Quindecim

679 68 63
                                    

Logan me alcançou facilmente no almoço. Eu tinha dificuldade para andar entre os alunos que vinham na contramão e isso facilitou para ele que me encontrasse em meio aos meus esbarrões. Sua mão tocou a minha e eu o olhei de imediato, pronta para lhe resmungar um palavrão já que meu humor não andava às mil maravilhas, quando vi seus olhos sedutores me fitando.

- Eu não... - Ele mordeu o lábio inferior antes de continuar. - Queria me desculpar pelos problemas que causei à você e ao... Scopelli.

- Tá tudo bem, Logan. - Murmurei sem vontade, abraçando meus livros contra o meu corpo e fitando qualquer outro ponto que não fosse seu rosto angelical.

- Meg. - Quando eu não o olhei, ele fez questão de puxar meu rosto na sua direção e assim pode olhar nos meus olhos. - Eu queria, mas não tenho culpa se o Paolo pensa que tem propriedade sobre você.

Eu não sabia bem qual reação esboçar, acho que minha expressão foi algo como desacreditada.

- Você é inacreditavelmente ridículo. - Balancei a cabeça em negação e saí a passos largos na direção dos jardins.

Antes que eu chegasse ao meu destino, a mão masculina puxou meu braço e nossos corpos se colaram de modo que ficou difícil me separar de imediato. Eu o olhava por baixo dos cílios e pude notar seus lábios entreabertos e convidativos tão próximos. Com a recuperação da minha sanidade, me separei dele tentando olhar para qualquer outro ponto.

- Antes de fugir, pare pra pensar um minuto: ele fez uma cena dessas porque nós quase nos beijamos dentro do carro. Quem é o ridículo e deve desculpas à você? - Ele tinha uma sobrancelha erguida e eu tive que concordar com aquela cara convencida e linda. - Não é como se vocês nunca tivessem ficado.

Eu sabia que a última parte ele queria que fosse mentira, mas eu não poderia mentir. Talvez omitir fosse o suficiente para ele perder as expectativas de que eu não fosse me render às tentações da carne. 

Seu pigarro quebrou o silêncio enquanto o via enfiar as mãos no bolso e olhar para qualquer ponto menos interessante.

- De qualquer modo, eu não vim aqui falar sobre isso. - Continuou quando percebeu que eu não tinha muito a falar como ele esperava. - Por que não passa lá em casa hoje? Podemos passar a tarde juntos. - Deu de ombros.

Talvez em outros garotos aquela frase tivesse segundas intenções, mas não quando se tratava de Logan. Ele parecia tão puro e digno.

- Claro. Passo lá depois de levar o carro pra consertar. - Fiquei na ponta dos pés e colei meus lábios no seu rosto.

Quando me afastei ainda conseguia sentir o formigamento que a sua barba por fazer havia me causado.

Não conseguia esperar o sinal da última aula, por isso fui ao banheiro antes mesmo que ele soasse. Eu logo havia me aliviado e nenhum acontecimento sobrenatural tinha se consumado. Lavei minhas mãos e ouvi um outro ruído que não vinha da água. Desliguei a torneira e ouvi um soluçar seguido de gemidos como se alguém estivesse chorando. Uma das cabines estava fechada, mas não pude ver pés ali.

- Olá? Precisa de ajuda? - Chamei e o choro cessou. - Tá tudo bem? - Tentei mais uma vez e nada.

Dei de ombros e me virei para o espelho. Através do reflexo, eu pude ver pés na parte de baixo da cabine e eles não eram femininos. Os mesmos sapatos sociais do outro dia estavam ali, pés masculinos. Senti cada músculo do meu corpo se retesar e o ar me faltou aos pulmões.

- Quem tá aí? Isso aqui é um banheiro feminino! Eu vou chamar a inspetora! - Gritei, mas tremia como nunca na vida.

Meus dedos apertavam o mármore da pia atrás de mim com tanta força que quase era possível fundir-nos. O soar do sinal me sobressaltou e quando meus olhos voltaram a cabine já não havia mais nada.

O Garoto de LaboratórioOnde histórias criam vida. Descubra agora