que não tenha controle de tudo, um fracasso é um fracasso, e fracassar é inadmissível. Entretanto, só podia sentir alivio, as chances de terem sucesso eram incrivelmente escassas, e se conseguissem, as coisas seriam ainda piores.

Com sorte se dariam por convencidos de que o primeiro grupo fora um mero acaso, se por acaso conseguissem derrotar o segundo grupo, o que certamente teria um alto custo, seriam ainda mais superestimados e promovidos para um ranking mais alto. Não que isso seja ruim, mas não há nem um mérito em um reconhecimento que não se merece, há uma razão para qual existem níveis, e seria estupidez morrer tentando realizar algo para o qual não estão preparados. Vivos, teriam a chance de evoluir.

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