Lendas de Sahra - Unificação

18. Infiltração

A comoção do grupo em comemoração a vitória, diminui gradativamente diante da postura severa da líder, que os observa de uma maneira que os faz sentir falta do olhar constantemente indiferente, até que não reste nada além do silencio, palpável e ensurdecedor, ressoando pela floresta com o leve vento noturno. Por alguma razão a quimera alguns metros atrás dela, que ainda estremece em seus últimos suspiros, começa a parecer amigável.

— Não tivemos nada a ver com isso! — Isis quebra o silencio, apontando de si para o dominador de plantas ao lado, que observa a líder de maneira culpada. Seu olhar, até então sem um foco específico, se direciona lentamente para os outros dois, estranhamente interessados no cenário ao redor.

— A ideia foi do Atlas — diz Drake, olhando para a fera menos hostil atrás dela. Embora não participe das conversas e discussões, claramente já conhece o suficiente de sua personalidade para concentrar o olhar, ainda mais penetrante, no dominador de fogo.

— É verdade, a ideia de caçar a fera foi minha — confessa Atlas, levantando o olhar para a garota, que o ignora, ainda fitando o garoto que esconde a apreensão atrás de uma postura descontraída.

— Você o desafiou? — a pergunta soa como uma sentenciosa afirmação.

E esta foi a ultima coisa dita na floresta até a manha seguinte. Que começara incrivelmente silenciosa e produtiva, provando o que a esta altura acreditava ser impossível, que são capazes de se preparem para partir com eficiência excepcional. E até a partida, não ouvira uma palavra se quer além de dois tímidos "obrigado" quando curara os hematomas da punição que aplicara na noite anterior.

Se não estivessem prestes a cumprir a missão, possivelmente quebrariam o nada impressionante recorde de tempo em silencio, mas precisavam falar, ainda que o mais focados possíveis na missão, quando Kira faz uma pausa, ainda no fim da manhã, após algumas horas de caminhada.

— Chegamos? — Atlas é o primeiro a perguntar.

— Estamos prestes a entrar em território inimigo, a localização não é precisa, temos uma grande área para procurar então sugiro que comam agora, não terão oportunidade depois.

— Acha que estão mesmo lá? — questiona Isis. — Quer dizer, podem ser só boatos, não é?

— As informações são sólidas, mas há a possibilidade de já terem partido para outro local, no entanto, ainda podem estar aqui e precisamos ser o mais cautelosos possível.

— E aí a gente acaba com eles! — diz Atlas, perigosamente empolgado, socando a palma da mão esquerda.

— Essa sua empolgação estúpida é o que vai acabar matando a gente! — acusa Isis.

— Vê se não complica as coisas ainda mais — diz Drake sem animo.

— Eu não vou complicar nada!

— Você não pensa antes de agir, vai se colocar em perigo e a nós também! — diz a dominadora de água.

— Se não quer ficar em perigo é melhor não me encher! — ameaça o garoto em tom alterado.

— Você tá me amea...

— Calem, a boca! — o tom perigosamente baixo, quase inaudível, soa ensurdecedor, calando-os imediatamente enquanto se viram em direção à garota, que os observa friamente. — A menos que seja relevante para a missão, espero não ouvir mais nenhum ruído! — ameaça, pairando o olhar pelo grupo antes de parar no garoto, com a energia e agitação de sete equipes inteiras. — Quanto a você, não se atreva a agir por impulso!

— Eu seiii! E vindo de alguém que não fala muito, você já disse isso muitas vezes — acrescenta, e ela estreita o olhar enquanto os outros lutam contra o impulso de começar a rir.