Palavras.

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Era madrugada, e a casa estava silenciosa

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Era madrugada, e a casa estava silenciosa. Jisung estava deitado na cama, com o celular pressionado contra a orelha enquanto falava baixo para não acordar ninguém. A conversa com Yunho, que havia começado de forma casual, tinha se estendido muito mais do que ele esperava. Yunho era fácil de conversar, e Jisung, ainda que relutante no início, acabou se sentindo confortável o suficiente para deixar a conversa fluir.

"Você tem uma visão interessante sobre isso," Jisung comentou, rindo baixinho depois de ouvir a opinião de Yunho sobre um filme que ambos tinham assistido. "Mas, sinceramente, Minho nunca concordaria com você."

"Ah, Minho," Yunho disse, com uma risada leve. "Ele parece ser bem protetor com você, né?"

Jisung hesitou por um segundo, o sorriso vacilando. Ele sabia que Minho era ciumento, mas ouvir isso de outra pessoa sempre o deixava um pouco desconfortável. "É só o jeito dele. Ele se preocupa comigo, só isso."

"Entendi," Yunho respondeu, o tom mais sério agora. "Não me leve a mal, Jisung, mas você não acha que às vezes ele... exagera um pouco? Tipo, ele meio que te limita."

Jisung franziu o cenho, sentado na cama. Ele não esperava que a conversa tomasse esse rumo. "Não é assim," ele respondeu, um pouco defensivo. "Minho é intenso, mas ele nunca me impede de fazer nada. Ele só... tem um jeito próprio de mostrar que se importa."

"Desculpa se fui direto demais," Yunho disse rapidamente, o tom mais leve. "É só que, às vezes, eu acho que você merece um pouco mais de espaço, sabe? Você parece alguém que precisa de liberdade."

Jisung ficou em silêncio por um momento, processando as palavras. Ele não sabia exatamente como responder. Parte dele sabia que Minho podia ser um pouco sufocante às vezes, mas outra parte entendia que isso vinha do medo de perder o que tinham. E, no fundo, Jisung também tinha medo disso.

"Eu acho que Minho e eu estamos tentando achar nosso equilíbrio," Jisung disse, finalmente, a voz baixa. "É complicado, mas a gente tá lidando com isso."

"Claro," Yunho respondeu, com um tom compreensivo. "Eu só quero que você saiba que, se precisar conversar ou desabafar, eu tô aqui. Sempre."

"Obrigado, Yunho," Jisung disse, sincero. Apesar do desconforto com a direção da conversa, ele apreciava o gesto.

Do lado de fora do quarto, Minho estava parado no corredor, com os braços cruzados. Ele tinha ido até o quarto de Jisung para perguntar algo trivial, mas parou ao ouvir a voz de Jisung em uma ligação. No começo, não achou que fosse nada, mas, ao ouvir o nome de Yunho mencionado, ele ficou ali, sem querer, ouvindo partes da conversa.

As palavras de Yunho sobre Minho "exagerar" e "limitar" Jisung ficaram martelando na cabeça dele. Ele sabia que era possessivo às vezes, mas ouvir alguém apontar isso diretamente fazia o sentimento de insegurança crescer.

Sem fazer barulho, Minho voltou para o próprio quarto. Ele se jogou na cama, encarando o teto. A ideia de Jisung conversando com Yunho no meio da madrugada o incomodava, mas o que mais o perturbava era a possibilidade de Jisung concordar com o que Yunho havia dito.

Na manhã seguinte, Minho estava mais quieto do que o normal. Quando Jisung chegou à escola e se sentou ao lado dele, Minho sequer olhou diretamente para ele.

"Você tá estranho hoje," Jisung comentou, inclinando-se para ver o rosto dele. "O que foi?"

"Nada," Minho respondeu, seco. "Só não dormi bem."

Jisung franziu o cenho, mas decidiu não pressionar. Ainda assim, ele sentia que algo estava errado. Mal sabia ele que, no fundo, Minho estava lidando com o ciúme e o medo de perder seu lugar para Yunho — um medo que ele jamais admitiria tão facilmente.

[...]

A manhã seguiu tensa entre os dois. Jisung percebia que Minho estava distante, mas não sabia como abordar o assunto. Ele preferiu dar espaço, esperando que Minho eventualmente se abrisse. Durante o intervalo, porém, a situação ficou mais evidente.

Jisung estava sentado com Yunho, rindo de algo que o garoto havia dito, enquanto Minho observava de longe, encostado em uma parede. Ele apertava o copo de suco com força, tentando ignorar o nó crescente em seu estômago.

"Você vai ficar aí encarando ou vai lá falar com ele?" Hyunjin, sempre intrometido, apareceu ao lado de Minho, cruzando os braços.

"Eu não tô encarando," Minho respondeu, seco.

"Claro, e eu sou invisível. Minho, sério, você tá piorando as coisas ficando nessa defensiva. Vai lá e fala com o Jisung. Ou melhor, fala o que você tá sentindo, porque esse seu ciúme tá ficando insuportável até pra mim, que nem tem nada a ver com isso."

Minho bufou, mas sabia que Hyunjin tinha razão. Ele estava irritado, sim, mas, mais do que isso, estava assustado. A ideia de Jisung se aproximando de outra pessoa, mesmo que só como amigo, mexia com ele de um jeito que ele não sabia lidar.

Depois da aula, Jisung estava guardando seus materiais quando Minho se aproximou.

"Você tem um tempo agora?" Minho perguntou, a voz mais séria do que o habitual.

"Tenho," Jisung respondeu, fechando a mochila. "O que foi?"

"Vem comigo," Minho disse, puxando Jisung pelo braço antes que ele pudesse protestar.

Eles foram até a quadra da escola, que estava vazia naquela hora do dia. Minho soltou o braço de Jisung e cruzou os braços, olhando para ele com uma mistura de frustração e algo mais suave que Jisung não conseguiu decifrar.

"Tá tudo bem com você? Porque, desde ontem, você tá agindo estranho," Jisung começou, quebrando o silêncio.

Minho respirou fundo antes de responder. "Eu ouvi você falando com o Yunho ontem à noite."

Jisung arregalou os olhos, surpreso. "Você ouviu? Minho, você tava me espionando?"

"Eu não tava espionando," Minho respondeu, defensivo. "Eu só fui até o seu quarto e ouvi sem querer."

Jisung passou a mão pelos cabelos, tentando processar. "Tá, e daí? Por que isso te deixou assim?"

"Porque eu ouvi ele falando sobre mim. Sobre como eu sou 'limitador', ou seja lá o que ele quis dizer com isso," Minho respondeu, a voz subindo um pouco. "E você não discordou."

"Minho," Jisung começou, mas Minho interrompeu.

"Eu sei que sou ciumento. Eu sei que às vezes sou demais. Mas eu me importo com você, Jisung, e é assim que eu mostro. E, sei lá, ouvir ele falando aquelas coisas e você nem defendendo... me deixou pensando se talvez ele esteja certo. Talvez eu realmente esteja te prendendo."

Jisung olhou para Minho, a frustração sendo substituída por algo mais suave. Ele suspirou e deu um passo mais perto.

"Minho, eu não discordei porque... ele não tá completamente errado. Você é intenso, e às vezes isso me sufoca. Mas isso não significa que eu não goste de como você é," Jisung disse, a voz baixa. "Eu gosto de você, Minho. Com todo o seu jeito complicado. E eu não quero que você mude quem você é só por causa de alguma coisa que o Yunho disse."

Minho ficou em silêncio, olhando para Jisung. Ele não sabia o que dizer.

"Mas você precisa confiar em mim," Jisung continuou. "Yunho é só um amigo. Ele não vai mudar nada entre a gente, a menos que você deixe."

As palavras de Jisung pareceram acalmar Minho. Ele assentiu lentamente, respirando fundo.

"Tá. Eu vou tentar. Prometo," Minho disse, com um pequeno sorriso. "Mas se ele passar dos limites, eu não vou ficar parado."

Jisung revirou os olhos, mas sorriu. "Você é impossível."

"E você gosta assim," Minho respondeu, abraçando a cintura de Han e beijando sua bochecha.

Naquele momento, as inseguranças de Minho ainda estavam lá, mas a honestidade de Jisung havia ajudado a diminuir o peso. Eles tinham muito o que aprender juntos, mas, por enquanto, o simples fato de estarem ali, um com o outro, era suficiente.

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