Quinque

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A sombra do lado de fora não esboçou nenhuma reação de pânico ou de que tentaria fugir. Apenas ficou parado, provavelmente me fitando. Não poderia dizer com certeza, porque não conseguia ver seu rosto.

Por que ele não corria? Por que não sacava uma arma e atirava em mim? Ele tinha uma arma? Seria ele um criminoso? Por que ele não quebrava o vidro e vinha me estrangular? Por que meus pensamentos rondavam apenas a minha morte? Talvez por ser mais provável que isso aconteceria a qualquer momento, mas não aconteceu.

Meu grito cessou e logo todos haviam chego ao andar de baixo. A luz iluminou primeiro a sala de jantar e então a cozinha. Desviei meu olhar por um segundo e quando voltei para a janela a sombra já não estava mais ali.

- Megan, o que aconteceu? - Meu pai perguntou, a preocupação notável em seu tom de voz.

Meu braço estava erguido, o dedo indicador apontava para a direção onde a maldita sombra se encontrava antes. Ele deveria estar ali! Apenas não estava mais sombreado porque as luzes estavam acesas.

Caminhei a passos largos em direção as cortinas, sentindo o medo crescente em meu peito e ignorando os olhares curiosos tanto de meus amigos quanto de meu pai. Abri as cortinas de uma vez só esperando encontrar um olhar ou um sorriso assassino, mas nada havia ali. A piscina lá fora estava límpida e calma, os muros não estavam sujos de uma recém escalada e ninguém o escalava.

Eu estava tendo alucinações? Balancei a cabeça em negação, esfregando o rosto com as mãos com força. Eu estava ficando louca, só poderia ser isso. A morte da minha mãe havia me deixado louca. Ou será que o ar daquela cidade tinha alguma substância química que...

- Megan! - Meu pai gritou para chamar minha atenção. Acredito que ele estava me chamando enquanto eu me perdia em pensamentos. Ele se aproximou quando meu olhar encontrou o seu. - O que você viu? - Perguntou, acariciando meus cabelos.

- Um rato. - Menti.

- Ah Meg! - Kiam esbravejou e eu pude ver Olivia dar uma cotovelada na sua costela.

- Vamos pra cama. Amanhã damos um jeito, OK? - Disse meu pai, tocando meu braço.

Eu assenti e levei meu olhar até meus amigos. Kiam ainda estava irritado comigo e já se virava para voltar para seu quarto. Olivia me olhava com pesar, me oferecendo a mão. Já Owen parecia preocupado com minha sanidade. Eu não faria esse alarde todo por causa de um rato e ele sabia muito bem disso.

Engoli em seco e peguei a mão de Olivia, voltando para meu quarto, mas não sem antes trocar um último olhar cheio de significados com Owen.

Já deitada em minha cama com a minha amiga, com os olhos devidamente fechados tentando pensar em tudo menos na maldita sombra corpulenta, ouvi uma voz masculina ao meu lado me fazendo pular e, antes que eu pudesse gritar, seu mão tapou minha boca. Quem eu encontrei ao meu lado foi Owen.

- O que foi? - Sussurrei com urgência. - Quer me matar?

- Não foi um rato. - Não era uma pergunta.

Dei de ombros.

- Tanto faz, Owen. - Franzi os lábios.

- Quer conversar? - Perguntou enquanto eu voltava a deitar minha cabeça no travesseiro, olhando para o teto.

- Não. Não se preocupe. - Me virei de costas para ele.

Então tudo ficou silencioso e pensei que ele já havia saído. Eu quase caía no sono quando sua voz masculina voltou a soar me fazendo pular na cama novamente pelo susto.

- O chão tá muito ruim. - Reclamou e sabia que ele havia feito um bico.

- Owen, sai daqui. Se meu pai pegar você, vai arrancar seu órgão reprodutor. - Me virei para ele, me apoiando com o antebraço na cama para falar.

O Garoto de LaboratórioOnde histórias criam vida. Descubra agora