Você espera viver uma vida longa e feliz. Ver seus pais ficando velhos, os seus filhos correndo pela casa e sendo mimados por eles. Você quer chorar as suas mágoas amorosas para a sua mãe, você quer ser sustentada como deve ser pela figura materna, você quer ser apegada à ela, mostrar seus cabelos brancos e contar os dela - já incontáveis em sua cabeça completamente branca -, você quer sorrir e agradecer por ser uma pessoa formada em uma profissão que ela apoiou até o fim.
Pode acontecer, porque você nunca espera que seus pais morrem tão jovens, mas nada disso vai acontecer comigo.
Minha mãe, Claire Green, faleceu em um acidente de carro. Foi tudo tão terrível que seu caixão teve que ser lacrado. Eu não ia querer vê-la, de qualquer modo. Era muito importante para mim ter a imagem da minha mãe de quando ela estava viva.
Eu implorei para que meu pai, Joseph Turner, me deixasse morar sozinha naquela casa onde um dia eu vivera com a minha mãe, mas não era legalmente aceitável então ele não poderia me dar essa opção nem se quisesse. Por um lado eu estava aliviada porque teria medo de ficar sozinha, não por medo de uma possível aparição fantasma da minha mãe, mas de estupradores, assaltantes e todos esses perigos sólidos.
Meus pais eram separados desde que eu estava na barriga da minha mãe. Ela foi embora e só contou ao meu pai sobre mim quando eu já estava do outro lado do país nos braços dela. Pouco vi meu pai devido a distância e muito pouco sabia sobre ele além do que ouvia com ligações.
Estava chateada por ter que começar uma nova vida ao lado de quem eu nem conhecia direito, que não tinha uma intimidade e que não tinha confiança. Apesar de ser meu pai, era alguém que eu mal vira em minha vida e que agora teria que conviver com ele todos os dias - pelo menos até me formar no ensino médio.
Deixei meus poucos amigos para trás e respirei fundo, tomando consciência de que algo me esperava longe dali. O frio na barriga quando o avião decolou foi incômodo. Por que eu estava tão nervosa? Era só meu pai, ele não me faria mal algum. Identifiquei que não era medo, talvez um pressentimento...
Meu pai não se casara novamente, assim como minha mãe. Ele era um quarentão solteiro que vivia em uma boa casa. Passava boa parte do tempo no trabalho, não tinha outros filhos e era isso que eu sabia dele. Se passaria seu tempo no trabalho, isso significava que eu passaria as tardes sozinha.
A ponta de meus dedos estavam brancas pelo contato com o papel fino entre meus dedos que eu apertava com força. Olhei para ele e lá estava uma foto de minha mãe sorridente. Ela me abraçava de lado e eu sorria tanto quanto ela. Eu me lembrava bem desse dia, era meu aniversário de dez anos.
Flashback
Eu estava feliz que minha mãe tinha conseguido me dar a festa que havia pedido tanto.
Os jardins de casa estavam repletos dos balões coloridos, a mesa estava abarrotada de comida, os brinquedos infláveis estavam recheados de crianças da minha escola e da rua.
Acho que nunca estive tão feliz em toda a minha vida.
Depois da foto, minha mãe ergueu os braços e anunciou:
- Hora do parabéns!
As crianças correram na direção do bolo e eu fiz o mesmo, ficando atrás com minha mãe em meu encalço. À minha frente estavam todos os meus amigos, felizes por me verem feliz.
Uma vela de número 10 foi acesa e logo o jardim foi tomado pelo estrondo de palmas e gritos em um parabéns agitado. Eu não sabia muito bem o que fazer, estava corada e batia palmas de forma tímida. Quando me foi instruído, eu assoprei a vela e todos foram ao delírio.
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O Garoto de Laboratório
Mystery / ThrillerMegan Green se muda para a casa de seu pai assim que sua mãe vem a falecer. Na nova cidade misteriosa, ela vai descobrir um pouco mais sobre sua história e segredos serão desvendados. Um psicopata passa a persegui-la e ela tenta descobrir o porquê e...