5. Decisões estúpidas

21 3 2
                                    

Ano 1502, mês de Alpha, dia 5.


— Chegaremos amanhã no início do tarde — anuncia, chamando a atenção do grupo que conversa descontraidamente.

Os quatro se viram em direção à garota, que não diz uma palavra desde a ameaça, que a propósito, só fora suficiente para algumas horas de silencio. Desde então decidira ignorara-los completamente, sentando-se o mais longe possível durante as refeições, e deixando a escolha deles segui-la ou não, quando interrompe ou retoma a viagem sem dizer nada.

Para Arthur, havia simplesmente aceitado que são uma causa perdida, Drake tem certeza de que está planejando uma morte lenta e especialmente cruel para cada um deles e Atlas, não pensara a respeito. Mas para Isis tudo isso é ainda mais complicado, e por mais que queira ignorá-la da mesma maneira, estar perto dela levanta antigas questões as quais pensava já ter superado. Talvez por isso, não consiga deixar de observá-la, tentando encontrar algo que provavelmente nem existe, uma pista qualquer do que pode ter acontecido, ou um sinal, por menor que seja de que ao menos se lembra.

Os garotos voltam a conversar, algo sobre a missão do dia seguinte, enquanto Isis a encara de maneira analítica a garota completamente apática e distante, que nem parece ter acabado de falar com eles depois de quase dois dias em absoluto silencio. Qual é o seu problema? Questiona-se frustrada e enfim, suspira determinada, levantando-se e indo até ela.

Ela pode ter mudado muito, se tornado uma pessoa sinistra e aparentemente sem nenhuma emoção, provavelmente capaz de matar alguém sem pensar duas vezes e sem nenhum remorso, mas seria mesmo capaz de fazer isso com ela? Gostaria de ainda poder dizer que não, com absoluta certeza, mas a Kira que conhecera evidentemente já não existe. De qualquer forma, havia sido paciente por todo esse tempo, agora, precisava enfrenta-la e descobrir a verdade, ainda que precise arrancar a força de seu corpo magrelo!

— Precisamos conversar — anuncia ao sentar-se na frente dela, e os garotos se calam, passando a prestar atenção. — Eu juro que se me ignorar dessa vez...

— Alguma dúvida sobre a missão? — questiona sem levantar o olhar dos malditos mapas e anotações, interrompendo sua ameaça.

— Não, eu quero falar sobre...

— Então não temos nada pra conversar — diz naturalmente apática, por fora, enquanto mentalmente torce para que ela desista e vá embora logo.

— Olha pra mim! — diz furiosa, derrubando o caderno de anotações com um tapa, assustando aos garotos que assistem tudo em silencio, e surpreendendo a garota que levanta o olhar lentamente. — E não faz essa droga de olhar pra mim, você me deve uma explicação! — grita, vendo uma pequena variação através de uma breve falha em sua falta de expressão.

Os garotos direcionam o olhar confuso dela para a líder da equipe, temendo sua reação, e se perguntando se seriam capazes de impedi-la. Mesmo Drake, que aprecia uma boa confusão alheia, sabe que isso é potencialmente perigoso.

— Gostando ou não você faz parte da minha equipe, não me obrigue a te matar! — avisa, a voz calma tornando sua a ameaça ainda mais assustadora e implacável enquanto se abaixa para pegar o caderno.

Isis a encara ainda mais furiosa, aceitando que só há uma maneira de arrancar algo dela.

— Eu gostaria de te ver tentar — diz derrubando o caderno novamente.

Ela ajeita a postura lentamente, voltando à atenção a garota que se coloca de pé a sua frente, e a encara de maneira desafiante. Como sair dessa situação sem ter que mata-la? Uma surra, talvez? Cumprirão a missão amanhã, e um membro incapacitado deixaria a equipe em desvantagem. Além disso, não tem realmente vontade de machucar seus subordinados, esse não é o tipo de líder que deseja ser, embora eles realmente estejam implorando por isso.

Lendas de Sahra - UnificaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora