Decem

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Eu poderia não ter ouvido o tagarelar de Lydia sobre o brechó que estava acontecendo em um bairro afastado do meu, mas ela fez questão de encher meu celular de mensagens me lembrando a cada maldito segundo que passava que ela estaria em minha casa cedo no sábado para que pudéssemos pegar as coisas boas. Deveria ser crime acordar cedo no sábado. No entanto não me incomodei já que a insônia me rondava muito nos últimos tempos.

Não quis fazer a patricinha mimada e fui de bom grado na sua direção quando ela buzinou com seu New Beetle estacionou na frente de casa. Uma música badalada tocava dentro do carro. Como ela poderia estar tão animada àquela hora da manhã?

- Bom dia! - Gritou enquanto eu me encolhia no banco, ajeitando os óculos escuros.

- Bom dia. - Murmurei.

- Credo, que mau humor... - Reclamou, ligando o carro. - Vamos fazer compras! Animação! - E lá foi ela cantar enquanto aumentava o volume do rádio.

Fui em silêncio o caminho todo enquanto Lydia parecia não se abalar com meu mau humor pós dias sem dormir direito e pós loucuras dos cidadãos que habitavam ali. Eu não ia fingir felicidade e bom humor. Eu merecia aquele momento e Lydia estava merecendo o meu silêncio por estar me tirando de meu habitat quando eu precisava de paz e sossego.

Quando estacionamos em frente ao bazar, vi que estava errada ao pensar que encontraria trapos. As roupas pareciam todas em muito bom estado, assim como as joias ali. O preço era salgado, mas era justo. Lydia parecia conhecer a dona do bazar, mas estava encantada demais com os brilhantes que haviam ali.

Parei em frente à um vestido vermelho, me distanciando do resto as mulheres que estavam ali. Percebi que ele deixava as costas nuas, ficando perfeitamente colado ao corpo e desejei estar dentro dele.

- Prova. - Uma voz feminina falou por cima do meu ombro e eu me sobressaltei.

Uma mulher, que parecia ter idade suficiente para ser minha mãe pelo modo como se vestia, estava parada atrás de mim. Um sorriso pintava seus lábios cheios e vi o quão linda ela era, se assemelhando à Naomi Campbell. Se não fosse pelas roupas, eu jamais acharia que ela fosse tão mais velha do que eu.

- Ahn... Hm... Eu... Posso? - Gaguejei, desconcertada pela beleza da mulher à minha frente.

Seu sorriso aconchegante e o balançar de sua cabeça foi o suficiente.

- Mas... Onde? - Franzi o cenho, procurando uma tenda ou o que quer que fosse.

Sua mão se apoiou na base da minha coluna enquanto ela me guiava na direção da casa em frente ao bazar que parecia tão acolhedora quanto seu sorriso. Provavelmente ela era a dona e só tive certeza quando entrei na casa. Um enorme quadro dela vestida de noiva era a primeira coisa a se ver. Ao seu lado estava o noivo, tomando-a pela cintura enquanto ela gargalhava. Não pude esconder um sorriso quando os vi.

- É uma linda foto. - Comentei, permitindo uma olhada em volta para notar que era tão acolhedora por dentro quanto parecia ser por fora. - E uma casa igualmente bonita.

Quando encontrei seus olhos, ela ainda sorria. Parecia que seus lábios estavam costurados daquela forma. Me limitei a forçar um sorriso tímido. Peguei o vestido de suas mãos e me afastei até estar no centro da sala de estar.

- Me chame quando finalizar. - Pediu, me deixando sozinha ali.

Respirei fundo e tentei não pensar no quão estranho aquilo parecia.

Fiquei de frente para o canto da parede para tornar aquilo menos constrangedor possível. Tirei primeiro minha blusa, abrindo o sutiã em seguida para poder ter uma ideia de como ficaria. Abri meu short e deixei que ele escorregasse de qualquer jeito pelas minhas pernas. E lá estava eu, apenas trajando uma calcinha constrangedora no meio da sala de uma estranha.

O Garoto de LaboratórioOnde histórias criam vida. Descubra agora