Septendecim

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Quantas vezes você já não sonhou que estava caindo e acordou assustado? Quantas vezes não se sentiu aliviado por ser só um pesadelo? Mas daquela vez eu estava em queda livre e não era só um sonho. Por mais que ouvisse vozes me chamarem e meus olhos estarem muito bem abertos, eu não conseguia voltar, algo mais forte me puxava para o torpor no qual eu me encontrava.

- O que você fez com ela? - A voz de um Paolo furioso preencheu a sala.

- Eu não fiz nada! Ela atendeu o celular e desmaiou! Agora tá assim, em choque! Eu não sei o que ela ouviu, não consegui falar com a pessoa do outro lado da linha e não consegui retornar. - Logan tentava se explicar e parecia estar desesperado.

- Os dois! Se acalmem! - Uma voz feminina, que eu reconheci ser de Lydia, se sobressaiu.

Eu precisava acordar, eu precisava voltar, eu não poderia ficar daquele jeito para sempre. Mais do que tudo eu precisava ir atrás dos meus amigos desaparecidos. Gemi e tentei me levantar, fazendo meus olhos focarem em outro ponto que não fosse o teto branco do que me parecia ser a enfermaria. Por um momento tudo ficou em silêncio, até mesmo respirações não poderiam ser ouvidas, e eu franzi o cenho. Eu havia imaginado meus amigos ali?

- Querida? - Uma voz angelical me chamou e naquele momento eu achei que tinha morrido.

Quando meus olhos focaram na figura que havia me chamado, notei que uma mulher em seus quarenta e tantos anos me olhava com doçura.

- Eu só quero examiná-la. - Ela mostrou o estetoscópio.

Apenas assenti e deixei que ela me examinasse. Enquanto ela o fazia, vi que meus amigos esperavam um pouco atrás dela, ansiosos. Paolo tinha a expressão fechada, Lydia estava tão preocupada quanto Logan e este estava mais afastado dos dois.

- Ela vai ficar bem? - Logan perguntou quando a enfermeira de afastou de mim.

A enfermeira não o respondeu e voltou a olhar pra mim agora com a expressão carrancuda.

- Você se alimentou? Sofreu algum tipo de estresse? - Questionou, voltando a me examinar.

Então eu me lembrei que não comia há um bom tempo e o excesso de informações que havia recebido estavam ajudando em muito para que aquele desmaio tivesse acontecido. 

Balancei a cabeça em negação em resposta à sua pergunta e senti a vertigem me tomar aos poucos. Me obriguei a ficar sentada, segurando fortemente na maca em que me encontrava. A mulher assentiu uma vez e se virou para os meus amigos.

- Aconselho que a levem para o refeitório e a façam comer. - Ordenou a mulher e os três assentiram prontamente.

- Muito obrigada. - Logan agradeceu à ela e recebeu um sorriso como resposta. - Vamos, Meg.

Antes que eu pudesse protestar, Logan havia colocado um de seus braços atrás de meu joelho e o outro nas minhas costas, me erguendo. Pisquei diversas vezes, me obrigando a rir e chamando sua atenção.

- Exibido. - Paolo murmurou.

- Você tá pesada, dona Megan. - Ele brincou.

Por mais que ele estivesse brincando era como se uma luz vermelha de alerta tivesse se acendido na minha cabeça. Comecei a me remexer em seus braços para que ele me soltasse.

- Eu sei andar. - Resmunguei.

Ele analisou minha expressão e me deixou no chão sem contestar. Não era hora para se discutir, mas ele tinha que entender que algumas brincadeiras tinham limites.

Caminhei até o refeitório que se encontrava vazio agora e me sentei em uma das mesas enquanto os três resolviam o que eu deveria comer, fazendo um prato gigantesco para mim. Tive vontade de rir e revirei os olhos quando Paolo sentou ao meu lado e fez um aviãozinho com o garfo.

O Garoto de LaboratórioOnde histórias criam vida. Descubra agora