O Garoto de Laboratório

Tredecim

Não comentei com meu pai sobre os acontecimentos sobrenaturais, não queria ser internada em um manicômio judiciário. Não tinha como provar nada do que havia acontecido e tinha certeza que minha mente cansada criava aquele tipo de situação.

Quando me sentei no café, tentei disfarçar o cansaço pelas noites em claro desde os últimos acontecimentos naquela casa, mas meu pai já não parecia muito interessado em mim ultimamente e o motivo tinha nome, sobrenome e estava frequentando nossas refeições mais vezes que o necessário.

- Bom dia, Meg! - Saudou Phoebe e eu retribui com um sorriso amarelo.

Eu não gostava de ser chamada de "patroinha", mas havia uma ameaça ali! Eu não sabia nada sobre essa mulher, não tinha como aprová-la ou não para meu pai. Em pensar que fora eu quem plantara a semente dessa possível relação na cabeça dele.

- Responda, Megan. - Meu pai ordenou.

Olhei desacreditada na sua direção e encontrei o seu olhar repreensor na minha direção. Era sério? Por que meu pai estava tendo aquele tipo de atitude? 

Sem querer criar caso, respondi à empregada de meu pai - ou a sua auxiliar, como ele costumava chamá-la.

- Tô atrasada. - Disse de mal gosto, sem humor para engatar uma conversa.

Não estava nem um pouco atrasada, mas meu pai estava preocupado demais fingindo que lia seu jornal matinal. Ultimamente ele estava se tornando um completo babaca e eu também não estava no meu melhor humor.

Ele me desejou uma boa aula e, por cima do ombro, pude ver quando Phoebe se sentou à mesa com ele. Mas que merda era aquela? Por que eu estava criando tanto caso? Um novo amor, que eu não faço ideia das origens e bagagens, poderia fazer tão mal ao meu pai? Pensar estava fazendo minha cabeça latejar e aquele era só o começo do dia, então poupei meus neurônios para as aulas que viriam.

Eu decidi bloquear os números de Owen e Olivia depois das desculpas esfarrapadas que recebi, afinal "não pude evitar" não poderia ser tratado muito bem como uma desculpa, mas como uma canalhice. Apenas deixei que Kiam permanecesse para caso ele precisasse de suporte. De qualquer modo, Kiam não voltou a me contatar e eu não fiz questão de ir atrás pelo simples fato de temer lhe trazer mais dor. A verdade era que ele amava Olivia muito mais do que um dia eu havia amado Owen, seria um erro sequer fazer uma comparação de sentimentos ali.

A música tocava alto na rádio e minha voz acompanhava a de Elle King.

Ex's and the oh, oh, oh's they haunt me

(Ex's e os oh's, eles me assombram)

Like ghosts they want me to make 'em all

(Como fantasmas, eles me querem para transformá-los)

They won't let go

(Eles não vão me deixar)

Ex's and oh's

(Ex's e os oh's)

Entrei no estacionamento do colégio e estacionei ao lado do Volvo de Logan. Pelo retrovisor notei Paolo e Lydia conversando próximos demais e senti uma pontada de ciúmes. Saí do carro e bati a porta com força. Eu não tinha o direito de ter ciúmes.

Quando me virei para sair triunfante e pisando duro para a sala de aula, fui impedida pela minha bolsa presa na porta e logo meus livros estavam espalhados pelo chão do estacionamento. Que tipo de otária não fechava a mochila? O meu tipo.

Me abaixei e, antes que eu terminasse de recolher todos os livros, mãos masculinas me estenderam os livros que faltavam. Quando encontrei os lindos olhos azuis de Paolo tudo pareceu ser esquecido. É claro que eu esperava que fosse Logan a me ajudar, mas com uma breve espiada pelo canto do olho vi que ele falava com alguma garota. Era o dia de deixar a Megan com ciúmes? Ele nem sequer parecia ter notado que eu precisava de ajuda. Quer dizer, eu estava ao lado dele! Talvez ele estivesse esperando pela garota e não por mim. Tolice a minha em pensar que Logan poderia sentir algo por mim. Era só uma ficada, uma noite e eu tinha que seguir em frente.