- Pizza! - falei.
- É uma ótima opção, mas não temos os ingredientes para fazer.
- O mercado fica aqui do lado, será que dá para irmos lá?
- Hm, acho que dá sim.
- Sabe que horas fecham?
- Pior que não. Mas a recém são 18:00.
- Então, vamos lá?
- Vamos.
Entrando no mercado, nos sentimos como crianças em loja de doces, queríamos levar praticamente tudo.
Avistei um repolho.
É, quase tudo.
- Ei, Tomas. O que quer na sua pizza? - ela perguntou.
Dei uma olhada para ver se tinha algo que chamasse a minha atenção.
- Acho que só queijo, molho de tomate e calabresa. - afirmei.
- Jura? - ela perguntou.
- Por que?
- Isso é tão simples.
- É? Então o que você quer na sua pizza?
- Sei lá, talvez um pouco de molho de tomate, presunto, calabresa, quem sabe até picanha, coração e é claro, não esquecendo do queijo.
- Vamos fazer o seguinte. - propus.
- O que?
- Você faz a minha pizza, e eu faço a sua.
- Fechado.
Apertamos as mãos.
Sua mão era macia e suave, que nem meu ursinho. Isso é, se eu tivesse um. E é claro que eu não tenho.
- Vai pegando seus ingredientes que eu pego os meus. - ela disse.
- Beleza, nos encontramos no caixa.
- Até lá.
- Até.
Nos separamos.
Fui andando pelos corredores e pegando cada coisa mais estranha que a outra.
- O que é isso? - perguntei segurando uma coisa que sinceramente, parecia-se com a cara enrugada da minha ex vizinha.
- Ah, isso? É gengibre. - disse-me um funcionário.
~ Perfeito. - pensei.
Nem sabia o que era aquilo, mas era bizarro o suficiente para por na pizza da Laura.
Chegando no caixa, vi que a sacola dela estava cheia.
Estava temendo pela minha vida.
Na volta para a casa, perguntei:
- O que você comprou?
Ela olhou para mim, deu um sorriso e disse:
- Você verá.
Apostamos corrida para ver quem chega primeiro até a porta.
Quem ganhasse iria escolher como fazer a pizza, porém, com os ingredientes escolhidos.
Para a minha sorte, ganhei.
- Uhu. - disse, ofegante.
Mal consegui comemorar. Pensando bem, mal conseguia respirar.
Não tem nada mais cruel do que não poder esfregar sua vitória na cara do adversário.
- Você é bom em muitos sentidos, Tomas. - ela disse, também ofegante.
- Obrigado. - sorri.
Entramos na cozinha e começamos a separar os ingredientes.
- Um polvo? Sério? Você só pode estar zuando comigo. Falei.
Ela riu.
- O que foi? Tem medo de um polvinho? - perguntou-me.
- Você ao menos sabe como preparar um polvo?
- Ah, microondas?
- Claro, microondas.
Rimos.
- Mas, espera. Seus pais também vão comer as pizzas, não vão? - perguntei.
- Ah, é. Tinha esquecido disso.
As únicas coisas normais que tínhamos comprado eram: queijo, presunto, calabresa, requeijão e sei lá, não era muita coisa.
- Mãos à obra. - falei.
Ela pôs a massa em cima da mesa e eu já me adiantei com o molho.
Coloquei em uma colher e comecei a espalhar pela massa.
- Você já fez isso antes? - ela perguntou.
Fiz que sim com a cabeça.
- Aos sábados, minha mãe sempre fazia esse tipo de pizza comigo. - falei.
- Eram boas?
- Uma delícia.
Sorrimos.
Atirei um pouco de molho na cara de Laura.
- Ops. - falei.
- Então vai ser assim? - ela falou tirando o molho dos olhos.
- E você ainda pergunta?
Laura olhou em volta, pegou o polvo e mirou em mim.
- Ah você nã... - levei uma polvada na cara.
Estava na hora da vingança.
Peguei um saco de farinha que havia no armário e perguntei:
- Laura, você quer brincar na neve?
- Não?! - ela disse com os olhos arregalados.
- Que pena, a resposta não era essa.
Atirei toda a farinha em cima dela.
- Sabe, branco combina com você. - falei rindo.
- Tomas.
- Sim?
- Você é um homem morto!
- Ui, que meda! - falei dando um pulinho para trás.
Rimos.
Ela pegou um pote de melado que tinha na geladeira, abriu-o e se aproximou de mim.
- Isso é melado? - perguntei.
- É. E sabe o quê vou fazer com ele?
- Comer?
- Ah, que pena. Sabe, a resposta não era essa.
Laura virou o pote em cima do meu cabelo.
- Agora estamos quites. - ela disse.
- Ok, mas só porquê temos que nos apressarmos para preparar a pizza a tempo. - concordei.
Com as pizzas já cobertas por molho de tomate, só restáva-nos decorar.
- Me passa o queijo? - perguntei.
- Claro.
- Quer quantas fatias?
- Acho melhor o ralarmos.
- Ok.
Peguei o ralador e comecei a ralar o queijo.
- Quer um pedaço? - a ofereci.
- Uhum. - ela falou, pegando-o.
Feitas as pizzas, as colocamos no forno para esquentar.
- Acho que você tá com uma sujeirinha nos dentes. - afirmei.
- Sério?
- Sim, deixa que te ajudo...
Aproximei-me dela, pus meus braços a sua volta e aproximei minha boca a sua...
Vrr... vrr... vrr...
- Só um minuto, Tomas. - ela falou, afastando-me dela.
"Alô?"
- Oi, mãe. Por quê ligou?
"Só queria avisar que vou chegar mais cedo hoje."
- É mesmo? Que horas?
"Não sei ao certo, filha. Acho que daqui a uns 20 ou 30 minutos.
- Ok, tchau.
"Tchau, filha."
Estava completamente sem jeito.
- Ei, Tomas. Relaxa. - ela disse sorrindo.
- Tenho que ir no banheiro, já volto. - falei.
Não precisava ir no banheiro porra nenhuma, só estava muito envergonhado por ter me metido naquela situação.
Entrei no banheiro, tranquei a porta e me escorei na parede.
Respirei fundo.
Passou-se alguns minutos e ouvi alguém batendo na porta.
- Tomas? Está tudo bem?