Undecim

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Me levantei de imediato, tapando um lado da orelha com uma mão para evitar que qualquer ruído interferisse na compreensão do assunto. A ligação estava ruim pelo mal tempo e pela distância, e ainda tinha o som dos trovões e das gotas se chocando com força contra a casa.

- Kiam, se acalme! O que aconteceu? - Andei de um lado a outro, tentando arrumar um canto do quarto onde a ligação ficasse em perfeito estado.

- Eu estava em casa e Olivia não atendia minhas ligações ou respondia minhas mensagens. Você sabe como eu sou preocupado e fui até a casa dela. Maldita hora! - Rosnou, mas ainda podia ouvi-lo choramingar.

- Onde o Owen entra nessa história, Kiam? - Insisti para que ele continuasse.

- Droga, Megan! - Ouvi ele bufar, mas acho que estava mais pra uma respiração funda. Ele estava nervoso e fazia o máximo para não descontar em mim.

- A ligação tá ruim! - Falei mais alto, achando que ele havia dito algo a mais.

- Espere! - E mais um bufar. - Eu entrei na casa dela com a chave que sempre fica no vaso ao lado da porta, porque ninguém atendeu quando eu bati na porta, subi as escadas e quando abri a porta do quarto encontrei Owen em cima de Olivia e ele não estava fazendo flexões!

Eu teria rido do seu comentário se a informação não tivesse me atingido em cheio. Owen e Olivia estavam tendo um caso. A mesma Olivia que dizia amar Kiam com todo o seu ser.

Apesar de não ter algo fixo com Owen, ele havia sido meu primeiro sexo e o que passamos era, de fato, o que um casal normal passava, só não éramos oficializados. Um aperto em meu peito e um nó na garganta anunciaram a chegada de lágrimas.

Um trovão me despertou e eu voltei à realidade.

- Kiam, eu sinto muito... - Sussurrei.

- Eu vou matar eles! Eu juro que vou! - O choro havia cessado e agora a raiva tomava lugar.

- K, não faça nenhuma loucura. Ela não vale nada e não merece que você arruíne seu futuro por algo assim. - Um silêncio se fez e, não fosse pela respiração pesada do meu amigo, eu diria que ele havia desligado - Prometa pra mim que você não fará nenhuma besteira.

- Tá. - Murmurou.

- Isso não é "prometo".

- Depois a gente se fala.

E desligou antes que pudesse continuar a colocar sua cabeça no lugar.

Fiquei apenas encarando o aparelho à minha frente, sua tela já escura e bloqueada. Paolo estava em minha frente, seu indicador levantou meu queixo para que eu encarasse seu rosto curioso. 

Não percebi que tinha chorado até que seu polegar enxugou algumas lágrimas. Funguei uma vez, me afastando para sentar na minha cama. Paolo não se demorou a sentar em minha frente, mas não disse nada, apenas tocou minha mão entre as suas e eu percebi o quanto minha mão estava fria quando as suas quentes me esquentaram.

Eu não deveria estar assim por causa de Kiam e Olivia. É claro que eram meus amigos e eu não esperava que a garota fizesse isso com ele. Na verdade, esperava que eles vivessem juntos pra sempre. Mas eu sabia que não estava assim por causa do casal de amigos. Sabia que grande parte desse sentimento de tristeza que eu carregava era devido a uma única pessoa e tudo o que ela representou para mim um dia. Talvez, no fundo do meu ser, eu esperasse que acabaríamos como Kiam e Olivia, mas agora tudo estava arruinado. Parecia que tudo o que era certo para mim estava de cabeça para baixo. Nada mais fazia sentido na minha vida.

- Eu posso te fazer uma sugestão? - Perguntou Paolo, atraindo meu olhar antes fixo em nossas mãos. Ele agora parecia apreensivo e eu apenas assenti, limpando as lágrimas teimosas. - Eu sei que você pode não aceitar, mas eu não quero que você fique em casa, chorando por qualquer motivo que seja que tenha te magoado com essa ligação e...

O Garoto de LaboratórioOnde histórias criam vida. Descubra agora